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Brasil e China não usarão mais o dólar como moeda comercial
O acordo firmado entre Brasil e China possibilitará a redução dos custos de transação direta entre iuan e real das empresas brasileiras e chinesas
Edição: 443
Data da Publicação: 31/03/2023
Mesmo sem a presença do presidente Lula, a comitiva
brasileira na China voltará do país asiático com um novo acordo debaixo do
braço. Isso porque Brasil e China vão criar uma instituição bancária que
permitirá que as transações bilaterais entre eles não precisem passar pelo
dólar.
O acordo entre os governos brasileiro e chinês é para que
exportadores possam fazer negócios sem necessidade de utilizar o dólar. Chile e
Argentina já contam com sistema semelhante.
A iniciativa é um claro pivô pelo fortalecimento das relações
sino-brasileiras, desviando-se do poderio da moeda dos Estados Unidos.
O anúncio ocorreu na manhã desta quarta-feira (29), durante o
Simpósio de Negócios China-Brasil, realizado em Pequim. O evento reuniu mais de
500 empresários de ambos os países, bem como autoridades nacionais.
O novo formato de comércio será viabilizado pela criação de
uma Clearing House (Câmara de Compensação) a ser operada, no Brasil, pelo Banco
Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês). Como se trata de
uma instituição financeira de grande estatura na China, o banco seria capaz de
garantir aos empresários brasileiros a conversão imediata dos ganhos em moeda
nacional - no caso, o real brasileiro. Isso ocorrerá toda vez que decidirem
fechar novos negócios em renminbi (yuan chinês).
A mais recente iniciativa chinesa em aprofundar laços
econômicos e comerciais com o Brasil não ocorre no vácuo. Nos últimos meses,
não faltam exemplos de acordos e declarações de líderes em prol da utilização
do renminbi como divisa para a realização de acordos comerciais. Trata-se de um
claro desafio à dominância do dólar dos EUA.
Na visita de duas semanas atrás de Xi Jinping à Rússia,
Vladimir Putin disse que cerca de 75% do volume negociado entre os dois países
já é feito ou em rublo ou em yuan. Putin chegou, inclusive, a defender que os
acordos entre a Rússia e os países da Ásia, África e da América Latina sejam
feitos na divisa chinesa. Se aceita, tal iniciativa fortaleceria ainda mais o
yuan, uma vez que os negócios não seriam, necessariamente, com a China.
Em janeiro, foi a vez do ministro das Finanças da Arábia
Saudita, Mohammed Al-Jadaan, fazer um aceno à China. À época, ele declarou que
o país estava aberto para discutir a comercialização de petróleo em outras
moedas que não o dólar dos EUA. Vale dizer que, até ano passado, a Arábia
Saudita era um protetorado americano cujo acordo era que os EUA dariam proteção
militar e, em contrapartida, a Arábia Saudita só venderia seu petróleo em
dólares, os famosos petrodólares. Mas o mundo é redondo e gira muito rápido.
Hoje a
moeda chinesa é a quinta moeda mais ativa do mundo. O acordo firmado entre
Brasil e China possibilitará a redução dos custos de transação direta entre
iuan e real em uma maior oferta de operações de proteção (hedge) de variação
cambial entre as moedas.
Fonte: Jorge Fofano/Money Times/Aepet