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Mahommah Baquaqua

Apenas 0,08% sabiam ler e escrever. O esquecimento não é ao acaso - é um projeto.

Edição: 270
Data da Publicação: 29/11/2019

Em 320 anos, mais de 4 milhões de negros foram escravizados, trazidos da África e traficados para o Brasil, principalmente para o Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Pelo censo realizado em 1872, o 1º de nossa história, apenas 0,08% sabiam ler e escrever. Então fica a pergunta: como saber, do ponto de vista dos escravizados, a sua versão da história?

Mas dentre eles, existiu Mahommah Baquaqua, negro e africano, nascido em Borgoo (hoje Benin), que foi escravizado e traficado para o Brasil em um navio negreiro por volta de 1845.

Baquaqua desembarcou em Pernambuco e segundo ele: "quando um navio negreiro aporta, a notícia se espalha como as chamas do fogo. Os interessados na mercadoria viva correm. Os escravos são exibidos como bois ou cavalos em um mercado". Baquaqua foi vendido a um padeiro português que tinha quatro outros escravos. Na casa desse católico fervoroso, havia dois cultos por dia. E após incontáveis espancamentos e considerado um "caso difícil', Baquaqua foi revendido para um capitão de navio, de onde ele foge em uma viagem aos EUA.

Baquaqua fez a única biografia de um escravizado no Brasil que se tem notícia. Ele descreve as violências que sofreu no Brasil e os castigos físicos sofridos ainda durante o confinamento no porão do navio. Ele nos conta que "quando qualquer um de nós se tornava desobediente, nossa carne era cortada com uma faca, então pimento ou vinagre eram esfregados na ferida".

O desconhecimento do brasileiro em relação aos horrores e consequências da escravidão é enorme. Apesar de sermos o país com a maior população negra fora da África, quase não temos museus sobre o tema e pouco estudamos nas escolas. E, isso não é um acaso, é um projeto. Seu esquecimento é um projeto muito bem elaborado por nossas elites.

Uma dica de leitura: "Biografia de Mahommah Gardo Baquaqua", da editora Uirapuru.