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Por que os Estados Unidos não invadem a Venezuela?
EUA têm o maior e mais poderoso exército do mundo com mais de 900 bases militares espalhadas pelo mundo
Edição: 526
Data da Publicação: 24/10/2025
Todo mundo vê a Rússia invadindo a Ucrânia e se pergunta por que os EUA com todo seu poder militar não fazem o mesmo com a Venezuela? A resposta surpreende, envolve trilhões de dólares, duas superpotências e uma geografia que é um pesadelo militar.
Primeiro é preciso entender o que está em jogo. A Venezuela não é só mais um país em crise, ela tem as maiores reservas de petróleo do mundo; são 303 bilhões de barris de petróleo, cinco vezes mais do que os EUA têm e supera até mesmo a Arábia Saudita. Se levarmos em consideração que o barril do petróleo está em torno de 65 dólares, a Venezuela está sentada em 19.695.000.000.000,00 (trilhões) de dólares só em petróleo.
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Mas não para por aí. A Venezuela é nº 1 mundial em ouro com 8.900 toneladas do metal, nº 1 em níquel, tem vastas reservas de gás natural, ferro, bauxita e até o mineral coltan, que é essencial para o seu, o meu e o nosso celular e outros eletrônicos. Trata-se de uma mina de ouro sentada em uma mina de petróleo.
China
Diferente da Ucrânia que buscou uma aliança com o ocidente, a Venezuela construiu uma aliança de ferro com a China e a Rússia. A China investiu mais de 60 bilhões de dólares na Venezuela desde 2007. Hoje, é o maior comprador do petróleo venezuelano, usando esquemas criativos para driblar as sanções americanas. Pequim tem bilhões em jogo e não vai deixar esse investimento virar pó.
E a Rússia?
Ela vendeu quase 20 bilhões em armas para a Venezuela, caças SU-30, sistemas de defesa antiaéreo e até tecnologia militar secreta que o ocidente não sabe. Moscou usa a Venezuela como resposta direta ao apoio dos Estados Unidos à Ucrânia, é o que os especialistas chamam de "reciprocidade simbólica": você mexe no meu quintal e eu mexo no seu.
Digamos, porém, que os Estados Unidos ignorassem China e Rússia, ainda assim a geografia venezuelana é brutal. A Rússia invadiu a Ucrânia por terra através de uma fronteira compartilhada. Os Estados Unidos terão que lançar uma operação anfíbia e aérea massiva. Especialistas estimam que seriam necessárias mais de 50 mil tropas americanas, quase o dobro do que foi usado no Panamá.
Caracas, a capital, está protegida por uma muralha de montanhas, o interior é selva amazônica densa, ideal para guerrilha. Derrubar Maduro seria difícil, mas o pior viria depois. O Iraque e o Afeganistão ensinaram, recentemente, uma lição dolorosa aos EUA, a de que, quando você destrói as instituições de um país, cria um vácuo de poder, como ocorreu com a morte de Saddam Hussein no Iraque.
No caso da Venezuela, esse vácuo seria preenchido rapidamente por cartéis de drogas. O país viraria uma Colômbia multiplicada por dez, com uma guerra permanente contra o narcotráfico (que conhece a região como a palma da mão). Outra coisa, a América Latina não esqueceu as intervenções americanas do passado. Uma invasão à Venezuela uniria toda a região contra os Estados Unidos.
Líderes como Lula e Petro já condenaram duramente as ameaças militares no Caribe. Maduro, hoje uma figura controversa, viraria um mártir da soberania latino- americana e a crise de refugiados explodiria, ou seja, os problemas que os Estados Unidos dizem querer resolver, como o narcotráfico e a imigração ilegal, só piorariam.
Então por que os Estados Unidos não invadem a Venezuela como a Rússia invadiu a Ucrânia? Porque a Venezuela é protegida por uma fortaleza de complexidades geopolíticas, o custo é alto demais, o risco é gigantesco e o resultado seria um desastre estratégico. O risco é tão grande que, semana passada, depois de 37 anos de serviços prestados, o comandante responsável por operações militares dos EUA na América Latina se demitiu em meio a dúvidas e antecipa sua aposentadoria.
Às vezes, a melhor guerra é aquela que você não luta, e, talvez, seja isso que Donald Trump esteja fazendo, bombardeando barcos de pescadores.