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Europa muda estratégia sobre conflito na Ucrânia
Parece que a ficha caiu
Edição: 424
Data da Publicação: 18/11/2022
A
previsão é de 2023 ser um ano difícil para a economia global e a extensão da
guerra ser mais um inibidor potente de crescimento. Na Zona do Euro, que até o
meio do ano se mostrava fortemente contra a Rússia, a conversa agora é por uma
solução rápida. O presidente da França, Emmanuel Macron, tem assumido a
dianteira em um diálogo para, literalmente, conversar com os russos. "A
verdade é que houve um erro crasso de previsão da guerra", afirma Philippe
Aghion, PhD na Harvard University e professor de economia e relações exteriores
da London School of Economics. "Guiados pelos Estados Unidos, ninguém achou
que a Rússia conseguiria passar tanto tempo sob fortes sanções sem precisar
ceder um centímetro."
A
essa altura, os caminhos são poucos. Ainda que a Ucrânia tenha sido amplamente
abastecida pelo armamento ocidental, a verdade é que nenhum país ousou ser mais
que fornecedor. Com esse equipamento vindo dos associados da OTAN, o exército
ucraniano conseguiu algum avanço e retomada de territórios.
Na
Europa, o discurso adotado agora é que, ao conseguir fazer a Rússia recuar, a
Ucrânia deveria, imediatamente, negociar a paz. O presidente ucraniano
Volodimir Zelenski, porém, tem sido claro sobre o plano de não ceder nenhum
palmo de terra. "Não pararemos até que o último soldado russo volte para o
seu país", disse ele recentemente à rede estatal de televisão do país. Em
nenhum momento foi falado sobre erguer a bandeira branca. A posição tem o apoio
velado de países que, geograficamente, estão perto do conflito, como os
bálticos e a Polônia. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, segue a
mesma linha. Em entrevista à agência alemã DW, em outubro, ele disse que a
Ucrânia tem que ganhar a guerra. Não explicou o que seria "ganhar", mas
deixou claro que, para isso, os membros da OTAN devem dar o apoio necessário e
durante o tempo que for preciso.
Alguns
países, em especial os maiores e com melhor estrutura militar, já consideram a
possibilidade de cessão de terras, já que a asfixia econômica esperada pelas
restrições do Ocidente parece não ter abalado a Rússia. Andrew Allen, PhD e
professor de economia da San Diego University, afirma que os chamados "países
do conselho swift" (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha, França,
Itália, Países Baixos, Suécia, Suíça e Japão) financiaram o lado da Ucrânia,
mas perderam a aposta. "Não há, neste momento, como derrotar a Rússia
militarmente na Ucrânia.". Apesar de pouco popular no Ocidente, essa
discussão surgiu em reuniões de cúpula do G7 e da OCDE. O maior sinal disso é
que o volume de armas enviadas para Ucrânia tem diminuído com a OTAN admitindo
a possibilidade de se esgotarem os recursos se o conflito se estender demais.
Zelenski segue dizendo que "não dará nenhum passo para trás", enquanto
Putin garante que a "vitória russa é o caminho para a paz".
A ficha caiu
Parece
que a "ficha caiu" e a Europa acordou. O problema não é apenas a falta
do gás russo, mas o preço do gás russo que é imbatível. O gás americano chegava
na Europa ao preço de 1 dólar o metro cúbico, enquanto o gás russo chegava a
1/5 desse valor, ou seja, 20 centavos de dólar pela mesma quantidade. E foi esse
gás, a esse valor e por um longo tempo, que fez da Alemanha a locomotiva da
Europa.
Brasil
Para
o Brasil, ter um mundo multipolar é o mais importante. Até 1991, o mundo era
bipolar (EUA x URSS). Com o fim da União Soviética até o início dos anos 2000,
os EUA, Reino Unido, França, Itália reinaram sozinhos, mas, com a restruturação
da Rússia e a ascensão da China e Índia, o quadro mudou e o mundo vem sentindo
as dores do parto de uma nova ordem econômica e social em um mundo multipolar.
Isso é o que é importante para países como o Brasil, Argentina, países
africanos, Irã e, recentemente, a Arábia Saudita.
Colaborou Sputnik