Presidente da Fiocruz visita instalações da Apepi em Paty do Alferes
Presidente ressalta importância das associações de pacientes
16/02/2024
Cannabis medicinal é vida
Edição 488
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Uma delegação
da Fiocruz visitou as instalações da APEPI - Apoio a Pesquisa e Pacientes de
Cannabis Medicinal na fazenda de Paty do Alferes. A Associação, que tem 8 mil
pacientes e com a qual a Fiocuz já promoveu seminários que reuniram
especialistas brasileiros e estrangeiros, inaugurou o Centro Avançado de
Cultivo e Secagem (Cacs). A iniciativa faz parte do avanço da pauta da cannabis
medicinal no debate público, com a criação de associações de pacientes, a
permissão via Anvisa para a importação de medicamentos à base de canabinoides,
além de uma ampla discussão na mídia sobre os benefícios da terapêutica.
Presidente da Fiocruz
O presidente
da Fiocruz, Mario Moreira, que esteve na visita à fazenda da Apepi, ressaltou a
importância das associações de pacientes e também a de se produzir evidências
científicas sobre as propriedades do canabidiol e sua relação com a saúde,
gerando subsídios para políticas públicas. Para Moreira, "este não é um
debate de costumes, é um debate de saúde, que precisa envolver as autoridades
sanitárias, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Nossa expectativa é que
a Fiocruz, uma instituição de ciência, tecnologia e inovação em saúde, possa
contribuir com o tema, junto com universidades e outras entidades".
O presidente
da Fiocruz disse que a visita serviu para conhecer o laboratório da Apepi e
aspectos importantes do plantio das mudas da cannabis, da extração do óleo e da
produção em geral. "Nosso objetivo é adquirir elementos que possam orientar
uma agenda de pesquisa sobre o tema". A fazenda, de 37 hectares, fica nos
limites dos municípios de Paty do Alferes, Miguel Pereira e Vassouras, na
Região Centro-Sul Fluminense.
Moreira
comentou que o diretor do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde,
Antonio Eugenio de Almeida, acompanhou a visita para conhecer os processos
relacionados aos padrões de qualidade e a definição de pureza do produto final.
Para Almeida, o país precisa de investimentos na área, tendo em vista as
grandes e urgentes necessidades de saúde pública nacionais. "O Brasil não
pode fugir do que vemos em outros países, com esses medicamentos contribuindo
para a saúde das pessoas", observou o diretor. A chefe de Gabinete da
Presidência da Fiocruz, Zélia Profeta, e a vice-diretora de Gestão do Instituto
de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos - Fiocruz), Silvia Santos, participaram
da visita.
O Grupo de
Trabalho Cannabis Medicinal da Fiocruz considera que há uma janela de
oportunidade única para a discussão da certificação, produção e distribuição de
medicamentos à base de cannabis, com grande impacto na saúde da população de
baixa renda por meio do SUS e de associações de pacientes. Um atraso em
participar deste debate pode representar a perda de oportunidade para o SUS,
ampliando o fosso que segrega a população mais pobre na falta de acesso a estes
medicamentos.
Nota técnica
Em abril, o
Programa Institucional de Políticas de Drogas, Direitos Humanos e Saúde Mental
da Fiocruz lançou uma nota técnica que aborda as evidências científicas
encontradas até o momento sobre tratamentos terapêuticos baseados em cannabis e
seus derivados. O objetivo do documento é oferecer subsídios técnicos para as
instituições responsáveis pela legislação, regulamentação, pesquisa, produção,
padronização, distribuição e uso da cannabis e derivados para fins terapêuticos
no Brasil, bem como para a sociedade em geral.
Segundo a
nota, um número crescente de pesquisas aponta para o potencial terapêutico de
canabinoides, entre eles o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetrahidrocanabinol
(THC), para diferentes condições clínicas e enfermidades. Essas pesquisas apresentam
diferentes níveis de evidência, ou seja, para cada condição existe, no presente
momento, maior ou menor robustez científica que comprove a segurança e eficácia
da aplicação terapêutica. Os pesquisadores responsáveis pelo documento destacam
que algumas pesquisas são conclusivas em apontar a segurança e eficácia dos
canabinoides na redução de sintomas e melhora do quadro de saúde para dor
crônica, espasticidade, transtornos neuropsiquiátricos e náusea, vômito e perda
do apetite ligados ao tratamento com quimioterapia.
Além de
detalhar evidências e referências técnicas sobre as condições de saúde acima, a
nota técnica ainda reforça a necessidade de se avançar no desenvolvimento de
pesquisas no Brasil, com a realização de estudos clínicos de diferentes
condições, na capacitação de médicos e outros profissionais de saúde sobre o
uso terapêutico da cannabis e derivados. Isso permitirá que possam prescrever e
tratar com mais confiança e conhecimento e também na regulação dos produtos à
base de cannabis, para que sejam produzidos nacionalmente e distribuídos de
forma segura e eficaz.
Para os
pesquisadores, "é indispensável assegurar uma regulamentação abrangente e
eficiente, que viabilize a produção, prescrição e o acesso gratuito e
universal, pelo Sistema Único de Saúde, a uma ampla gama de formas
farmacêuticas da cannabis e derivados, sempre respaldadas por evidências
sólidas de segurança e eficácia terapêutica".
Foto 1, 2 e 3 - Mário Moreira presidente da Fiocruz - Na área de cultivo, no berçário e no laboratório.
Foto 4 - Antônio Eugênio de Almeida (centro) diretor do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde da Fiocruz com Margarete e Marcos diretores da APEPI.
Foto 6 - Inauguração do CACS - Novo Centro Avançado de Cultivo e Secagem da APEPI.
Agência Fio Cruz e Apepi