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A política de Guedes

A Ford passou por Vargas, JK, ditadura militar, hiperinflação, trocentas trocas de moedas, Collor, Plano Real e governos do PT

Edição: 328
Data da Publicação: 15/01/2021

A Ford chegou ao Brasil em 1919, há 100 anos. Passou por Vargas, JK, ditadura militar, hiperinflação, trocentas trocas de moedas, Collor, Plano Real e governos do PT. É difícil achar algum brasileiro com carro que nunca tenha tido um Ford. Mas ela não sobreviveu ao governo Bolsonaro.

Uma empresa como a Ford abandona a operação brasileira e nem se preocupa em conversar pelo simples fato de que não adianta. Falar com quem? Paulo Guedes? Para quê?

O fim das atividades da Ford no Brasil pode afetar toda uma cadeia produtiva da indústria. Somente em Camaçari, na Bahia, estima-se que 60 mil empregos e centenas de empresas sejam afetadas, gerando um prejuízo de R$ 5 bilhões para a economia do estado. A cadeia de produção automobilística é extensa. Por isso, o impacto vai muito além do desemprego para trabalhadores da montadora. É o efeito cascata do desemprego e da desindustrialização.

A Ford entendeu que o capitalismo no Brasil é contra o trabalhador ter renda para comprar o que produz. Sem mercado local, não vale indústria local; sem política industrial, tchau. Em 2011, o salário mínimo era de US$ 326, o que em dinheiro de hoje é algo em torno de R$ 1.700,00, e é o valor do salário mínimo que pressiona, para cima, os demais salários no Brasil.

A grande mídia tenta nos convencer de que a Ford foi embora por causa do sistema tributário brasileiro, mas se isso é verdade, como ela ficou mais de 100 anos? Vale a pena lembrar que em 2009, no governo Lula, a Ford investiu 4 bilhões de reais no Brasil e era o mesmo sistema tributário de hoje.

A Reforma Trabalhista não gerou empregos nem impediu o fechamento da Ford. A Reforma da Previdência não resgatou a confiança dos investidores. O teto de gastos não salvou a economia, muito pelo contrário. A vida piorou, a desigualdade cresceu, a pobreza aumentou e os consumidores perderam poder de compra.

O presidente da Argentina recebe a direção da Ford. O do Brasil vai pescar com Ratinho. A Ford vai investir mais de meio bilhão na fabricação de um novo modelo de carro.

O Brasil até hoje não se mexeu para regulamentar o imposto sobre grandes fortunas criado na Constituição de 1988, pois alegam que o grande capital vai embora. Pois bem, o presidente Alberto Fernández aprovou o imposto e logo em seguida a Ford chegou de malas e cuias na Argentina.

Nesse rastro, a fábrica da York, em Nova Prata - MG demitiu 300 funcionários. O Banco do Brasil mais 5 mil e os Correios 15 mil. E assim seguimos.

Por outro lado, a Petrobras ignora o Rio e deve contratar duas mastodônticas plataformas (P 78 e P 79) para o campo de Búzios, no litoral do estado do Rio, que vão gerar 80.000 empregos na Ásia. Mas isso é assunto para semana que vem.