Voltar

Não seremos mais os mesmos

O coronavírus não atingiu somente os doentes. 1/3 dos brasileiros (62,6 milhões) vivem de trabalho informal. 11,9 milhões de brasileiros estão desempregados. Essas pessoas foram gravemente atingidas pela pandemia.

Edição: 287
Data da Publicação: 27/03/2020

Não seremos mais os mesmos depois dessa crise. Todas as crises passam, e essa vai passar. O coronavírus não atingiu somente os doentes. 1/3 dos brasileiros (62,6 milhões) vivem de trabalho informal. 11,9 milhões de brasileiros estão desempregados. Essas pessoas foram gravemente atingidas pela pandemia.

Com essa doença, que atingiu a economia do país, soluções drásticas e fora do comum precisam ser implementadas. Nesse diapasão, algumas ideias e soluções têm surgido, como as do economista Armínio Fraga.

Economista Armínio Fraga

O economista, que foi presidente do Banco Central na gestão do neoliberal Fernando Henrique Cardoso, vem defendendo que o governo crie rapidamente um programa de renda mínima que beneficie pelo menos 100 milhões de brasileiros, além de incluir mais 1,3 milhão de famílias no Bolsa Família.

"As pessoas precisam saber que terão dinheiro para comprar comida", diz Armínio. O economista estima que as novas despesas possam custar ao Tesouro algo como 4% do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$ 300 bilhões. Esse dinheiro pode vir da emissão de títulos públicos. Vale acrescentar que o programa de Renda Mínima foi defendido pelo ex-senador Eduardo Suplicy durante toda sua vida; seja Renda Mínima, como no Brasil, ou Rendimento de Cidadania, como em Portugal.

Congresso Nacional teve coragem, previu e acertou

E nesse caminho, o Congresso Nacional acertou duas vezes, e uma delas foi quando aprovou que famílias com renda per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) recebam o BPC (Benefício de Prestação Continuada). O presidente Bolsonaro vetou. O Congresso acertou, pela segunda vez, quando teve a coragem de derrubar o veto do presidente, fazendo com que ele (Bolsonaro) vá ao Supremo Tribunal Federal para suspender a Lei. Nesse momento, é pouco provável que isso aconteça tendo em vista que o próprio STF suspendeu o corte do Bolsa Família que o Governo Federal tinha feito para os estados do Nordeste.

Os bancos precisam contribuir para a solução

O governador Flávio Dino destacou que o artigo 148 da Constituição garante que os que têm mais possam ser chamados a contribuir; nesse momento, os bancos. Nesse caso é necessário criar o empréstimo compulsório para os bancos e para o setor financeiro privado, pois eles podem e devem ser chamados para que as crises financeira e social sejam superadas o mais rápido possível.

Na contramão da história

O artigo 18 da Medida Provisória editada pelo presidente da República, que suspendia os contratos de trabalho por 4 meses e sem salários, é um erro econômico, social e jurídico, mas denuncia o tom com que o governo trabalha. O próprio artigo 7 da CF e o artigo 476A da CLT proíbem a redução de salário para cursos de qualificação, eles precisam de acordo coletivo e não individual.  Mesmo o artigo sendo suspenso pelo Governo, o Congresso e centrais sindicais já viam fragilidade para o trabalhador.

É preciso observar a Constituição Federal e preservar o direito dos trabalhadores. Não há dúvida de que é necessário encontrar mecanismos que garantam os empregos e os salários, pois os empresários sozinhos não darão conta dessa tarefa fundamental para manter a economia do país.

Se nada for feito...

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o capitalismo como conhecemos, a partir do final da Segunda Guerra Mundial, não seguirá sendo o mesmo. A crise atual será maior do que a de 1929. O PIB brasileiro pode cair mais de 10% neste ano se medidas drásticas não forem tomadas, medidas estas que sustentem a renda e progressivamente procurem rearticular as cadeias de fornecimento e produção. Isto é o contrário do que está fazendo o Governo. Essa visão é do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

A China

A China, com seu sistema de saúde público estatal, sai dessa crise maior do que entrou. Fez seu dever de casa e, hoje, junto com Cuba, envia à Itália médicos, remédios e equipamentos. Uma cena inusitada ocorreu na Itália quando um morador tirou a bandeira da União Europeia e hasteou em seu lugar, e ao lado da bandeira da Itália, uma bandeira da China. Para esse morador, a China envia pessoas e remédios e a Europa (OTAN + Europa) envia armas e homens para matar. Se a China ainda não é, ela caminha a passos largos para assumir a primeira colocação de maior economia do planeta.

E por fim...

Em 15 dias, todas as nações do mundo se ajoelham perante o invisível. A capital mundial do dinheiro finalmente descobre que não é possível respirar o ouro. A cidade luz (Paris) está mergulhada em trevas. A solidariedade vem se destacando enquanto outros exacerbam seu egoísmo, e assim vai ficando claro quem serão os futuros donos da terra. Esse vírus não ataca os animais, seu foco é a espécie humana.

A guerra nuclear era o carma da raça humana e a autodestruição seu destino. Mas, na solidão entendemos a importância do coletivo. Feliz é aquele que entende esse momento. É chegada a hora em que a terra não será mais a mesma, e tudo em 15 dias.

É momento de esperança, é momento de mudança para um novo tempo. Sejamos semeadores da esperança.