1º Barão de Entre-Rios - Antônio Barroso Pereira
Agraciado como barão por Decreto de 15 de dezembro de 1852, era filho do Sargento-mor Antônio Barroso Pereira e de D. Mariana Jacinta de Macedo
26/09/2025
Historiador Sebastião Deister
Edição 524
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Agraciado como barão por Decreto de 15 de dezembro de 1852, ostentando um título de origem toponímica tomado ao município de Entre-Rios (atualmente Três Rios).
Filho do Sargento-mor Antônio Barroso Pereira e de D. Mariana Jacinta de Macedo (esta filha de José Rabelo de Macedo e de D. Maria de Carvalho Duarte), Antônio nasceu em 15 de fevereiro de 1792 na Freguesia de Sebollas (hoje distrito de Inconfidência, no município de Paraíba do Sul), vindo a falecer em Petrópolis em 12 de dezembro de 1862 aos 70 anos de idade. Foi sepultado no jazigo da Capela de Nossa Senhora da Piedade, construída dentro da sua famosa Fazenda de Cantagalo, em terras de Entre-Rios. Exerceu o cargo de Sargento-Mor das Milícias do Império e tornou-se Oficial da Imperial Ordem da Rosa.
Decidido a formar sua família em terras da Paraíba do Sul (lembremos que, à época, Entre-Rios pertencia à Paraíba), Antônio resolveu instalar sua propriedade nas proximidades daquele povoado, obtendo, através de um requerimento datado de 16 de setembro de 1817, algumas glebas de sesmaria no sertão entre os rios Paraíba e Paraibuna, rumando com João Pontes França. Enteado do afamado Capitão Tira-Morros (Antônio José Barbosa Teixeira), montou então a sede de sua fazenda nas terras que hoje compõem parte do acesso principal de Três Rios junto à rodovia Lúcio Meira (BR393), batizando-a de Cantagalo. Em tempo muito breve, Antônio já tinha desbravado as matas adjacentes à fazenda e cultivado grande parte de suas terras, pondo ainda a funcionar na propriedade uma grande serraria para com sua produção fornecer madeira a todas as construções vizinhas.
Com a morte da mãe, herdou várias faixas de terras, revendendo-as ao Sargento-mor José Vieira Afonso e ao tenente Antônio Luís dos Santos Werneck, de Bemposta (atualmente 2º distrito de Três Rios), e a Tomé Corrêa de Sales, da freguesia de São José do Rio Preto, negociações que lhe proporcionaram grande lucros e serviram para ampliar sua fortuna.
No ano de 1840, Antônio mandou construir nova sede para sua fazenda, no centro de um parque, um verdadeiro palacete para os padrões da época, dotado de requintes arquiteturais trazidos por artistas portugueses, como um assoalho de fina madeira formando mosaicos e desenhos. Simultaneamente, desenvolveu na fazenda uma grande criações de porcos, cuja ceva, lavrada em pedra de cantaria, entrava pelo rio Paraíba, trabalho que lhe permitia estabelecer trocas comerciais vantajosas de toucinho salgado por outras mercadorias com os tropeiros que passavam regularmente pela sua propriedade.
Em 1833 tomou parte, como vereador, da primeira Câmara Municipal de Paraíba do Sul, logo após aquela Freguesia ter sido elevada à condição de Vila, cargo que, a propósito, exerceu diversas vezes, chegando inclusive à Presidência da sua Casa Legislativa. Antônio casou-se, em 3 de junho de 1811, com Claudina Venâncio de Jesus, filha de Manuel Jesus Cerqueira e de D. Mariana Eufrásia de Paiva.
Com a morte do barão, a fazenda de Cantagalo passou às mãos da baronesa, sendo ela a responsável direta pela construção da capela dedicada à Nossa Senhora da Piedade. Ali, todos os domingos, celebravam-se missas acompanhadas, inclusive, pelos seus escravizados. Devido ao prestígio de que desfrutava, a baronesa chegou a ter permissão do Papa para expor o Santíssimo em sua capela, graça raríssima concedida a particulares pelo Vaticano.
Após seu falecimento, a fazenda passou então para a filha Mariana Claudina, que viria a ser viscondessa do Rio Novo. A baronesa faleceu na fazenda em 1876, sendo sepultada ao lado do marido no jazigo da Capela de Nossa Senhora da Piedade.
Desde a primeira legislatura na Câmara Municipal de Paraíba do Sul, o barão de Entre-Rios sustentou renhida luta com a família Paes Leme em busca de terras destinadas ao patrimônio do nascente município, o que acabou por resultar na doação de vastas áreas centrais da vila cujos proprietários eram chefiados pelo todo-poderoso marquês de São João Marcos (Pedro Dias Paes Leme), fato que muito beneficiou Paraíba do Sul.
Além da Cantagalo, o Barão de Entre-Rios ainda administrou as fazendas Cachoeira, Boa União, rua Direita e Piracema. Homem riquíssimo, deixou como patrimônio - além das propriedades rurais citadas - 407 escravizados, um vistoso palacete e mais duas casas na rua do Imperador, em Petrópolis, dois prédios na rua Direita (hoje 1º de Março), no Rio de Janeiro, avaliado em 70 contos de réis, 13 casas de comércio e de residência em Três Rios, nas proximidades da Estrada União e Indústria, diversos prédios em Paraíba do Sul e em São João d'El Rey, além de títulos resgatáveis e mais dinheiro em espécie depositado em várias casas bancárias, tudo avaliado em Rs. 1.569:303$468 (mais de mil e quinhentos contos de réis), uma fortuna quase inacreditável para a época.
O barão e a baronesa geraram dois descendentes:
1 - MARIANA CLAUDINA BARROSO PEREIRA DE CARVALHO - Titulada viscondessa e condessa do Rio Novo, casada com o visconde e barão do Rio Novo (José Antônio Barrosos de Carvalho). Nascida em 1816 e falecida em Londres em 5 de junho de 1882.
2 - ANTÔNIO BARROSO PEREIRA - 2ª barão e depois visconde de Entre Rios, nascido cerca de 1820 e falecido em 27 de janeiro de 1905.
BRASÃO DE ARMAS: Escudo esquartelado. No primeiro as armas dos Barrosos, de vermelho com cinco leões de prata, cada um com duas faixas xadrezadas de ouro e vermelho, postos em sautor (peça do brasão que tem a forma de uma cruz em X). No segundo escudo aparecem as armas dos Pereira, de goles (em vermelho), com uma cruz de prata florida, vazia do campo, e assim os alternos. Decreto Registrado no Livro VII, Pag. 137, Seção Histórica do Arquivo Nacional.