Os primeiros passos de Miguel Pereira pós-emancipação Parte I

Trajetória Política e Social de Miguel Pereira

 10/06/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 401
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A precária situação da infraestrutura de Miguel Pereira foi uma complicada herança recebida por Frederico Wängler em 1957 (o primeiro prefeito). Além de ter sobre seus ombros a responsabilidade de aumentar a capacidade de produção agrícola, industrial e turística dos dois distritos e demais logradouros, Fritz tinha pela frente outros consideráveis desafios: multiplicar a rede de esgotos; promover maior abastecimento de água para os bairros periféricos; duplicar as salas de aula; introduzir calçamento em dezenas de ruas; melhorar o fornecimento de energia elétrica; alargar estradas e caminhos vicinais; aperfeiçoar as atividades de saúde; fiscalizar construções e loteamentos; adquirir veículos para a Prefeitura; estruturar secretarias, departamentos e autarquias e aprimorar serviços burocráticos municipais; administrar folhas de pagamento de pessoal e de fornecedores e atrair para Miguel Pereira investimentos de maior monta na área de transporte, turismo, educação, saúde e lazer. Para tanto, precisava, em primeiro lugar, organizar a Prefeitura propriamente dita, e isto significava optar por secretários e assessores dedicados e qualificados, contratar pessoal especializado ou no mínimo competente para o quadro de pessoal do município e organizar um sistema fiscal e tributário capaz de oferecer autossuficiência a todos os serviços reclamados - e vivamente aguardados! - por todos os munícipes.

De uma forma ou de outra, grande parte dos objetivos de Fritz foi alcançada em seu primeiro mandato, especialmente em razão do significativo apoio recebido por Miguel Pereira tanto dos vereadores quanto da Prefeitura de Vassouras. Claro está toda a população miguelense e portelense, entusiasmada com sua liberdade política e administrativa, aderiu de pronto às ideias e sugestões do Prefeito, prestando-lhe não apenas seu apoio, mas participando com constância dos trabalhos de implantação do alicerce organizacional do novo município.

Seguindo as normas precursoras traçadas por Fritz, seu sucessor - José Antônio da Silva, o Zé Nabo - introduziu no Município sensíveis melhorias durante seu primeiro mandato, entre os anos de 1959 e 1962. Na realidade, a sequência de prefeitos em Miguel Pereira ofereceu à população, salvaguardadas algumas raras exceções, um sistema de administração coerente, pois raramente um novo mandatário bloqueava os trabalhos desenvolvidos pelo seu antecessor, como acontece tão frequentemente na política brasileira, em que um dirigente dificilmente dá prosseguimento às obras de seu predecessor, ou pelo menos, estabelece manutenção daquilo que já existe e que, de fato, funciona bem nos distritos.

Assim, nas décadas finais do século XX os prefeitos miguelenses - Frederico Wängler, numa segunda gestão; Manoel Guilherme Barbosa, por duas vezes; Aristolina Queiroz de Almeida; Fructuoso da Fonseca Fernandes; novamente Zé Nabo; Roberto Daniel Campos de Almeida, por duas vezes, e Antônio Arantes Alves Filho - procuraram imprimir em suas administrações um caráter muito próprio, porém jamais menosprezando os governos anteriores e as obras e iniciativas por eles deixadas, o que evitou uma complicada solução de continuidade para o município e ao mesmo permitiu um crescimento relativamente uniforme para seus distritos e logradouros em seus primeiros anos de existência.

A rápida notoriedade adquirida por Miguel Pereira nos meios sociais e políticos do Rio de Janeiro atraiu um apreciável número de turistas para a serra, fazendo com que nela se multiplicassem as atividades comerciais, hoteleiras e bancárias tão necessárias ao seu crescimento. Prova disso é que logo abriram-se por aqui agências dos bancos União (posteriormente Unibanco), Lavoura (depois Real, onde agora se localiza o Santander) e Caixa Econômica, seguidas de perto pelo Banerj, Bradesco e Banco do Brasil (além do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, há tempos funcionando na cidade), todas donas de intenso movimento em razão do atendimento que prestavam a correntistas e negociantes de Conrado, Governador Portela, Paty do Alferes, Arcozelo e Avelar.

O fluxo turístico possibilitou também um notável incremento da construção civil, uma vez que dezenas de famílias, após sua primeira visita à região, descobriram-se irremediavelmente cativadas pelo município e de imediato trataram de comprar casas e terrenos pela região, provocando dessa maneira a multiplicação de elegantes loteamentos periféricos às nossas cidades. Dezenas de residências foram então erguidas em Miguel Pereira, Javary e Portela, e inúmeros sítios nasceram pelas áreas mais agrestes de Fragoso e Vera Cruz, localidades ideais para a construção de casas de campo.

Alguns grandes sindicatos do Rio de Janeiro, por seu turno, não resistiram à atração exercida pelas montanhas do Tinguá. Por conseguinte, vieram se instalar no território miguelense confortáveis Colônias de Férias, como a dos Funcionários do Banco Boa Vista (hoje extinta), no bairro Cupido; a da Casa Rei da Voz, no bairro Vila Suíça (hoje transformada no Hotel Pousada Miguel Pereira); a dos Estivadores do Rio (na estrada Miguel Pereira-Ferreiros); a dos Aeroviários (em Vera Cruz); a dos Rodoviários do Rio (em Francisco Fragoso); a do Automóvel Clube do Brasil (no bairro Guararapes, desativada e atualmente abrigando um grande hotel); a da Associação dos Servidores Públicos do Estado e do Município - ASPEM (no bairro Pantanal); a dos Servidores Autárquicos do Rio - ASA-RIO (no bairro Plante Café); a dos Telefônicos - Granham Bell (em Francisco Fragoso); a dos Gráficos (em Governador Portela) e a dos Marítimos (em Monte Líbano, Vera Cruz).

Outras entidades recreativas, esportivas e sociais exerceram forte influência nesse acelerado processo de crescimento. Associações como o Miguel Pereira Atlético Clube, a Sociedade Musical XV de Novembro e a Sociedade Musical de Miguel Pereira, ao lado de prestigiados clubes de futebol como o Estrela FC, o Central AC e o Portela AC, de pronto encontraram-se em condições de oferecer a seus associados várias modalidades de esporte e lazer aglutinadas a constantes atividades sociais, musicais e culturais, assim duplicando seus quadro de sócios e colaboradores e facultando ao povo um sem número de opções de bailes, espetáculos de música e outros passatempos.

 

A imagem mostra a primeira sede da Prefeitura durante o mandato inicial de Frederico Wängler

 

 

Na próxima edição: Os primeiros Passos de Miguel Pereira Pós-Emancipação - Parte II