A Emancipação de Miguel Pereira - Parte 2

No plebiscito de 15 de novembro de 1954, compareceram às urnas 1.721 eleitores. O SIM teve 1.683 votos; NÃO 30 votos; em BRANCO foram 5 e NULOS apenas 3.

 27/05/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 399
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No plebiscito de 15 de novembro de 1954, compareceram às urnas em Governador Portela 760 eleitores distribuídos em seções na Escola Álvaro Alvim (142); Escola Profissional (138); Escritório da Estação Ferroviária (113); Sede da Sociedade XV de Novembro (93); Cine Ideal (115) e Bar Pontolândia (130), surgindo no escrutínio 731 votos para o SIM, 23 para o NÃO, 4 em BRANCO e 2 NULOS.

Já em Miguel Pereira, votaram 904 pessoas nas seções da Escola Antônio Fernandes I (147); Escola Antônio Fernandes II (133); Escritório da Estação (107); Estrela Futebol Clube (157); Centro Espírita Joanna D'Arc (100); Cine Miguel Pereira (128) e Cartório (123), aparecendo 895 votos para o SIM, 7 para o NÃO,1 em BRANCO e 1 NULO.

Por sua vez, Vera Cruz recebeu apenas uma seção instalada na Escola Estadual Piedade, ocorrendo ali a presença de 57 eleitores, todos optando pelo SIM. Por conseguinte, Miguel Pereira apresentou o seguinte quadro eleitoral no plebiscito:

 

Total de eleitores

Sim

Não

Brancos

Nulos

1.721

1.683

30

5

3

 

Uma vez propalado este inquestionável resultado, multiplicaram-se pelas ruas do novo município os beijos, os abraços, as lágrimas e os gritos de um povo vitorioso e excitado por novas perspectivas de crescimento. Passeatas conduzidas por reluzentes carros de praça - devidamente lavados, polidos e ajaezados para tão insigne ocasião - e cantorias e serenatas tomaram conta das ruas, vielas, restaurantes, clubes, botecos e casas de Miguel Pereira, Portela, Vera Cruz e demais logradouros, festejos que evoluíram com naturalidade para um verdadeiro carnaval temporão na Serra.

Todas aquelas incríveis manifestações de alegria eram mais do que justificáveis: Miguel Pereira enfim encontrava seu próprio caminho e desfrutava de ampla liberdade para decidir seus próprios destinos. Nossa terra, enfim, tornara-se adulta, não era mais um simples logradouro regido pelos caprichosos desígnios emanados de Vassouras.

 

Um município de Conrado a Avelar

 

É importante assinalar que, durante a divulgação das primeiras ideias a respeito da liberação de Miguel Pereira, ventilou-se a hipótese da criação de um município que se estendesse de Conrado a Avelar. Todavia, políticos influentes e comerciantes de peso de Paty do Alferes não aceitaram tal sugestão, recusando-se terminantemente a acatar a possibilidade de subordinação política a Miguel Pereira. Em razão dessa intransigência, Paty permaneceu por mais 32 anos subjugada a Vassouras, pois somente viu chegar sua emancipação em 1987. De qualquer maneira, com a desistência patiense e com a recusa vassourense de ceder o território de Conrado, formou-se de pronto o município miguelense com as localidades de Santa Branca, Arcádia, Francisco Fragoso, Vera Cruz e Marcos da Costa aglutinando-se a Governador Portela, Barão de Javary e Miguel Pereira na estruturação daquela nova unidade fluminense.

Uma vez homologado pelo Judiciário Estadual o resultado do plebiscito miguelense, os líderes comunitários e políticos do novo município organizaram diversas reuniões na sede do Miguel Pereira Atlético Clube, durante as quais proferiram outros discursos empolgados, decantaram reciprocamente suas amplas virtudes políticas e qualidades administrativas, colocaram seus nomes à disposição do povo para futuras eleições e fizeram magníficas promessas à população, como deixou registrado em seu livro o Dr. Muniz ao afirmar que:

 

"(...) após a emancipação, Miguel Pereira passou e viveu uma febre de progresso, vivendo os seus dias áureos de desenvolvimento. As grandes ideias brotavam por todos os cantos e se transformavam em realidade (...) O sonho de emancipação política, que por muitos e muitos anos fez vibrar o coração dos miguelenses, transformara-se agora em realidade feliz; e com razão, o povo ficou eternamente grato aos seus verdadeiros líderes, que souberam sentir os anseios e desejos da população e transformá-los, com trabalho e luta, tenacidade e persistência, em fatos concretos (...)"

 

O então governador Miguel Couto Filho tratou logo de legitimar o novo Município, assinando a Lei nº 2.626 no festivo dia 25 de outubro de 1955. No ano seguinte - ou mais exatamente em 26 de julho de 1956 - o mesmo governante sancionava a Lei nº 1.894 que criava a Comarca de Miguel Pereira, sendo essa instalada oficialmente em 25 de agosto de 1957 (Veja, na imagem, o momento de assinatura da Lei de Emancipação no Palácio do Ingá).

Com a criação da Comarca do Município de Miguel Pereira, urgia nomear-se para ela seus primeiros titulares, ficando seu quadro técnico-jurídico assim formado: JUIZ DE DIREITO - Dr. Hermano Duncan Ferreira; PROMOTOR PÚBLICO - Dr. Edgard Fortuna; CARTÓRIO DO 1º OFÍCIO - Walter Aguiar; CARTÓRIO DO 2º OFÍCIO - Manoel Guilherme Barbosa; CARTÓRIO DE DISTRIBUIÇÃO - Joaquim Pereira Soares Filho; OFICIAL DE JUSTIÇA - Evaristo Gomes Eiras; ASSESSOR DO OFICIAL DE JUSTIÇA - Ariovaldo Coelho; CARTÓRIO DO REGISTRO CIVIL - Norvinda Filgueiras e CARTÓRIO DE GOVERNADOR PORTELA - Celso Filgueiras.

Recordemos que, à época do plebiscito, Vassouras tinha na cadeira de prefeito o professor Cornélio. Já em 1955, no entanto, por ocasião da criação oficial do Município de Miguel Pereira, a cidade vizinha era administrada por José Bento Martins Barbosa, o Bentinho. Embora os políticos vassourenses, em sua maioria, não se conformassem com a perda de seus dois mais afamados e ricos distritos, deve-se registrar, como respeito à verdade, que uma vez implantada pelo governador aquela nova célula territorial no Sul do Estado do Rio, tanto o Poder Executivo quanto o Legislativo de nossa antiga sede não criaram empecilhos ou outras dificuldades para Miguel Pereira instalar-se política e administrativamente, tendo Vassouras cumprido com galhardia suas obrigações dentro da responsabilidade de auxiliar o município a se estruturar adequadamente nos seus dois primeiros anos de existência.

A partir de data tão auspiciosa, urgia cristalizar movimentos administrativos e partidários destinados à eleição do primeiro comandante no novo município, ou seja, seu primeiro prefeito e seus vereadores, os pioneiros cidadãos que regeriam os destinos de todos os satélites territoriais de Miguel Pereira à busca de seu futuro político, social e econômico.

 

Na próxima edição: A Eleição do Primeiro Prefeito de Miguel Pereira