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"A luta pela liberdade eterniza o homem"

Há 180 anos, Manoel Congo liderava uma fuga com cerca de 400 escravos em Paty do Alferes

Edição: 217
Data da Publicação: 23/11/2018

Há 180 anos (2018) Manuel Congo liderava a fuga de mais de 200 escravos, uns falam em 400 entre escravas e crianças da Fazenda Freguesia, onde hoje é a Aldeia de Arcozelo, em Paty do Alferes.

O Quilombo Manoel Congo, a saga de um guerreiro, de autoria de Medeiros Braga. Nesse poema (parte), o poeta narra o trajeto percorrido por Manoel Congo da África ao Brasil, fixando os espaços de sua história:

 

"Manoel Congo é o primeiro

No tapete a se mexer,

A sua insatisfação

Dava bem pra perceber,

Sendo da África arrancado

Se mostrou inconformado

Com as elites no poder"...

 

É importante entender e contextualizar que em 1838, o centro da economia nacional era a região sul fluminense. Cerca de 70% do café exportado pelo Brasil naquela data era produzido e colhido nas terras da Vila de Vassouras que incluíam este atual município, mais os de Mendes, Paty do Alferes, Miguel Pereira e parte de Paracambi. As plantações de café também se expandiam pelos municípios vizinhos de Valença e Paraíba do Sul e já eram o principal sustentáculo econômico do Império do Brasil. 

A rebelião se deu em 5 de novembro de 1838, quando o capataz da fazenda Freguesia matou o escravo africano Camilo Sapateiro a tiros. Os escravos tentaram linchar o capataz, mas foram contidos. Nenhuma punição foi dada ao assassino e o clima de revolta se estabeleceu nas senzalas das duas fazendas do capitão-mor Manuel Francisco Xavier.

Por volta da meia-noite, as portas das senzalas da fazenda Freguesia foram arrombadas e o primeiro grupo, com de cerca de 80 negros cruzou correndo o pátio, chamou as escravas domésticas que dormiam no sobrado, arrombou os depósitos e se armou com facões e uma velha garrucha.

Sabendo dos eventos, vários escravos também fugiram das fazendas São Luís da Boa Vista, Cachoeira, Santa Teresa, Monte Alegre, além de outras não registradas nos documentos históricos. Em torno de 300 a 400 escravos seguiram pelas matas. Algum planejamento prévio pode ter ocorrido, pois foi rápida a adesão de escravos das outras fazendas e houve pontos de encontros nas matas para os vários grupos.

O quilombo era o espaço de reinvindicação dos escravizados frente a uma sociedade excludente, discriminatória e espoliadora de seus direitos. Historicamente, os quilombos foram espaços de resistência e de sociabilidades de negros/as, em sua luta pela liberdade devido à opressão a que estavam expostos na sociedade brasileira.

Manuel Congo é nosso maior herói. Escravizado na África, trazido a ferros para erguer a economia brasileira. Os negros escravizados formavam a principal categoria de trabalhadores. Manuel Congo e Marianna Crioula são os heróis da resistência. Esse foi o maior líder, da maior rebelião, que ocorreu na região do Vale do Café já teve.