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AGRO É TÓXICO. AGRO NÃO É POP! 2

O glifosato é o agrotóxico mais vendido no Brasil; ele é um herbicida que mata vegetais e é conhecido como "mata mato". Ele responde por mais de 30% das vendas de todos os mais de 200 agrotóxicos vendidos no Brasil; esses 30% correspondem 150 mil ton/ano

Edição: 257
Data da Publicação: 30/08/2019

Larissa Mies Bombardi, professora, escritora e pesquisadora do Departamento de Geografia da USP, é autora do livro "Geografia do Uso dos Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia". Na verdade, é um atlas que é resultado de seus anos de pesquisa sobre o uso dos agrotóxicos no Brasil, e, em especial, uma comparação dos que são usados no Brasil e na União Europeia.

O Brasil é o campeão no uso de agrotóxicos no mundo desde 2008, dividindo a colocação com os EUA. A cada 2,5 dias uma pessoa morre intoxicada por agrotóxico - são quase 1.000 mortes por ano - e a cada ano outras 25.000 são intoxicadas, e, dessa quantidade, cerca de 20% são crianças e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos.

O glifosato é o agrotóxico mais vendido no Brasil; ele é um herbicida que mata vegetais e é conhecido como "mata mato". Ele responde por mais de 30% das vendas de todos os mais de 200 agrotóxicos vendidos no Brasil; esses 30% correspondem a 150 mil toneladas de glifosato por ano.

Por que o glifosato é tão usado?

É que no Brasil, quase 100% das sementes de soja e quase 90% das sementes de milho são transgênicas. As sementes transgênicas são aquelas que foram modificadas geneticamente e que receberam um gene de uma bactéria que é resistente ao glifosato, então, quando há uma monocultura de soja ou milho, em vez de se fazer o manejo manual ou mecânico de tirar as ervas daninhas, faz-se o manejo químico, aplicando o glifosato. Assim, essa planta transgênica (soja ou milho) cresce, sobrevive e todas as outras ervas do entorno morrem.

Uma Alemanha de soja transgênica

O Brasil tem uma enorme área plantada com soja - ela equivale a uma Alemanha. Imagina o que é um território do tamanho da Alemanha plantado só com soja transgênica.

Desde 2015, a Organização Mundial da Saúde considera o glifosato potencialmente cancerígeno para seres humanos e comprovadamente cancerígeno para animais mamíferos. Além disso, ele traz desregulação endócrina. Uma pesquisa com coelhos concluiu que estes tiveram diminuição do peso corporal, diminuição da libido, diminuição das ejaculações e aumento dos espermatozóides anormais e mortos. Além dessa pesquisa, uma revista científica internacional publicou uma matéria sobre como o glifosato pode estar ligado ao autismo.

Na água potável, permitimos 5.000 vezes mais resíduos do que na União Europeia

No Brasil permitimos uma quantidade de resíduo de glifosato na água potável, ou seja, na água que a população utiliza para beber, 5.000 vezes maior que o limite permitido na União Europeia.

Em função de tudo isso, a França já decidiu que a partir de 2022 o glifosato estará proibido no território francês.

No Brasil, no site da Anvisa, é possível se manifestar sobre o glifosato. A União Europeia vai rediscutir o glifosato em 2021. Vale a pena participar.

 

Na próxima semana, a lei que quer mudar o entendimento do enquadramento dos agrotóxicos no Brasil.