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Como a Suíça exporta bilhões em café sem cultivar um único grão?

A resposta é simples: investimento em pesquisa e tecnologia faz a incrível transformação econômica do café. Como R$6,6/kg se Tornou R$400/kg no varejo mundial

Edição: 468
Data da Publicação: 23/09/2023

 

No momento em que nossa região retoma a plantação do café, é importante promover o debate sobre quem ganha com o que, sem esquecer que daqui saia 75% de todo café consumido no mundo. Assim, diferente de grandes produtores como Brasil, Vietnã e Colômbia, a Suíça não possui um pé de café, mas mesmo assim está entre os cinco maiores exportadores do produto no mundo.

O Brasil continua a ocupar a primeira colocação, tanto em produção quanto em exportações de café. Em 2022, a bebida trouxe cerca de 9,2 bilhões de dólares de exportações para o país. No mesmo período, a Suíça exportou 3,4 bilhões de dólares. Até pode ser um número pequeno quando comparado ao Brasil, mas, se levarmos em consideração que o país europeu não possui lavouras de café, uma pergunta nos vem a cabeça... como eles conseguem tal feito?

 

O pulo do gato

 

A Suíça importa o grão de grandes produtores como o Brasil, Colômbia e Vietnã, e, em seguida, empresas como Nestlé os transforma em cápsulas de Nespresso, vendidas por cerca de 10 vezes mais do que o simples grão, além de cafés torrados que servem milhões de expressos mundo afora.

Além do produto final, os suíços são especialistas na fabricação de máquinas para o preparo da bebida. A Thermoplan é uma empresa de engenharia térmica que fornece as máquinas utilizadas nas mais de 35.000 filiais da rede americana Starbucks em todo o mundo. São produzidas em uma pequena cidade da Suíça chamada Weggis, uma cidadezinha rural de 4.400 habitantes (menor que Governador Portela, em Miguel Pereira, ou Arcozelo, em Paty), que produz as de expressos e cappuccinos presentes nas lojas da Starbucks em todo o mundo.

Assim, o café, a bebida mais popular do mundo, apresenta uma discrepância econômica impressionante. Um produto que custa R$6,6/kg no Brasil poder ser vendido por até R$400/kg no varejo global é intrigante.

 

A Margem Diminuta do Produtor

 

Apesar de cultivar e colher o grão, os cafeicultores recebem apenas 0,4% do valor final do café consumido. O seu trabalho é essencial, mas a sua recompensa é mínima. Os preços das commodities, como o café, são definidos por Bolsas e sofrem volatilidade. Em 2019, o café alcançou seu menor preço em dez anos devido a uma supersafra brasileira. Focando no segmento mais fraco da cadeia de valor, o Brasil, o principal produtor de café, encontra-se na posição de tomador de preço. Países especializados em commodities raramente ditam preços.

 

Domínio das Grandes Marcas

 

Nestlé, Starbucks e outras grandes marcas controlam o setor de café. Apenas o top 10 representa 35% do mercado global. A fábrica da Nespresso em Schwerin, Alemanha, exemplifica essa dominância.

 

A Discrepância das Cápsulas

 

Produzido por apenas R$6,6/kg, o café brasileiro transforma-se em cápsulas de R$400/kg na Alemanha. Mesmo quando reexportadas para o Brasil, essas cápsulas são vendidas a preços exorbitantes, beneficiando mais os processadores do que os produtores.

 

Outro exemplo vindo da Suíça é que, na terra do chocolate, o cacau é estrangeiro. A Suíça também não tem um pezinho da fruta, que é comprada no Brasil, Venezuela, Equador... E, com o cacau dos outros, eles fazem o chocolate mais famoso do mundo, mas isso é assunto para outro dia.