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Análise do economista Paulo Gala

Todo começo de ano é interessante ouvir as previsões econômicas para o ano que estamos entrando

Edição: 327
Data da Publicação: 08/01/2021

O minério de ferro subiu 75% em 2020. As bolsas americanas estão máxima histórica. O dólar perde valor no mundo por conta de enorme alívio de risco. Vivemos um boom de tomada de risco desde a eleição de Biden e graças a monumentais estímulos monetários, creditícios e fiscais. Esse boom de preços de commodities e ativos financeiros trará mais dólares ao Brasil em 2021.

A moeda brasileira, apesar de valorização recente, tem ainda uma das piores performances do mundo, tornando os ativos brasileiros ainda baratos em dólar. Esse rally que inflou preços de ativos no mundo inteiro continua beneficiando muito o Brasil apesar dos temores fiscais.

Para inflação no Brasil a trajetória mais provável para 2021 é de arrefecimento de preços de atacado com a estabilização da taxa de câmbio no patamar de R$ 5,00. O IPCA deve convergir para a meta de 3,75%. Os IGPs devem voltar para a casa dos 5% ao ano. Os salários seguem muito deprimidos. Com o fim do auxílio emergencial e medidas de estímulo de crédito do BC podemos ter mais desaceleração do PIB.

O consumo e investimento agregados seguem ainda muito deprimidos. Existe ainda grande capacidade ociosa na indústria, no setor imobiliário, no varejo em geral e no mercado de trabalho.

Nosso PIB deve crescer algo como 3% em 2021, abaixo do necessário para recuperar a queda de 5% em 2020. Nesse cenário, o Comitê de Política Monetária deve seguir ainda com taxa Selic na casa dos 2% no curto prazo. Mas é importante ressaltar que estamos no momento com juros reais negativos que podem incomodar o BC.

Os juros extremamente baixos em 2020 deram algum fôlego de retomada ao setor de construção civil via crédito, mas sem aumento consistente de emprego e renda, o movimento não será sustentado.

O câmbio mais desvalorizado continua ajudando a indústria, mas, sem um vigoroso impulso de demanda esse movimento pode se exaurir. O setor de serviços está ainda abaixo do nível pré crise. O varejo físico tem situação dramática. O investimento privado segue em mínimas históricas.

Esse contexto aponta para um cenário ainda benéfico para ativos financeiros graças a juros extremante baixos no Brasil e no mundo.

 

O economista é graduado em Economia pela FEA-USP. Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Foi pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY. É professor de economia na FGV-SP desde 2002. Brasil, uma economia que não aprende é o título de seu último livro.