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Agro é tóxico. Agro não é pop!

A cada 2,5 dias uma pessoa morre intoxicada por agrotóxico e a cada ano outras 25.000 são intoxicadas, e, dessa quantidade, cerca de 20% são crianças e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos.

Edição: 256
Data da Publicação: 23/08/2019

Larissa Mies Bombardi, professora, escritora e pesquisadora do Departamento de Geografia da USP, é autora do livro "Geografia do Uso dos Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia". Na verdade é um atlas que é resultado de seus anos de pesquisa sobre o uso dos agrotóxicos no Brasil, e, em especial, uma comparação dos que são usados no Brasil e na União Europeia.

O Brasil é o campeão no uso de agrotóxicos no mundo desde 2008, dividindo a colocação com os EUA. A cada 2,5 dias uma pessoa morre intoxicada por agrotóxico - são quase 1.000 mortes por ano - e a cada ano outras 25.000 são intoxicadas, e, dessa quantidade, cerca de 20% são crianças e adolescentes com idade entre 0 e 19 anos.

Existe fiscalização dos resíduos de agrotóxicos no Brasil?

A fiscalização mesmo, que visa punir os casos de inconformidade, não existe. O que existe é um programa de análise de resíduos de agrotóxicos feito pelo Ministério da Saúde, e o último foi feito em 2015, portanto, há 4 anos. Ele é feito nas amostras que são coletadas nos mercados das principais cidades do país, e são feitas análises visando se os agrotóxicos encontrados são autorizados no país e se são pertinentes para aquela cultura, assim como se estão dentro dos limites de resíduos autorizados no Brasil. As análises são feitas apenas em algumas frutas, verduras, legumes, arrozes, feijões, farinhas de milho e farinhas de trigo.

Nós não temos análises

Nós não temos análises de resíduos de agrotóxicos para alimentos de bebês, infantis e industrializados. A soja, por exemplo, que recebe metade do volume de agrotóxico comercializado no Brasil, ainda não foi avaliada.

Os dois agrotóxicos campeões de venda no Brasil, que juntos somam metade do volume de vendas, o glifosato e o 24D, dois herbicidas, nunca foram avaliados nos alimentos brasileiros.

Nós não temos uma fiscalização e não temos um real panorama brasileiro, concluiu a professora Larissa.

Semana que vem vamos falar sobre o problema do glifosato, agrotóxico considerado pela Organização Mundial da Saúde como potencialmente cancerígeno.