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Jesus revolucionário e subversivo

Jesus morreu como imoral, escandaloso, desviado, rebelde, desordeiro e herege. E é esse Jesus que tantas vezes, parte da igreja, em nome da ordem, tenta, tenta, tenta esconder.

Edição: 393
Data da Publicação: 15/04/2022

Nessa data tão especial para o mundo cristão - a Páscoa, faço minhas as palavras do professor, cientista social, historiador, teólogo e pastor Henrique Vieira da Igreja Batista do Caminho, na Gávea, Rio de Janeiro. Um dos pastores mais atuais.

"Ser subversivo é executar atos de transformação, ou a derrubada de uma ordem estabelecida. É ser revolucionário. Em uma sociedade patriarcal, as mulheres tiveram protagonismo no movimento que Jesus organizou. Em uma sociedade muito desigual economicamente, Jesus denunciou o acúmulo de riquezas e exaltou os pobres. Numa sociedade de moralismo vazio, Jesus andou especialmente com as pessoas consideradas de 'má fama' e denunciou a hipocrisia dos líderes religiosos. Numa sociedade baseada na vingança, no olho por olho, dente por dente, Jesus ensinou a amar, inclusive os inimigos, e perdoar sempre. Numa sociedade profundamente hierárquica, Jesus exaltou os humildes, disse que os menores serão os maiores, que os últimos serão os primeiros, que a glória mesmo é poder servir ao próximo. Em outras palavras, Jesus implodiu as relações de poder.

Numa sociedade autocêntrica, ou seja, uma sociedade que despreza a infância, uma sociedade chata, indisposta ao riso e à brincadeira, Jesus disse que o reino de Deus pertencia justamente às crianças. Numa sociedade que odiava os estrangeiros, Jesus andou livre e levemente por vários povos e culturas, Ele desconheceu fronteiras. Numa sociedade que tinha uma tradição religiosa conservadora que só se podia encontrar a Deus no templo, Jesus viu a beleza de Deus em todos os lugares, em tudo quanto é canto, disse mesmo que o importante era buscar de coração. Ou seja, Ele retirou poder do templo, retirou poder dos líderes religiosos que queriam ser gerentes do sagrado, Ele democratizou e ampliou a experiência de Deus.

Numa sociedade em que a tradição religiosa estava subordinada ao lucro, Jesus entrou no templo quebrando tudo e disse que ali não era lugar de comércio. Numa sociedade em que alguns territórios valiam mais do que outros, ou que pessoas valiam mais ou menos dependendo de onde moravam, Jesus nasceu na periferia, viveu na periferia e ficou na periferia até o fim, justamente por essas razões, Ele não teve a razão de envelhecer.

Jesus foi preso, torturado e assassinado pelo Estado a pedido dos líderes religiosos em nome da ordem. Jesus morreu como imoral, escandaloso, desviado, rebelde, desordeiro e herege. E é esse Jesus que tantas vezes, parte da igreja, em nome da ordem, tenta, tenta, tenta esconder. Mas é esse o Jesus do evangelho - revolucionário e subversivo" terminou Henrique Vieira.

Editorial republicado da edição 238, de 19.04.2019