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O livre mercado atrasa as vacinas na Europa (nem vamos falar do Brasil)
J.M. Keynes sempre dizia que o Estado deve fazer as coisas que o mercado não faz. Nos EUA, o governo novamente tomou o risco e "desonerou" as empresas de responsabilidades. Na Europa, não.
Edição: 339
Data da Publicação: 02/04/2021
J.M.
Keynes sempre dizia que o Estado deve fazer as coisas que o mercado não faz. Os
exemplos são inúmeros nas áreas de garantia de saúde e educação a todos e
redução de desigualdades e pobreza. Mas, talvez a seara mais fácil para se
entender isso seja a tomada de risco, tema-chave do pensamento keynesiano.
Quando há incerteza radical, ou seja, imprevisibilidade muito forte, empresas
privadas não tomam risco por motivos de segurança patrimonial, de lucros etc.
Isso
se aplica em geral a investimentos tecnológicos. O caso das vacinas contra a Covid
são um belo exemplo. Foram desenvolvidas pois os governos tomaram o risco e
direcionaram recursos do orçamento para as pesquisas. Mesmo depois da
descoberta da vacina, a história continua. As empresas ficaram com medo dos
resultados, dos riscos envolvidos numa pesquisa feita e aplicada num espaço de
tempo tão curto.
Nos
EUA, o governo novamente tomou o risco e "desonerou" as empresas de
responsabilidades. Na Europa, não. Enquanto os EUA entraram no negócio junto
com as farmacêuticas, a Europa foi mais conservadora do ponto de vista fiscal e
confiou no livre mercado. Os governos europeus costumam ser vistos nos EUA como
gastadores, mas desta vez foi Washington que jogou bilhões nas farmacêuticas e
cuidou dos seus negócios.
Bruxelas,
em comparação, adotou uma abordagem conservadora que deixou o mercado
praticamente intocado. O resultado na Europa é um esforço vacilante de
vacinação, com líderes políticos se questionando por que alguns dos países mais
ricos do mundo, lar de fábricas que produzem muitas vacinas, não conseguem
acompanhar o ritmo de outras nações ricas na vacinação das suas pessoas.
O
primeiro negócio com vacinas da Europa veio em agosto, meses depois dos Estados
Unidos. Embora a Europa fosse uma compradora poderosa, faltava-lhe os poderes
de aquisição em tempos de guerra que o governo Trump utilizara para garantir
matérias-primas para as empresas. Os EUA facilitaram a vida das empresas
renunciando a qualquer direito de propriedade intelectual e isentando as
empresas farmacêuticas de qualquer responsabilidade caso as vacinas
desapontassem. Pagaram pelo desenvolvimento e pelos testes. As empresas não
tinham essencialmente nada a perder.
O
governo americano tomou um risco que os europeus não estavam dispostos a tomar.
A Europa paga hoje o preço por ter governos covardes que não tomaram o risco
necessário para tentar defender suas populações (não vamos nem falar do Brasil
nesse texto).
Fonte: Paulo Gala com Felipe Augusto