Os primeiros passos de Miguel Pereira Pós-Emancipação - Parte II
Trajetória Política e Social de Miguel Pereira
17/06/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 402
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Pouco
tempo depois da emancipação, a rede hoteleira de Miguel Pereira - a despeito da
prematura desativação de alguns estabelecimentos pioneiros da cidade, como os hotéis
Dos Turistas, Guaporé, Roma, Mano, Suíssa (assim os proprietários grafavam, a
despeito de o correto ser Suíça) e o renomadíssimo Hotel Lido, propriedade de
Frederico Wängler - ampliou a oferta de aposentos e sofisticou seus serviços
gerais, surgindo então no município outras casas acolhedoras, como o Hotel
Brasil (em Portela, hoje desativado); o Hotel Rei da Montanha (em Portela); os
hotéis Shangri-Lá, Itamaracá e Pousada
Javary (os três em Barão de Javary) e os hotéis do Miguel Pereira Atlético Clube,
Pousada Miguel Pereira, Pousada das Rosas, La Maison, Summerville, Montanhês,
Apar-hotel Serra Dourada e Pedacinho do Céu. Com o passar dos anos e o
crescimento turístico acelerado de Miguel Pereira, o número de pousadas e casas
de acolhimento de visitantes ampliou-se exponencialmente. Além dos já citados
acima, atualmente podemos registrar no município os seguintes segmentos
hoteleiros: Pousada Leonardo da Vinci; Montanha (substituindo o antigo Rei da
Montanha); Guararapes; Costa del Mar Hotel Boutique; Recanto das Flores;
Coração Verde; Pousada Barão de Javary; Pousada Atelier Casa do Ipê Amarelo;
Pousadas dos Sonhos; Caminho da Floresta; 3 Palmeiras Guest Lounge; Suíte Requinte
da Serra; Casa Agradável com Piscina; Sítio Bom Tempo; Stay Here; Recanto da
Dinha; Pousada Suítes Xatô; Cantinho da Vovó Regina; Casa na Serra; Route 33;
Chalé Sunset; Flat Sunset e Luxor Flat's.
A
partir dos anos iniciais da nossa emancipação e com o fomento turístico
verificado em nossos distritos, cachoeiras e outros pontos naturais de
visitação começaram a ser descobertos e frequentados pelas serranias de Vera
Cruz, o Rio Santana ganhou a condição de balneário em vários de seus românticos
pontos e as vertentes das montanhas desnudaram aos visitantes algumas trilhas
centenárias prontamente transformadas em circuitos de passeios e enduros por
ciclistas, motoqueiros jipeiros e demais proprietários de veículos de tração
4x4. Tais atrações, aliadas ao clima ímpar das montanhas, conferiram ao município
o sabor de uma terra inigualável e vestal, atraindo para cá mais turistas,
comerciantes, construtores e profissionais liberais e, por conseguinte, maior
fluxo de recursos humanos, materiais e financeiros, o que permitiu um pronto
crescimento demográfico e urbano de nossa região.
Embora
a desativação da linha férrea tenha causado transtornos de grande monta a todos
os logradouros miguelenses, a melhoria das viagens de ônibus para o Rio de
Janeiro e demais cidades vizinhas - Petrópolis, Três Rios, Vassouras, Barra do
Piraí e Valença - veio compensar a inelutável perda daquele meio de transporte
centenário e tão querido. Atualmente cobre-se o percurso entre Miguel Pereira e
o Rio de Janeiro por automóvel em questão de hora e meia, não sendo dado ao
viajante imaginar que, poucas décadas atrás, homens decididos e sujos de lama trabalhavam
com denodo para criar a base da estrada que hoje ele percorre de modo
confortável e seguro.
Carente
ainda de muitos serviços básicos, com um campo turístico que requer algumas
ideias e soluções inovadoras, uma área social a pedir novas oportunidades de
emprego e bem-estar e bairros e comunidades pouco favorecidos em sua
infraestrutura basilar, o município de Miguel Pereira pode, todavia, olhar para
trás e, com orgulho e ufania, dizer que venceu graças à força, ao entusiasmo, à
coragem e à intrepidez de nosso inesquecíveis pioneiros, que viram nas
montanhas não um desafio intransponível, mas sim um convite à vida e à vitória.
Tanto
isto é verdade, que a precariedade e o desconforto das primeiras instalações da
prefeitura não abateram o ânimo dos primeiros governantes de Miguel Pereira.
