O Casarão - Museu Vila do Alferes - Parte 2
Memórias de Paty do Alferes - 03
26/01/2024
Historiador Sebastião Deister
Edição 485
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Segundo as lembranças de Dulce Pinheiro
Bernardes, que por ali circulou desde menina, aos 8 de dezembro de 1921
realizou-se o matrimônio de Marieta Peralta com Sinhô. No ano seguinte, aos
nove de dezembro, nasceu Dora, primeira filha do casal. Seguindo o costume da
época, parturiente e bebê permaneciam em ambiente parcialmente escuro. Babau
(Manoel Francisco Bernardes Filho, casado com Ernestina Vilet Peralta),
encantado com a neta, presenteou-a com uma linda pulseira que depositou em seu
bercinho ao chegar do Rio pouco depois do nascimento.
Já o segundo casamento celebrado no sobrado
foi o de Edmundo Peralta Bernardes e Alba Monteiro no dia 13 de julho de 1923.
Edmundo foi prefeito de Vassouras quando Paty ainda pertencia àquele município.
Por sua vez, o terceiro enlace foi do deputado estadual e irmão de Edmundo,
Manoel Bernardes Neto, o Manduquinha, com Giza, em 8 de dezembro de 1926,
seguido do matrimônio de Jorge Barroso e Dedéa em 15 de agosto de 1927.
Jorge Barroso era o avô do atual ministro do
Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. Outra festa que engalanou o
casarão remeteu-se às bodas de ouro do Coronel Manoel Bernardes com D. Joaquina
de Mello em 4 de abril 1914. Segundo Dulce registrou, a avó Joaquina
apresentou-se em trajes dourados, acompanhando a decoração da casa.
Em frente ao sobrado, na rua, ergueu-se um
coreto para a banda de música abrilhantar a festa. Nesse dia, sob toda a pompa
que envolvia o ambiente, Carmen, Zélia e Dulce foram batizadas pelo então
vigário de Paty, o padre Leonardo Felippe Fortunato.
A família Bernardes sempre gostou do jogo de
cartas, costume que parece ter tido início no casarão. Ali se jogava muito, e
para o entretenimento ficar mais interessante, as pessoas atribuíam aos
bilhetes negociados valores que constituíam uma moeda corrente destinada a
compor o prêmio final. Cada um tinha, então, certo capital acumulado. Raul era
o mais rico de todos. Babau comprava bilhetes diariamente e, depois de
corridos, dava-os a Raul, que assim se proclamava um grande capitalista. Dulce
conta que, como não dispunha dessa facilidade, resolveu associar-se a Lino
Filho, seu primo, e ambos abriram uma banca de jogo. Silvio e Glória, filhos de
Daniel Bernardes e Zizinha, eram seus parceiros e os jogos mais comuns eram
sete e meio, vinte e um e bacará. De fato, o gosto por tal diversão permaneceu
na família, visto que na Fazenda Quindins, comprada pelo Coronel e depois
administrada por alguns de seus netos, construiu-se um pequeno cassino que se
tornou famoso em Paty e junto aos hóspedes que para lá se dirigiam quando a
propriedade se tornou um conhecido hotel.
Mesmo após o falecimento de Manoel Francisco Bernardes,
o grande solar continuou em mãos da família, principalmente sob a administração
dos filhos do coronel com D. Joaquina Maria de Mello Bernardes (Manoel
Francisco Filho, Benjamim Francisco, Lino Francisco, Antão e Maria Luiza).
Naturalmente, muitos deles, já casados, passaram a morar em outras residências,
como foi o caso, por exemplo, de Antão Bernardes, deslocado para a fazenda
Quindins.
No segundo quartel da centúria XX, graças à
iniciativa de alguns descendentes dos pioneiros Bernardes, a casa passou a
abrigar o Paty Clube, espaço destinado a receber moradores da cidade e
circunvizinhanças para alegres noitadas de danças, bailes e saraus, além servir
também como base de jogos e passatempos, razão pela qual as irmãs Arinda e
Dulce Pinheiro Bernardes (filhas de Benjamim Francisco) passaram a residir no
anexo do casarão até suas mortes (construção hoje demolida). Os espaços do
casarão serviram também para encenação de algumas peças teatrais promovidas por
moradores da cidade.
Com a desativação do clube, já no último quartel do
século passado, um grupo de professores capitaneados por Elvina Rosa, Luísa
Rosa (Zica), Vera "Manicure" e Eurico Pinheiro Bernardes Filho (Júnior)
arrematou a grande casa objetivando ali implantar uma escola particular,
projeto que, entretanto, não prosperou. Em seguida, suas dependências serviram
como moradia para o casal Ataíde e Glorinha, que por ali morou durante um bom
tempo com as filhas Vandete e Valéria. Já em 1988, quando da implantação do
município após sua emancipação, Paty viu-se às voltas com o problema de
instalação da sede da Câmara Municipal. Sensibilizado pela questão, o então
governador Wellington Moreira Franco, em nome do Estado, adquiriu o grande
solar e o doou para os vereadores eleitos. Mesmo com as reformas introduzidas
pelo presidente Hugo Corrêa Bernardes Filho nos anos noventa, a estrutura
predial continuou mostrando avarias e deteriorações sérias e perigosas, razão
pela qual a Câmara se mudou para outro endereço entre os anos de 1915 e 1916.
Felizmente, o Sistema de Previdência de Paty
(PATYPREV) entabulou, nos dois últimos anos, projetos e negociações destinados
a um amplo processo de restauração arquitetônica e recuperação das redes
elétrica e hidráulica do grande prédio, devolvendo aos ares patienses a graça e
o garbo de um dos mais belos e históricos ícones da região.
Em 29 de setembro de 2023, Paty do Alferes, em peso,
participou das cerimônias de reinauguração do casarão, espaço agora
compreendendo o Memorial Histórico Vila do Alferes. Além de decorativas peças
de época, o acervo apresenta, no formato de grandes painéis, as biografias de
notáveis personagens locais, como Joaquim Osório Duque Estrada (patiense autor
da letra do Hino Nacional), Barão de Paty, Barão de Capivary, Manoel Congo,
Manoel Francisco Bernardes, Antônio Ribeiro Velho de Avelar, Condessa da
Soledade (Francisca Eliza Xavier), Barão de Ipiabas, Francisco Tavares (fundador
de Paty), Barão do Guaribu e os descritivos das fazendas Manga Larga, Pau
Grande, Monte Alegre, Freguesia e Ubá, ao lado de muitos outros textos históricos/informativos.
Já no mezanino do grande salão, localiza-se uma área
destinada a receber exposições temporárias de pinturas, artesanato e quaisquer
outras artes plásticas. No momento, ocorre a apresentação de um belíssimo
trabalho em mosaicos coloridos e iluminados confeccionados por uma artista
local retratando as origens de Paty do Alferes.
O Memorial, com guias treinados, abre de 2ª a 6ª
feira no horário de 9h às 16h e em finais de semana entre 9h e 14h, sempre com
entrada gratuita.
Imagem:
Aspecto do interior do Casarão - Museu
Na próxima edição: 1ª Turma de Formandos do Ginásio Barão de Paty do Alferes