Entrevista com Ana Portugal, jogadora profissional do Flamengo e da Seleção Brasileira

De Governador Portela para a Seleção Brasileira

 26/03/2021     Entrevista      Edição 338
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1. Jornal Regional - Ana Clara, você é nascida e criada em Governador Portela e estudou no CE Dr. Antônio Fernandes. Como e quando surgiu essa vontade de jogar futebol? O que sua família achou? Eles deram apoio ou disseram aquela clássica frase "vai se formar, minha filha"?

R - Então, como eu sempre fui a única menina no meio dos meus primos, eu sempre que podia estava brincando de bola com eles, e eu sempre gostei muito, porque não tinham outras meninas e também porque sempre foi algo que me atraiu. Minha mãe em si sempre foi tranquila com essa questão, e era o que de fato importava, e ela sempre me apoiou, porque quando ela era mais nova não teve esse apoio. Mas essa frase clássica eu ouvi de alguns parentes, não vou mentir!

 

2. Jornal Regional - Você fez parte do grupo dos Pérolas Negras do Viva Rio, em Paty do Alferes. Como você chegou lá e com quantos anos?

R - Eu fui chamada pela Priscila Pereira, que estava fazendo parte desse projeto. Antes disso, já havia treinado com ela e queria treinar novamente, o que foi oportuno pois ela tinha esse projeto para o futebol feminino. Cheguei lá com 13/14 anos.

 

3. Jornal Regional - O que você pensa sobre essa iniciativa do Viva Rio com o projeto dos Pérolas Negras de Paty?

R - Na época, eu achei que foi uma excelente iniciativa, principalmente pela questão do incentivo ao futebol feminino na região.

 

4. Jornal Regional - Como você chegou ao Flamengo? Conta um pouco desse caminho, como quais dificuldades passou, os receios, os medos...

R - Em março de 2019, eu fiquei sabendo que teria uma peneira no Flamengo em abril do mesmo ano. Assim, participei dessa peneira com mais de 150 meninas, e eu me mantive e estou aqui até hoje! Para mim, foi muito difícil a questão da distância de casa. O Rio de Janeiro que é bem diferente de Portela, em Miguel Pereira!

 

5. Jornal Regional - Como foi chegar ao time profissional do Flamengo? Qual o sentimento que você teve quando soube? Como foi isso?

R - Chegar ao time profissional do Flamengo foi uma felicidade tremenda, acredito que o sonho de todo atleta de base é chegar ao time principal de seu clube, então só de saber que eu havia sido relacionada para o jogo já me deixou em uma felicidade tremenda, mais ainda por poder ter estreado naquele mesmo jogo. Fiquei muito feliz com a oportunidade, estava aquecendo na linha de fundo do campo quando o técnico me chamou. Meus olhos encheram de água, mas eu fui (risos). Ele me passou as orientações e eu entrei em campo. As meninas do time me apoiaram e eu fiquei feliz demais!

 

6. Jornal Regional - Como foi chegar pela primeira vez no CT do Ninho do Urubu? E como é o ritmo no CT?

R - Foi surreal, o coração disparou, eu queria chorar e nem acreditava que estava lá! Lá é movimentado, mas é bem rigorosa a entrada, até mesmo pelo profissional masculino.

 

7. Jornal Regional - Qual é o ritmo de treinamento durante a semana?

R - Em pré-temporada treinamos de segunda a sábado.

 

8. Jornal Regional - Alguma vez pensou em seguir a carreira de modelo fotográfica?

R - (Risos) Já pensei sim, algumas pessoas também já sugeriram e falaram pra minha mãe fazer um book meu, mas eu sou tímida pra fotos.

 

9. Jornal Regional - Qual foi o sentimento de ter sido convocada para jogar na Seleção Brasileira sub-20?

R - Irei contar a história de como aconteceu: a gente tinha acabado de jogar e eu estava fazendo a rotina normal aqui no hotel. Após o almoço, fui dormir e depois disso eu tinha fisioterapia, e fui normalmente. Do nada, uma das meninas falou: "Ana, você foi convocada"; achei que ela estava mentindo, e como nesse período eu não tinha mexido no celular, não sabia. Porém, o médico disse que era verdade, mas não poderia me contar antes. Eu não estava acreditando, comecei a chorar e liguei pra minha mãe na mesma hora, ela ficou super feliz também!

 

10. Jornal Regional - Como era sua vida em Miguel Pereira? E a escola? Ainda tem muitos amigos na cidade? Vocês ainda se falam?

R - Minha vida sempre foi muito corrida por causa dos treinos, e eu também fazia luta depois da escola. O Tonhão era como uma segunda casa, até porque, na época, eu estudava integral. Tenho muitos amigos aí que ainda converso com frequência, mas quase não tenho tempo de vê-los... mas muitas pessoas mudaram depois que fui para o Rio.

 

11. Jornal Regional - Você chegou lá. O que você diria para incentivar outras meninas a curtirem seus sonhos?

R - Eu diria para persistirem, jamais desistirem e procurarem trabalhar pra que aquilo se torne realidade, ainda que demore.

 

Foto 1 no CT do Flamengo

Foto 2 Essa foto foi tirada na quadra society, em Portela, quando Ana Clara foi dividir com as amigas que ela tinha passado nos testes, assinado o contrato e recebeu o uniforme do Flamengo.