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Industriais contra a indústria

"a Indústria assiste em silêncio à destruição do país", Pedro Celestin, presidente do Clube de Engenharia do RJ.

Edição: 281
Data da Publicação: 14/02/2020

Um brado de alerta foi lançado pelo presidente do Clube de Engenharia do RJ, Pedro Celestino, que, em entrevista aos jornalistas Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena, denunciou que "a Indústria assiste em silêncio à destruição do país". Ele afirmou que a Petrobras vem sendo depenada e o BNDES está sendo destruído. "Quem financiará o desenvolvimento industrial brasileiro?", indagou ele ao estranhar "o silêncio estrondoso da indústria". Afinal, em torno da Petrobras existem mais de 5 mil empresas privadas que empregam centenas de milhares de trabalhadores.

A questão que se põe agora é intrigante. A Federação de Indústrias de São Paulo - FIESP apoia o governo Bolsonaro certamente por interesse político de seu presidente Paulo Skaf. E os industriais paulistas, não falam nada? Todos viraram rentistas? A desindustrialização elimina indústrias e empregos e não se viu até agora no mundo industrial nenhuma reação significativa a essa política econômica antinacional.

Em outras Federações de Indústria, como a Firjan no Rio de Janeiro, por exemplo, reina um silêncio ensurdecedor. Os industriais brasileiros assistem calados à destruição da indústria nacional. Estão todos ganhando dinheiro no mercado financeiro? Não se dedicam mais à atividade produtiva?

Fiesp e Firjan

Ao comentar a queda livre da indústria brasileira, alguns jornalistas afirmam que começa a surgir uma oposição ao comando da FIESP e da Firjan. Mas pouca coisa existe de concreto até agora, ressaltando-se o artigo do ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva (Folha, 21/1/2020), com severas críticas a Paulo Skaf, condenando a partidarização da entidade e a "morte anunciada" da indústria. Embora o surgimento dessa oposição tenha lógica, nem tudo o que é lógico é real, e nem tudo o que é real é lógico. Paulo Skaf conta ainda com o apoio de mais de 100 dos 132 sindicatos patronais que a entidade representa (O Globo, 6/2/2020).

Jornalista Luiz Nassif

O jornalista Luiz Nassif já denunciou esse silêncio da Fiesp e da Firjan, onde seus presidentes, Paulo Skaf e Eduardo Gouvêa Vieira, há muito tempo não são mais industriais, vivem de renda. Skaf, por exemplo, tem pretensões políticas e por isso endossa as medidas de Bolsonaro. João Pedro Gouvêa Vieira, pai do atual presidente, na década de 40 teve papel central na defesa de projetos nacionais e na defesa da industrialização brasileira. Jorge Hilário também não é mais industrial, são duas pessoas que não têm mais interesse na indústria e por isso cresce o movimento de colocação de novas pessoas, novas lideranças que efetivamente representem a indústria nacional e os interesses do país, disse o jornalista.

Embraer e seus fornecedores

O caso da Embraer é sintomático. Ela foi absorvida pela Boeing, que poderá, se quiser, fechar a fábrica no Brasil para reabrir nos EUA ou na Ásia, onde a mão de obra é mais barata. Da Embraer depende toda uma indústria de autopeças que irá desaparecer se realmente essa transferência vier a ocorrer no futuro.

Trump e Bolsonaro

Trump defende a indústria americana. Bolsonaro também. Este é um ponto comum entre ambos. Guedes quer esvaziar os bancos públicos que financiam a empresa nacional e privatizar a empresa pública nacional em favor do capital estrangeiro. Porém, a história mostra que, sem investimento público, não existe desenvolvimento.