Centenário de Aristolina Queiroz de Almeida

Professora, vereadora, prefeita e vice-prefeita

 23/09/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 416
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Enaltecida em quase todo o Brasil pelo fato de ser a primeira mulher a assumir o comando de uma prefeitura no Estado do Rio de Janeiro - e quiçá do próprio país -, Aristolina nasceu em Sacra Família do Tinguá (Eng. Paulo de Frontin) em 22 de setembro de 1922, filha de Arthur Monteiro de Queiroz e de Maria Batista de Queiroz, tendo como irmãos Aristotelina, Aristotelino, Maura, Mauro, Aristolino, Maurita e Mauriza.

A jovem manifestou muito cedo seu pendor para o magistério. Dotada de um natural poder de comunicação, demonstrava muita facilidade para transmitir os conhecimentos que adquiria. Por conseguinte, em 1936, ao completar tão-somente 14 anos, viu-se nomeada para trabalhar em Sacra Família sob a orientação de D. Dinah de Paiva e Silva. Um ano depois, já era responsável pela escola primária daquele distrito, alfabetizando dezenas de crianças e eliminando, nas pessoas do lugar, quaisquer dúvidas em relação à sua precoce competência e liderança. Aristolina se manteve em Sacra Família por dois anos, somando experiências profissionais e consolidando sua erudição. Em princípios de 1938, veio para Portela, indo de imediato trabalhar ao lado das professoras Carmelita de Luca e Rita de Cássia Batista, dois nomes respeitáveis dentro da área de ensino primário da cidade.

Além do trabalho que tanto amava, o coração também prendeu Aristolina em Portela. Em 12 de outubro de 1939, tendo apenas 17 anos, a jovem professora casou-se com Corintho de Almeida e Silva, e dessa união nasceram quatro filhos: Luís Carlos, Clésio Ricardo, Corintho Junior (os três falecidos), estando viva em Portela apenas Amarilles, a única filha.

Entre 1941 e 1946, Aristolina dedicou-se unicamente à família e ao magistério. Entretanto, ouvindo o pai falar de política, pouco a pouco passou a vislumbrar naquela atividade ainda incipiente na vila uma arma poderosa capaz de auxiliar o próximo e colaborar para o pleno desenvolvimento de sua terra. Seu pai, um homem perspicaz e de personalidade forte e envolvente, transformara-se num ativo líder político em Portela, tanto que em 1955 seria eleito vereador por Vassouras, onde trabalharia ativamente pela emancipação do nosso município. Tomando gosto pela política, encorajada pelos exemplos do pai e reunindo coragem - durante os difíceis tempos em que a mulher raramente penetrava naquele meio predominantemente masculino - a jovem professora mergulhou na campanha que lutava pela emancipação de Miguel Pereira, causando até mesmo certa perplexidade entre os tarimbados chefes partidários de então em razão de suas sugestões inteligentes, de sua fala clara e empolgante, de sua oratória equilibrada e de suas firmes ponderações.

Após a emancipação, Aristolina lançou-se como candidata a vereadora pelo antigo PSP, conseguindo eleger-se de maneira surpreendente e tornando-se assim um símbolo para as mulheres da sua terra e um exemplo de obstinação para seus companheiros de partido. Confiante, candidatou-se a prefeito nas eleições de 1958, sendo derrotada por José Antônio da Silva (Zé Nabo), mas emplacando o esposo Corintho na Câmara de Vereadores. Curiosamente, nas eleições de 1962 verificou-se o inverso: o marido, candidato a prefeito, viu-se derrotado por Frederico Wängler, com Aristolina retornando à Câmara de Vereadores.

Embora novamente se elegendo vereadora em 1966, Aristolina foi então convidada pelo novo Prefeito - Nelzinho - para ser a titular da Secretaria de Educação do município. No início de 1970, Aristolina transferiu o comando da secretaria para a professora Sebastiana de Freitas, dando então partida em sua campanha em busca da cadeira de prefeito nas eleições que seriam realizadas naquele ano. Em 15 de novembro de 1970, Aristolina era consagrada nas urnas como sendo a primeira mulher a alcançar aquele cargo executivo, vindo tal fato ganhar ampla repercussão no Brasil e no exterior.

Miguel Pereira passou a ser conhecida como a cidade onde apenas as mulheres mandavam. Com efeito, havia no comando do município a seguinte equipe:

 

- CHEFE DE GABINETE: Professora Maria da Conceição Machado de Carvalho

- JUÍZA DE DIREITO: Dra. Maria Helena Pelegrinetti Lourenço

- PROMOTORA PÚBLICA: Dra. Hermezinda Rocha

- CHEFE DOS CORREIOS: D. Cacilda Pinho da Conceição

- GERENTE DA AGÊNCIA LIGHT: Lygia Guimarães Bernardes

- CHEFE DO CARTÓRIO CIVIL: D. Norvinda Filgueiras

- CHEFE DE ENFERMAGEM DO INPS: D. Margarida Paes Leme Costa

 

Aristolina deixou o cargo em janeiro de 1973, repassando-o para o novo prefeito, Fructuoso da Fonseca Fernandes. Manteve-se afastada dos movimentos políticos por um longo período de tempo, só retornando às atividades públicas em 1992, quando se lançou como candidata a vice-prefeita na chapa de Antônio Arantes, com ele se elegendo para o quadriênio 1993-1996. Posteriormente, no Governo de Roberto de Almeida, ocupou o cargo de Assessora Especial da Secretaria Municipal de Bem-Estar Social, ao lado do seu titular, o Dr. Vanderlei de Souza Chaves.

Ao final desse mandato, no ano 2000, a notável mestra deixou os trabalhos políticos no Município, retirando-se em definitivo para o convívio de sua família em Governador Portela, onde faleceu em 24 de julho de 2014, pouco antes de completar 92 anos.