A criação do Brasão municipal e sua descrição heráldica

Trajetória Política e Social de Miguel Pereira

 24/06/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 403
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Primeiramente, é importante explicar que a heráldica refere-se simultaneamente à ciência e à arte de descrever os brasões de armas ou escudos, familiares e/ou sociais e militares. As origens da heráldica remontam aos tempos em que era imperativo distinguir os participantes das batalhas e dos torneios po meio de bandeiras com desenhos próprios, assim como descrever os serviços por eles prestados e que eram pintados nos seus escudos. No entanto, é relevante notar que um brasão de armas é definido não apenas visualmente, mas também pela descrição escrita que é exposta através de linguagem própria, ou seja, sua expressão heráldica particular.

Ao ato de desenhar um brasão dá-se o nome de brasonar. Para termos a certeza de que os heraldistas, após a leitura das descrições e informações estão criando seus símbolos corretamente, delineando brasões precisos e semelhantes entre si, a arte heráldica segue uma série de regras bastante precisas.

A primeira coisa que é descrita num escudo é o Esmalte (cor) do campo chamado fundo; seguem-se a posição e esmaltes das diferentes Figuras (objetos) existentes no escudo. Estas cargas são descritas de cima para baixo, e da direita (dextra) para a esquerda (sinistra). Na verdade, a dextra (do latim dextra, -æ, «direita») refere-se ao lado esquerdo do escudo, e a sinistra (do latim sinistra, -æ, «esquerda») ao lado direito, tal como este é visto pelo observador. A razão porque isto sucede prende-se ao fato de a descrição se referir ao ponto de vista do portador do escudo, e não do seu observador.

Com o decorrer do tempo, tais escudos foram adotados por muitas famílias como símbolo de nobreza, fortuna, glória e poder, especialmente na Idade Média e à época das grandes cavalarias. Aos poucos, os brasões passaram para o âmbito de ciência heráldica como representações de hierarquia eclesiástica e de corporações civis, militares, desportivas e de domínio social e governamental. Assim, os escudos heráldicos hoje são utilizados como emblemas de cidades, municípios, estados e governos republicanos ou monarquistas (sempre com uma coroa em forma de torre), neles se destacando enfaticamente as peculiaridades sociais, familiares, geográficas, econômicas, comerciais, ambientais, regionais, religiosas e políticas de qualquer célula humana que habita um determinado lugar.

 

Abaixo, a reprodução da Deliberação nº 324, de 3 de outubro de 1964, que instituiu o Brasão e a Bandeira do Município de Miguel Pereira, criados por Álvaro Corrêa Lima.[1]

 

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PREFEITURA MUNICIPAL DE MIGUEL PEREIRA

DELIBERAÇÃO Nº 324, DE 3 DE OUTUBRO DE 1964

 

                   A Câmara Municipal de Miguel Pereira decreta e eu sanciono a seguinte Deliberação:

 

ART. 1º - Ficam instituídos o BRASÃO e a BANDEIRA DO MUNICÍPIO DE MIGUEL PEREIRA, na fórmula dos desenhos anexos.

 

ART. 2º - O conjunto de símbolos instituídos no ART. 1º tem o seguinte significado:

 

A - DESCRIÇÃO HERÁLDICA: Escudo português, cortado de um traço, formando dois campos em faixa. No primeiro em goles (vermelho), no segundo em campo de bleu (azul) a fachada de uma Igreja sobre uma montanha de sinóple (verde) carregada de uma faixa ondeada de prata aguada de bleu (azul) e como suporte à destra (direita) e à sinistra (esquerda) respectivamente um ramo de café na sua cor e frutado, e o símbolo da profissão de médico, de sinóple (verde). Um listel de prata ostentando os seguintes dizeres: 1955 - MIGUEL PEREIRA - 1956. Sobretudo, como peça principal, a coroa mural de cinco torres de prata que é da cidade.

 

B - ELUCIDÁRIO: A silhueta geográfica, além de sua apresentação pouco comum, destaca, no seu traçado clássico, a via férrea passando pela sede do Município (1º Distrito) representado por uma estrela e o 2º Distrito assinalado por um ponto; a Igreja ressalta o orago de Santo Antônio; as montanhas, a situação privilegiada de terceiro clima do Brasil; faixa ondeada, o rio Santana. Datas: 1955 e 1956, respectivamente, criação e instalação (comarca) do Município.

 

C - METAIS E ESMALTES - Seus significados:

 

Ouro = a força

Prata = a candura

Vermelho (goles) = a intrepidez

Azul (bleu) - a serenidade

Verde (sinóple) = a abundância 

                              

ART. 3º - A presente Deliberação entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

 

 

PREFEITURA MUNICIPAL DE MIGUEL PEREIRA

 

                               Em, 03 de outubro de 1964

 

FREDERICO AUGUSTO DA SENNA WÄNGLER

PREFEITO MUNICIPAL (2)

 

 

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1. O Brasão foi criado durante o segundo mandato de Frederico Wängler

2. O brasão apresenta uma estrela (representando o início da estrada de ferro), um ponto (lembrando a cidade de Miguel Pereira) e uma linha (configurando a ferrovia no município). Com a anexação de Conrado, também o mapa foi modificado em seu contorno original, ganhando assim uma ampliação geográfica.

Na próxima edição: Dados Econômicos do Município em 1955