Confetes Gelados

Quando encontro Pierrot...

 09/02/2024     Marcelo Mourão      Edição 487
Compartilhe:       

O Baile de Carnaval já estava passando de meia-noite e avistei você de longe, tradicionalmente com a fantasia de Pierrot.

A maquiagem que disfarçava e escondia seu verdadeiro olhar misturava a lágrima preta com o suor que escorria no seu rosto naquela noite quente do Clube.

Por um instante, arrisquei chegar perto de você, mas preferi ficar observando de longe.

O Baile foi terminando e eu não tinha motivo para me aproximar, quando tive a ideia de jogar o último saquinho de confete lá de cima, do segundo andar.

Você estava próximo à sacada e, já sem a parte de cima da fantasia, toda molhada por conta do calor, apenas, ainda, com a máscara.

Os confetes caíram, coloridos, como que em câmera lenta, assim imaginei, e ficaram colados nas suas costas.

Simulei então o encontro e desci correndo com o resto do balde de gelo que estava sobre a mesa.

Fui ao seu encontro e, pelas costas, inventei um escorregão, jogando o resto do gelo nas suas costas.

Quando você virou, eu também virei e fui em direção à varanda onde, da grade, dava para avistar a piscina. Era tradição. Último Baile de Carnaval. Banho de Piscina.

Ainda subia, misturado ao cheiro no ar de gin e cerveja, o aroma de eucalipto utilizado na sauna.

Você não falou nada e só olhou. A lágrima preta do Pierrot estava lá ainda misturada com o suor e suas costas com os confetes gelados.

Você sorriu e sinalizou que ia para a piscina.

Por um tempo ainda fiquei observando da grade da varanda.

Depois, desci e, entre centenas de foliões molhados da água da piscina, tentei encontrar você.

Acho que o avistei de longe já com a lágrima preta borrada, sem os confetes gelados nas costas e também procurando alguém.

Disfarcei e entrei no carro. Você também.

Na ladeira do clube, na cancela, ficamos esperando a liberação.

Um piscar de olhos marcou o encontro dos confetes gelados e do Pierrot!