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Privatização dos Correios: por que a raiva com as empresas públicas?

Privatizar os Correios é um erro, principalmente por ser uma empresa estratégica para logística, integração e comunicação digital. Além do mais, é lucrativa.

Edição: 342
Data da Publicação: 23/04/2021

Privatizar os Correios é um erro, principalmente por ser uma empresa estratégica para logística, integração e comunicação digital.  Além do mais, é lucrativa. "Correios devem ter lucro bilionário no ano de 2020″ - essa foi uma reportagem do Jornal Valor Econômico que mostrava o lucro da empresa desde 2017. É importante deixar em evidência as mentiras contadas para privatizar os Correios. Por exemplo, espalharam a falácia de que a empresa teve prejuízo econômico nos últimos anos. Porém, em 2018, a empresa registrou lucro de R$ 161 milhões e, em 2017, de R$ 667,3 milhões, apesar da crise enfrentada pelo Brasil. Em 2019, o lucro foi de R$ 102,1 milhões e a projeção de lucro era de R$ 836,5 milhões para 2020.

 

O que não contam

 

A privatização dos Correios levará a aumento no preço de fretes. Além disso, querem demitir 70 mil funcionários - ou seja, 70% dos trabalhadores da empresa - em um país onde o desemprego já alcança uma situação extremamente grave. Sobre os anos de prejuízo, Marcos Cesar Alves da Silva, vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios, afirma que "A partir de 2010, o governo começou a retirar dividendos muito acima do lucro anual da própria empresa, enxugando o caixa. A empresa chegou a ter R$ 7 bilhões no caixa". Ou seja, houve um processo, deliberado, de desmonte da empresa. Em seguida, "Entre 2012 e 2013, por razões eleitorais, o governo segurou o reajuste das tarifas postais e nós perdemos mais ou menos R$ 1,2 bilhão em receitas". Sempre é assim: para vender uma estatal, promove-se um processo de desinvestimento da empresa, fragilizando e precarizando seus serviços para depois legitimar o discurso de privatização, de entrega de uma empresa estratégica.

É relevante levar em consideração as experiências de dois países que privatizaram seus serviços de correios, como veremos a seguir.

 

Em Portugal

 

No caso de Portugal, todos os indicadores de qualidade do serviço postal pioraram. Desde 2012, a evolução dos CTT foi de queda em termos de negócios e queda nos níveis de qualidade do serviço. Com as privatizações dos correios em Portugal, o serviço ficou pior e mais caro. Mas o pagamento dos dividendos para os acionistas só se elevou. Ou seja, é a dinâmica da redução dos custos, aumento do lucro e a sociedade que se exploda. E o mais curioso: com queda da rentabilidade da empresa. Mas o setor privado não é mais eficiente do que a estatal?  Parece que os indicadores, no caso de Portugal, dizem o contrário. Mas é importante notar que, embora tenha havido a queda de rentabilidade e piora na qualidade dos serviços, manteve-se a lógica de distribuição de dividendos para acionistas.

 

Na Inglaterra

 

Na Inglaterra, após 5 anos desde a privatização do Royal Mail, as consequências estão sendo sentidas mais do que nunca, com péssimos serviços e custos mais elevados, mas com lucros distribuídos para os acionistas do "mercado". Mais de £ 700 milhões foram pagos em dividendos a acionistas privados desde a privatização da empresa em 2013. O Royal Mail, como único provedor de serviços universais do Reino Unido, é obrigado por lei a garantir que o serviço esteja disponível para todos em todo o país. No entanto, novos dados mostram um aumento de 51% nas reclamações dos consumidores sobre o desaparecimento de pacotes.

Essa experiência, com resultados negativos das privatizações, está inserida em um movimento de reestatizações que vem acontecendo no mundo entre 2000 e 2017, de acordo com estudo publicado pelo Transnational Institute (TNI). De acordo com o estudo, desde 2000, aproximadamente 884 serviços foram reestatizados no mundo.

 

As reestatizações na Alemanha, França, EUA, Reino Unido e Espanha

 

As reestatizações aconteceram com destaque em 5 países centrais do capitalismo: Alemanha (348 reestatizações), França (152 reestatizações), EUA (67 reestatizações), Reino Unido (65 reestatizações) e Espanha (56 reestatizações). Reestatização é um movimento em que o estado reassume as empresas que antes foram privatizadas. De acordo com o estudo, o processo de reestatização ocorreu porque as empresas privadas priorizavam o lucro, além dos serviços estarem caros e ruins, em detrimento do bem-estar da população dos respectivos países. Foram registrados casos de serviços públicos essenciais que vão desde fornecimento de água e energia e coleta de lixo até programas habitacionais e funerárias. O processo de privatização dos Correios é um verdadeiro atentado contra os interesses nacionais, principalmente considerando seu papel essencial de logística, integração e a sua infraestrutura existente, que garante vantagem competitiva para a empresa. Tudo isso corre sério risco de ser destruído.

 

Fonte: Uallace Moreira/Paulo Gala