José Mamede Calile (Abraãozinho)

Filho do imigrante sírio Mamede Issa, aportado em Ferreiros no início do século anterior, e de Lavinas Maria da Conceição, José Mamede Calile nasceu naquela localidade vassourense em 6 de setembro de 1922

 24/06/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 91
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Filho do imigrante sírio Mamede Issa, aportado em Ferreiros no início do século anterior, e de Lavinas Maria da Conceição, José Mamede Calile nasceu naquela localidade vassourense em 6 de setembro de 1922. O nome era apenas José, sendo que Mamede significava ser filho de um pai com o mesmo nome e o sobrenome remissivo ao avô Galila, que por distração do escrivão ficou grafado Calile. Mamede Issa passou a circular como mascate pelas cidades e povoados do interior do estado do Rio, assim conhecendo Lavinas (que pertencia à família Braga, de Ferreiros), cuja morte prematura deixou José no mundo com apenas 6 meses de idade. O apelido Abraãozinho veio do fato de o pai, ao chegar ao Brasil, apresentar-se a todos como Abraão e não Mamede, somente confirmado tempos depois.

De acordo com revelações muito íntimas feitas à filha Iara, José Mamede confessou ter uma lacuna de tempo em sua existência. Da infância até seus dez anos, nenhum momento ou circunstância de vida lhe vinha à memória. Contudo, seus passos começaram a tomar um norte após essa idade quando, em Portela, ele se viu entregue aos cuidados de D. Bequite, a mãe de José Antônio da Silva, o Zé Nabo. No seio dessa família e ao lado de José Antônio - mais velho 6 anos -o jovem passou a trabalhar como aprendiz de sapateiro sob os cuidados de João da Silva, o marido de Bequite.

Na verdade, havia no rapaz um grande desgosto causado pelo pai que o deixara em Portela, e ambos se reencontrariam somente quando José já contava 16 anos. A despeito de tentativas de reaproximação mais intimista entre eles, a mágoa permanecia latente no rapaz, e o relacionamento com Issa jamais foi de carinho, embora se mostrasse atencioso e puramente formal. Também outro casamento do pai traria para ele sérios contratempos. A segunda esposa, de nome Maria Issa, de pronto mostrou-se avessa ao rapaz, sempre criando situações constrangedoras para ele e provocando ásperas discussões familiares no intuito de colocar José em posição difícil perante o velho Mamede Issa. A gota d'água veio quando José, ansioso por comparecer a um baile em Portela, matreiramente subtraiu uma pequena quantia da gaveta do pai que, envenenado pela madrasta, praticamente alijou-o de sua convivência e de seus benefícios. De qualquer forma, o jovem concordou em ajudar o pai em uma pequena loja, localizada na atual rua Dr. Paulo de Frontin, no centro de Portela. Porém, ao completar 24 anos, José descobriu-se preso pelo coração ao conhecer Olga Sobral, filha do conhecido portelense Joaquim Sobral e de D. Olga de Mello Sobral, com ela se unindo em 1947. Casado, José Mamede sentiu a necessidade de ampliar seus ganhos. Talvez em função da influência exercida pelo pai, tornou-se também um mascate, comercializando os mais variados produtos em Miguel Pereira, Paty do Alferes e Avelar.

Com os lucros obtidos, abriu uma loja própria também na rua Dr. Paulo de Frontin, praticamente defronte do antigo estabelecimento do pai. Algum tempo depois, entretanto, sua vida sofreu uma agradável guinada. José passou a trabalhar no escritório da estação de Portela e em seguida no Posto Médico da Rede Ferroviária, enquanto a esposa Olga ganhava uma nomeação como professora estadual através de uma designação assinada por Romero Neto. Trabalhador nato, José deslocou-se na ferrovia para o cargo de vigia noturno, pois assim podia dispor de folgas e cuidar da sua loja, garantindo, por consequência, ganhos mais substanciais para sustento da família.

Mais equilibrado na vida, o já chamado Abraãozinho então se descobriu em condições de construir uma residência na rua Dr. Osório de Almeida, até hoje em poder da família, imóvel com residência na parte superior e armazém no térreo. Por outro lado, acabou herdando um grande prédio levantado...... pelo pai na mesma rua, logo após a sede da Sociedade Musical XV de Novembro. Lá permanece o imóvel cuja fachada exibe as iniciais M.I.S.B (Mamede Issa Sírio-Brasileiro), hoje ocupado por uma família a quem Abraãozinho autorizou morar quando da morte do chefe da família. Voltado para o campo social, foi Presidente do Portela Atlético Clube e da Sociedade Musical XV de Novembro, cuja segunda sede construiu (o Quinzão). Foi um dos fundadores da Escola de Samba Sereno Serrano e do seu segmento infantil, a Escola Sereninho, tendo sido ainda o fundador da Loja Maçônica Cedros do Líbano, da qual receberia, 50 anos depois, a Comenda D. Pedro I por relevantes serviços prestados àquela entidade. Já no campo político, veio a ser vice-prefeito de Fructuoso da Fonseca Fernandes, na gestão de 31 de janeiro de 1973 a 30 de janeiro de 1977, e suplente de vereador em 1989. Por sua vez, a esposa Olga de Mello Sobral Calileexerceu a vereança no período de 31 de janeiro de 1977 a 30 de janeiro de 1983, durante o segundo mandato de Nelzinho. Legou seu nome a Portela através dos filhos Iara (casada com Tadeu Horácio, pais de Gisele) e Ulisses (até hoje conhecido apenas como Garrincha, casado com Regina de Carvalho, pais de Patrícia e Ulisses Filho).

Olga faleceu em 30 de março de 1998, vítima de um AVC. Seis anos depois, em 21 de junho de 2014, Abraãzinho a seguiu em decorrência de uma insuficiência cardíaca.

 

Na próxima edição: Luis Gonzaga, o Rei do Baião