Uma Revolução na Saúde ou Uma Oportunidade Ignorada?
Clínica Pública de Cannabis Medicinal:
21/03/2025
Cannabis medicinal é vida
Edição 519
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A cidade de Ribeirão Pires, na Grande São
Paulo, acaba de dar um passo inovador na saúde pública ao criar a primeira
clínica pública de cannabis medicinal do Brasil. Com uma concessão de
uso gratuito de área municipal para a Associação Terapêutica Cannabis Medicinal
- Flor da Vida, o município, sob a gestão do prefeito Luiz Gustavo Pinheiro
Volpi (Partido Liberal), demonstra compromisso com a inovação no tratamento de
diversas condições médicas, oferecendo alternativas acessíveis para pacientes
em situação de vulnerabilidade.
Entenda o caso
A prefeitura da cidade lançou um projeto
pioneiro, em parceria com a Associação Flor da Vida, para fornecer
gratuitamente medicamentos à base de cannabis aos moradores com
prescrição médica.
De início, serão atendidos 50 pacientes,
aproximadamente, com diversas patologias, como Transtorno do Espectro Autista
(TEA), Alzheimer, Parkinson, epilepsia e fibromialgia. A distribuição será
priorizada para pessoas em maior vulnerabilidade social, seguindo critérios da
rede municipal de saúde.
Democratização do tratamento
A decisão do prefeito de Ribeirão Pires
levanta uma questão fundamental: por que prefeituras do estado do Rio de
Janeiro, especialmente cidades como Miguel Pereira, Paty do Alferes e
Vassouras, ainda seguem um modelo de aquisição de produtos à base de cannabis
marcado pela judicialização, por importações caras ou pela compra de produtos
de alto custo, quando poderiam investir em parcerias com associações que
oferecem opções mais acessíveis e igualmente seguras?
O modelo adotado por Ribeirão Pires
representa uma quebra de paradigma na forma como a cannabis para fins
medicinais é incorporada ao sistema de saúde. Em vez de depender de longos
processos burocráticos ou de empresas que cobram valores exorbitantes, o
município garantiu acesso direto aos pacientes, promovendo equidade e
eficiência.
Enquanto isso, municípios do Rio de Janeiro
seguem gastando cifras milionárias na compra de produtos importados ou
adquiridos via ações judiciais, onerando ainda mais os cofres públicos. Os
altos custos desse modelo não apenas inviabilizam o atendimento em larga
escala, mas também criam um ciclo de dependência de decisões judiciais para
garantir tratamentos essenciais.
O exemplo de Ribeirão Pires
A iniciativa de Ribeirão Pires serve como grande
exemplo para outras prefeituras. O acesso à cannabis medicinal já é uma
realidade reconhecida por diversas decisões judiciais, por regulamentações da
Anvisa e por experiências bem-sucedidas em associações de pacientes. Se um
município pode estruturar esse atendimento dentro do próprio sistema de saúde,
por que outros insistem em caminhos mais caros e burocráticos?
Fica o questionamento: quantas prefeituras
ainda precisarão gastar milhões antes de perceberem que há soluções mais
eficazes e sustentáveis para garantir o direito à saúde?
*Margarete Brito é fundadora e diretora da APEPI - Associação
de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal, ativista e mãe atípica.