Até mesmo o eventual desconhecimento das técnicas burocráticas e dos
procedimentos executivos de um governo municipal foi aos poucos sendo superado
pela colaboração prestada por políticos e administradores vassourenses
simpáticos à causa miguelense. Além disso, a Prefeitura de Miguel Pereira ainda
recebeu uma consistente ajuda por parte do Departamento de Municipalidades do
Estado do Rio de Janeiro, o que acelerou de vez o processo de funcionamento do
Poder Executivo Municipal.
Inteligente,
sagaz, trabalhador incansável, destemido e até mesmo abusado em algumas
atitudes políticas, Fritz poderia ser chamado de tudo, menos de acomodado ou
indolente em suas ações. Assim, de pronto alargou ruas que considerava
prioritárias para um melhor fluxo de trânsito e abriu praças às vezes sem
preparativos legais ou autorizações prévias dos proprietários dos terrenos que
ele julgava importantes demais para ficarem ociosos. Apoiou incondicionalmente
a fundação da Sociedade Musical de Miguel Pereira e a construção do estádio do
Central Atlético Clube em substituição ao extinto campo do Miguel Pereira
Atlético Clube, por cujo terreno, a propósito, ele lutara para servir de área
de edificação do Grupo Escolar da cidade (hoje Colégio Estadual Dr. Antônio
Fernandes). Com efeito, no dia 15 de novembro de 1957 - apenas dez meses após
sua pioneira posse - o prefeito e seu vice, vereadores e secretários
municipais, insignes autoridades do estado, professores e estudantes e o povo
miguelense em peso inauguravam os prédios dos grupos escolares Dr. Antônio
Fernandes, em Miguel Pereira, e Dr. Álvaro Alvim, em Governador Portela. Já em
27 de novembro do mesmo ano instalava-se o Sub-Posto Municipal de Saúde em
Miguel Pereira, à rua Luiz Pamplona, em uma ampla e confortável casa cedida
pelo Pároco Frei Estêvão Baxmann. Anos mais tarde, durante o governo de José
Antônio da Silva (Zé Nabo), o Posto veio a ser transferido para o Ambulatório
Joanna D'Arc e daí, logo depois, para o bairro Pantrezina, onde permanece em
atividade até os dias atuais.
Por sua
vez, em 26 de julho de 1958 lançava-se na cidade, com grande alarde e justa
euforia, a pedra fundamental da construção do Hospital da Fundação Miguel
Pereira, base concreta e jurídica do atual Hospital Santo Antônio da Estiva
(agora Hospital Luiz Gonzaga). Graças aos ingentes esforços envidados pelo Sr.
Francisco Badenes, assessorado por Paulo Beaujean e pelo Dr. Muniz, elegia-se a
primeira diretoria da Fundação, tendo na presidência o próprio Badenes, na
vice-presidência Hugo Ramos, na tesouraria Paulo Beaujean, na secretaria João
da Silva Pimentel e na diretoria-técnica, como não poderia deixar de ser,
ninguém mais do que o obstinado Dr. Manoel Vieira Muniz.
Paralelamente
a todos esses importantes acontecimentos sociais, Fritz desenvolvia um largo
trabalho de saneamento básico e de benfeitorias nas condições de tráfego da
cidade, uma vez que Miguel Pereira aos poucos atraía um sem número de turistas
e via aumentar a sua população, além de constatar a quase duplicação dos ônibus
que circulavam entre Paty do Alferes e Portela e também a presença dos
automóveis particulares e táxis que transitavam pelos nossos bairros. Por outro
lado, Fritz não descuidou dos serviços de oferta de água na cidade. Data de seu
governo a construção de uma imensa caixa d'água situada a cavaleiro de Miguel
Pereira (aliás, em uso até os dias de hoje), uma obra que, financiada pelo governo
estadual em quase sua totalidade, trouxe, enfim, a solução tão aguardada pelos
munícipes para o crônico problema de abastecimento da sede municipal.
No dia
15 de novembro de 1958, o povo voltou às urnas a fim de indicar o segundo
prefeito municipal. Embora tivesse suas preferências políticas, Fritz habilmente
manteve uma diplomática distância de todos os candidatos: sabedor de que em
apenas dois anos conseguira pavimentar todo o terreno administrativo para o
futuro da nossa terra, concluindo uma gestão que, embora curta, fora aplaudida
pela esmagadora maioria da população, voltou-se ele para a família e para os
trabalhos de gerência do seu querido Hotel Lido, na certeza de que dali a
quatro anos ele novamente estaria à frente dos destinos de Miguel Pereira num
segundo e ainda mais produtivo mandato executivo, o que de fato aconteceu.
Na
próxima edição: A Criação do Brasão Municipal