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EUA e Europa têm planos de investimentos de 500 bilhões de dólares em semicondutores, enquanto no Brasil vamos encerrar o CEITEC
EUA lutam para manter a supremacia na indústria mundial de semicondutores
Edição: 332
Data da Publicação: 12/02/2021
As empresas de semicondutores dos EUA mantêm uma
posição de liderança ou altamente competitiva em P&D, design e tecnologia
de processo de fabricação. Depois dos EUA, temos a Coreia do Sul, Japão, países
da Europa, Taiwan e China. O que esses países têm em comum? Todos têm suas
empresas nacionais produtoras de semicondutores, fator essencial para a
soberania nacional.
Nesses países, os governos investem recursos
públicos no setor de semicondutores porque o retorno financeiro é grande. O
Brasil pode fazer parte desse grupo seleto de países produtores de
semicondutores (chips) na economia global?
Pode, pois temos uma empresa nacional se
desenvolvendo, mas que o governo quer fechar, destruir. Nos EUA, Biden já
deixou claro que irá direcionar as compras públicas para o mercado interno e
para as indústrias norte-americanas para fortalecer cadeias produtivas locais e
empresas nacionais. Ou seja, o que Biden vem fazendo nos EUA é justamente
proteger seu mercado interno e fortalecer empresas nacionais, principalmente
diante dos conflitos com a China no mercado mundial. A disputa tecnológica
entre Samsung e TSMC (Taiwan Semiconductor Manufacturing Co.) pelo domínio
tecnológico de semicondutores mostra como o CEITEC (Centro Nacional de
Tecnologia Eletrônica Avançada) é uma empresa estratégica para a economia
brasileira. O catch up tecnológico e a superação da renda média tem como um dos
principais elementos o desenvolvimento da indústria de semicondutores, de modo
que o papel do CEITEC no Brasil é essencial.
Nos EUA, o Boston Consulting Group apresentou um relatório em
setembro de 2020 apontando que a estimativa de crescimento da indústria de
semicondutores na década de 2020/30 é de 50%. Este relatório também mostra que
o governo americano deve investir de 20 a 50 bilhões de dólares para reverter o
declínio na fabricação de semicondutores pelos EUA nos últimos 30 anos.
Tais investimentos repercutiriam em um aumento da participação
americana de 14% a 24% no mercado, respectivamente, além de gerar 70 mil
empregos diretos de alta qualificação. Ao assumir o governo dos EUA em 2021,
Biden apresentou a agenda para a área de semicondutores com um
planejamento de 300 bilhões de dólares em investimentos, sendo que destes, US$ 50
bilhões seriam para investimento em fábricas.
Europa
Em função da participação dos países europeus em apenas 10% do
mercado anual de semicondutores, que é de US$ 400 bilhões, 19 países europeus assinaram
uma declaração conjunta em dezembro de 2020 para investir 145 bilhões de
euros nos próximos 2 a 3 anos no desenvolvimento de semicondutores.
E no Brasil?
E no Brasil, o que acontece? O programa de formação de projetistas
de circuitos integrados foi encerrado em 2019, um programa que necessitava de
um investimento anual de cerca de 2,5 milhões de reais e formou centenas de
pessoas em mais de 10 anos de existência. A construção da fábrica de
semicondutores Unitec, em andamento em Minas Gerais, foi estagnada, faltando
cerca de 80 milhões de dólares para sua conclusão, uma parceria público-privada
que não conseguiu ser finalizada pelos atores envolvidos.
A extinção do CEITEC, única empresa com centro de projetos e fábrica de
circuitos integrados da América Latina, foi decretada em dezembro de 2020 pelo presidente
da República. Foram investidos 1 bilhão de dólares ao longo de 11 anos no CEITEC,
que está prestes a se tornar viável financeiramente, mas o governo, sem
discutir com especialistas, decide liquidar a empresa.
A empresa NXP, uma das 10 maiores empresas de semicondutores do
mundo, anunciou o encerramento das atividades do centro de projetos em Campinas,
onde atuou por 23 anos e empregava mais de 100 projetistas, em janeiro de 2021.
Uma mudança imediata de atitude por parte do governo federal é necessária para
evitar a destruição dos investimentos já realizados na área de semicondutores e
evitar que o Brasil se torne um grande fazendão ou, pior ainda, uma grande
roça, como já foi caracterizado por vários economistas.
Fonte:
Paulo Gala e Júlio Leão.