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A história a flor da pele
Ricos em tradições, conhecimentos e técnicas agrícolas e que dominavam a medicina alternativa
Edição: 373
Data da Publicação: 26/11/2021
O turismo afro vem crescendo muito no Brasil. Ele explora
as raízes negras da história do Brasil e é voltado para reavivar a nossa
memória. Existe uma demanda de turistas que desejam conhecer espaços que contam
as histórias do povo negro, que realmente foi quem construiu o Brasil nos
primeiros 388 anos de nossa existência, quando aqui nada existia.
O turismo afro alia a história não contada, ele obriga a
preservação da história e já existe em diversas cidades brasileiras, como São
Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Olinda. Há uma demanda reprimida nesse tipo
de passeio do conhecimento nas cidades, não só de moradores, mas também de
turistas que vêm de outras cidades para conhecer in loco a história
viva, mesmo depois de 133 anos, demonstrando que a história está viva e
pulsando forte.
A história das cidades passa a ser conhecida sob outro
prisma, sob a ótica negra, coisa rara de se ver.
Engana-se que o público-alvo é composto apenas de pessoas
negras. Os brancos também têm uma procura grande, querendo expandir sua visão
de mundo em busca de uma sociedade menos desigual, menos racista, boa para
todos e mais humana.
Miguel
Pereira, Paty do Alferes e Vassouras
Poucas regiões no Brasil possuem o que Miguel Pereira,
Paty do Alferes e Vassouras têm. É um grande acervo histórico sobre esse
período econômico da nossa região. É importante ter em mente que branco não
trabalhava, era feio trabalhar. Toda a riqueza foi construída pelas mãos dos
escravizados, como fazendas, engenhos, estradas, calçamentos, igrejas, tudo foi
construído com muito sofrimento, suor e sangue do povo brutalmente escravizado,
sequestrado e trazido a ferro de outro continente.
Vale lembrar que 75% do café consumido no mundo saia
daqui. O café era o único item de exportação do Brasil. Pouco se fala em Marianna
Crioula e Manoel Congo, que foi o líder da maior rebelião do estado do Rio, de
quase 400 escravizados (homens, mulheres, crianças e idosos).
Monumental
importância histórica
Nossa região tem uma riqueza que não se resume a fazendas
históricas, nossa importância histórica é monumental e muito pouco preservada,
como foi o recente leilão, em 19.05.21, quando foram vendidos objetos da
Fazenda Pão Grande, de Paty, com dezenas de itens, como roupas das escravizadas
que trabalhavam dentro da sede da fazenda e certidões de nascimentos e óbitos
de escravizados, assim como a libertação dos escravizados um ano antes da Lei
Áurea (1888). Esse patrimônio se perdeu.
Mas ainda temos a Gruta de Manoel Congo, em Paty/Miguel Pereira,
Gruta dos Escravos em Miguel Pereira, Fazenda Freguesia (hoje Aldeia de
Arcozelo, em Paty), Fazenda Maravilha, em Paty, que foi incendiada pelos
fugitivos, o Cemitério dos Escravos em Vassouras e tantos outros marcos
históricos.
E
como disse o escritor de arqueologia e historiador Ricardo de Andrade:
"...Negros não são descendentes de
escravos, como dizem os livros escolares. São descendentes de Civilizações
Africanas, de reinados Fortes e Poderosos. São descendentes de Reis,
Rainhas, Príncipes e Princesas. São parentes de homens e mulheres que
desenvolveram a Escrita, a Astrologia, as Ciências e as Pirâmides.
São fruto de um povo que desenvolveu as Técnicas Agrícolas e que domina
a medicina alternativa. São fruto de um povo que conhece as folhas
e como despertar o poder delas".