Dr. Virgílio Mauro - Casas, ruas e loteamentos pioneiros do município - Parte VIII

Trajetória Política e Social de Miguel Pereira

 11/11/2022     Historiador Sebastião Deister      Edição 423
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Ao mesmo tempo em que José Ferreira Gomes instalava sua farmácia junto ao Largo do Machadinho, na atual rua Machado Bitencourt, no prédio onde foi a famosa Casa Aurora - fundada pelo português Antero Nogueira e administrada pelos seus descendentes, desde os últimos anos da década de vinte, a "Pharmácia Portella", propriedade de Bonifácio de Macedo Portela (hoje funciona a farmácia DrogaMais2).

Digno de nota é o fato de que no ano de 1928 Joaquim Pereira Soares fundara sua casa de materiais de construção nas proximidades da farmácia, no mesmo ponto comercial em que atende os miguelenses até os dias atuais. Joaquim ainda contribuiu bastante para o crescimento de Miguel Pereira, pois graças a ele a cidade viu-se presenteada algum tempo depois com a construção do Hotel Guaporé, cujo primeiro pavimento abrigou por algum tempo a agência do Banco do Brasil (rua General Ferreira do Amaral), contíguo à residência da família, lá no final da Rua da Estação. A propósito, no alvorecer dos anos cinquenta, o hotel seria eleito como ponto das artimanhas políticas voltadas para os movimentos de emancipação do município.

 

Fábrica de torneiras Védeko

A família Pereira Soares também se responsabilizou pela montagem da fábrica de torneiras Védeko, cujos produtos chegaram a ser usados, em 1950, pela Marinha Mercante Brasileira em face de sua ótima qualidade. De fato, Joaquim Pereira Soares tornou-se um artífice em tal de tipo de trabalho, lançando no mercado do Rio de Janeiro diversos modelos de torneiras, destacando-se entre eles os famosos "chuveirinhos" tão utilizados em banhos íntimos, na higiene de crianças e mesmo na rega de jardins e gramados.

Por outro lado, Pereira Soares também participou das ações de abertura da estrada pela Serra que conectou Portela com Arcádia, trabalhando ao lado do notável Bernardo Sayão e de numerosos parceiros de Miguel Pereira.

Dos quatro filhos de Joaquim Pereira Soares com D. Leonora dos Santos Soares, registremos que Joaquim Filho dedicou-se, por vários anos, aos trabalhos no cartório de Miguel Pereira, Ismael transformou-se num dos mais combativos emancipacionistas locais, Waldemar chegou a ocupar o cargo de Secretário de Turismo na segunda gestão do prefeito José Antônio da Silva e José, por muitos anos, administrou a loja de utilidades gerais deixada pelo pai, comércio agora continuado pela filha Ângela.

Ao lado da loja da família Pereira Soares foi erguido um prédio onde funcionou, entre os anos de 1927 e 1930, a primeira Escola Pública de Miguel Pereira. De qualquer forma, podemos ressaltar no momento que, com a transferência da escola para outro local, aquele antigo casarão foi totalmente remodelado para que na área o comerciante Antônio "Falafina" de Almeida ali pudesse montar um dos mais movimentados e bem abastecidos postos de gasolina da cidade nos anos sessenta.

Em data indeterminada - provavelmente nos anos quarenta - fora construído ao lado do terreno do futuro posto um belíssimo sobrado em cujo andar térreo o imigrante Michel Farah implantou aquela que veio a ser a mais confortável, espaçosa e rica casa de tecidos jamais vista em Miguel Pereira: a Casa Santa Therezinha (hoje funciona a farmácia DrogaMais1).

A sofisticada loja trazia para a cidade grande estoques de vestidos, blusas, roupas íntimas, pijamas, calças, camisas, ternos, gravatas, meias, sapatos dos mais variados modelos, chapéus, cobertores, fronhas, colchões, lençóis, tudo confeccionado com os melhores tecidos da época.

Já nos anos cinquenta, o Dr. Virgílio Mauro Miguel Pereira - filho caçula do Dr. Miguel Pereira - instalou no segundo andar do mesmo sobrado a Clínica São Miguel, recebendo ali toda a população de Miguel Pereira com o maior carinho e desvelo, contando para tanto com os serviços profissionais do Dr. Pedro Saullo e do Dr. Carlos Alberto Monteiro Leite, o mesmo médico que concorreria ao cargo de primeiro prefeito do município em 1955.

A Clínica São Miguel cobriu uma preocupante lacuna nos trabalhos médico-assistenciais da Serra, principalmente nos anos que antecederam a emancipação de Miguel Pereira. Para aquela época difícil, tratava-se realmente de uma casa muito bem equipada, pois possuía sala de operações, seção de clínica geral, salas de ortopedia e pediatria e um aparelho de raios-X, uma incrível e muito bem-vinda novidade para a cidade.

A despeito de tal modernidade, o Dr. Virgílio e seus colegas por vezes viam-se incomodados com a falta de dinheiro para adquirir novos equipamentos. Por conseguinte, quase todos os utensílios médicos e de enfermagem utilizados na clínica acabavam sendo fabricados na própria cidade graças à habilidade e à boa vontade de um ou outro mecânico, serralheiro ou metalúrgico. Em entrevista ao repórter Mário de Moraes, publicada na extinta revista A CIGARRA, em junho de 1956, o Dr. Virgílio frisava:

 

"Hoje em dia, os aparelhos médicos custam uma fortuna. Estamos no início e não podemos fazer grandes gastos. Temos que improvisar muita coisa. Tínhamos necessidade de uma mesa para tratamento de fraturas. Falamos com o Luiz, um ótimo mecânico aqui da cidade, fizemos um desenho do que queríamos e aqui está a sua obra: tão boa quanto qualquer outra. Precisávamos de um ferro cirúrgico para um certo tipo de operação. Foi feito numa forja de Miguel Pereira. Ficou um pouco mais pesado do que o normal, mas tem sido muito útil. Temos necessidade de uma aparelho para furar ossos. Conseguimos da dentista desta cidade, a Dra. Lourdes Rezende, uma antiga máquina de obturar dentes e estamos adaptando-a para este fim. Boa vontade é o que não nos falta. Felizmente, o povo desta cidade é muito bom e sabe compreender o nosso esforço (...)"

 

Imagem: Dr. Virgílio Miguel Pereira, à esquerda, ao lado do amigo Francisco Marinho Andreiolo

 

Na próxima edição: Casas, Ruas e Loteamentos Pioneiros do Município - Parte IX