Família de Caxias do Sul recebe autorização para o cultivo de Cannabis medicinal
Decisão da Justiça Federal autorizou o plantio e extração do óleo para tratar jovem que sofre com contrações e rigidez muscular
23/10/2020
Cannabis medicinal
Edição 315
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Uma decisão do Tribunal Regional Federal
da 4ª Região (TRF4), localizado em Porto Alegre (RS), trouxe novo ânimo e é a
aposta para uma melhor qualidade de vida de uma jovem caxiense de 29 anos. No
último dia 6, o colegiado da 7ª Turma do Tribunal decidiu, por maioria, que a
família não será penalizada por cultivar Cannabis medicinal. Isso significa que
eles poderão fazer o plantio e cultivo de até 12 pés da cannabis para que
obtenham o óleo da planta, que servirá para tratamento de saúde, sem serem
enquadrados na lei antidrogas.
A jovem, que tem a identidade
preservada, teve uma parada cardiorrespiratória durante uma broncopneumonia
grave em 2008. As sequelas foram distúrbios neurológicos dos movimentos
físicos, caracterizados por contrações involuntárias dos músculos e rigidez
muscular.
O fisioterapeuta José Eloy de
Jesus, especialista em fisioterapia neural, emitiu parecer que foi juntado ao
processo. Segundo ele, a cannabis atua como relaxante muscular, é natural e não
tem efeito colateral.
"Está mais do que comprovado
que ela (cannabis) traz um relaxamento muscular que beneficia a fisioterapia. É
um excelente medicamento coadjuvante, proporcionando relaxamento
cardiorrespiratório, em que o paciente consegue um aporte respiratório bem
melhor e também o benefício do relaxamento do trato urinário", explicou o
especialista, se referindo a áreas geralmente afetadas em pacientes
neurológicos.
No pedido feito à Justiça, a
família também anexou parecer de um neurologista que estuda os resultados da
cannabis nos pacientes com problemas como os da jovem. Durante anos, a família
comprou o óleo para o tratamento da jovem e confirma sua melhora. Mas, cada
100ml, suficiente para tratamento de 45 dias, custa 250 dólares, o equivalente
a R$ 1,4 mil, considerando a cotação da moeda americana na quinta-feira. Além
do alto custo, a composição do produto industrializado é duvidosa. A família
também investe em fisioterapia e fonoaudiologia há 12 anos e outros
medicamentos que a jovem precisa, o que torna o tratamento ainda mais caro.
A decisão renovou as esperanças
da mãe da jovem que já estava desacreditada de uma posição favorável. O
advogado que representa a família, Patrick Mezzomo, ingressou com ação em
dezembro do ano passado, mas a Justiça Federal não acolheu o pedido na primeira
instância, alegando que seria caso administrativo e não criminal. Ele, então,
recorreu. No TRF4, o entendimento foi diferente, uma vez que a questão é
considerada criminal, já que a família pretende fazer o plantio e a extração em
casa, ou seja, não se trata de pedido para importar o produto.
"Entrei com um salvo-conduto
para que eles possam plantar sem sofrer uma repressão por parte dos órgãos de
polícia. Porque, via de regra, quem planta é enquadrado como tráfico de drogas
e é penalizado. É uma vitória muito importante, pois o tema é bastante polêmico
e possui como plano de fundo o debate sobre a liberação da planta para uso
medicinal", pondera o advogado.
A mãe da jovem afirma que a luta
para ter acesso ao plantio não foi fácil. "Eu não cabia em mim de felicidade
porque lutamos muito por isso e faz muito tempo que esperamos por esta
resposta. Daqui a pouco, isso vai poder ajudar outras pessoas que nem sabem que
existe (esse tratamento) ou que tem preconceito."
Fonte: Sechar/Pioneiro/Lizie Antonello