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Um mundo multipolar

No comércio, na economia e na política

Edição: 394
Data da Publicação: 22/04/2022

Por mais que Lenin tenha falado da importância de transferir o campo de batalha entre capitalismo e socialismo do campo militar para o campo comercial, não imaginou que o socialismo chegaria ao nível que chegou hoje, tendo o país se transformado no maior exportador de bens públicos do mundo e em uma alternativa para os outros países. É algo inédito para qualquer socialista no mundo.

Hoje, a China é um país que tem obras e investimentos em mais de 150 países, como parte de um programa de integração física e marítima no mundo inteiro - é a nova rota da seda. Isso só foi possível pela planificação do comércio exterior, possibilitado pela existência de imensos conglomerados empresariados estatais no núcleo produtivo da economia chinesa e de um sistema financeiro público chinês, opção essa que nenhum país capitalista é capaz de entregar para o mundo.

Guinada histórica dos sauditas

O fato de maior relevância e que merece máxima atenção é a retaliação da Arábia Saudita aos EUA por eles terem entrado em contato com os Iranianos (inimigos a até poucos meses) para compra de petróleo. Em função disso e em uma guinada histórica, os sauditas avaliam vender petróleo em yuan à China. Diga-se de passagem, os chineses compram ¼ de toda produção saudita, que hoje é de 12 milhões de barris de petróleo por dia (a produção brasileira é de 2 milhões).

Esse fato muda completamente o jogo, porque, admitir que o petróleo pode servir como uma das bases para se aferir uma nova ordem financeira internacional e a Arábia Saudita aceitar trocar petróleo não por dólar, mas por yuan, é um fato inédito e que deve ser levado em consideração, principalmente porque esse tipo de movimentação foi o grande motivo da queda e assassinato de Saddam Hussein.

A morte de Saddam Hussein

Pouca gente sabe, mas a sentença de morte de Saddam Hussein foi começar a vender petróleo não utilizando o dólar, mas o euro. Se tem uma coisa de que os americanos não abrem mão é a utilização do dólar no mercado mundial de petróleo e gás natural, até porque energia é o que move o mundo e o dólar não pode estar desatrelado dessas commodities. Há uma relação direta entre o poder do dólar e a questão energética.

Dessa forma, quando a Arábia Saudita faz esse movimento, as coisas podem se complicar um pouco para os Estados Unidos e joga uma grande incerteza no mundo, uma vez que é difícil saber o que vai acontecer.

China

Muitos analistas internacionais vêm dizendo que acreditam que a China não tem interesse em ser o fiador do mundo em uma nova engenharia financeira internacional, tampouco em substituir os Estados Unidos, mesmo porque isso traz custos de transações. É um custo da hegemonia que ela não deseja pagar para ver.

Não se acredita no fim do dólar para as transações comerciais, aliás, nem se deseja isso, mas é certo que ele terá que conviver com uma nova moeda mundial, baseada em uma cesta de commodities de minérios, gás, petróleo, entre outros, que a irão lastrear em um novo sistema financeiro multipolar. Já há algum tempo, os grandes países vêm discutindo que as commodities devem servir de lastro para uma moeda internacional, com o fim do poder único do dólar. A conferir.