Previous Next

Como se podia prever, o Distrito de Governador Portela - já tão beneficiado pelos trabalhos ferroviários - viu-se bastante favorecido pela abertura da rodovia que o ligava diretamente a Arcádia.

Bazar Leal e Sociedade Musical XV de Novembro

Seu comércio enriqueceu-se com a inauguração de vários estabelecimentos voltados para a venda de produtos ainda inéditos para as populações serranas, entre as quais podemos lembrar o Bazar Leal, na rua Dr. Osório de Almeida, bem no centro da vila e propriedade de Moacir Leal, membro de uma das mais atuantes famílias de Portela. De fato, Moacir descendia de tradicional família oriunda de São José das Rolinhas e da Vargem do Manejo, e em seu procuradíssimo bazar ele comercializava de tudo um pouco, desde brinquedos e tecidos até rádios, artigos de papelaria e perfumaria e roupas prontas para homens e mulheres. Já outro irmão de Moacir - Ademar Martins Leal - ocupou, em 1942, a Presidência da Sociedade Musical XV de Novembro, e apenas essas pequenas reminiscências sobre a família Leal dão-nos a prova de sua importância dentro do desenvolvimento social, comercial, econômico e cultural de Governador Portela lá pela metade do século XX.

Padaria, Confeitaria e Bar da Matriz

Entre outras casas pioneiras de Portela, podemos destacar a Padaria, Confeitaria e Bar da Matriz, de propriedade de Antônio Joaquim Gonçalves, estrategicamente localizada ao lado da Igreja de Nossa Senhora da Glória e defronte do ponto onde estacionavam os ônibus que uniam o distrito a Paty do Alferes. Além do mais, a Padaria de "Seu" Gonçalves era vizinha direta da Igreja de Nossa Senhora da Glória - daí seu nome -, e distava poucos metros da estação ferroviária, localização que lhe garantia diariamente excelentes negócios.

Armarinho São Jorge

Descendo a atual rua Dr. Paulo de Frontin, que conecta o Largo da Matriz à rua Dr. Osório de Almeida, era impossível ao transeunte não notar o Armarinho São Jorge, do Sr. Osmar Rodrigues Ferreira. Com efeito, essa casa comercial já se notabilizara em Portela não somente por oferecer aos moradores e turistas as melhores bebidas nacionais e estrangeiras da época - além de doces e mantimentos em geral - como por introduzir naquele distrito o confortável sistema de entrega de compras em domicílio, atendendo até a pedidos através do telefone do Posto PS 1.

Alfaiates

Caminhando então pela rua Dr. Osório de Almeida, podia-se entabular uma conversação alegre e descontraída com Carvalhinho e seus irmãos, dois apreciados alfaiates de Portela que, segundo a revista Copacabana Ilustrada de setembro de 1955, eram

"(...) mestres da tesoura (...) dois gentlemen na legítima acepção da palavra. Em sua alfaiataria, à Rua Dr. Osório de Almeida, ali pertinho do bom cinema da cidade, o Cinema Império, o leitor encontrará um ambiente amável e uma espécie de consulado dos veranistas da Zona Sul que ali vão pedir informes ao Carvalhinho com referência aos últimos lançamentos em matéria de vestuário masculino. E que "stock" magnífico possui a simpática alfaiataria de Governador Portela (...)"

Nossa Quitanda e Casa Martins

Na mesma rua, compravam-se legumes e verduras bem fresquinhas na Nossa Quitanda, do sr. Manoel Benuta, ou ainda materiais de construção na Casa Martins Ltda., um dos maiores empórios da época de cinquenta em Portela. Já naqueles tempos, Martins negociava bebidas e comestíveis, forragens, louças, tintas, móveis e utensílios domésticos em geral, vidros de todos os tipos, espelhos, artigos para presentes, brinquedos e material de papelaria, além de oferecer serviços em domicílio dos profissionais por ele comandados, como bombeiros, eletricistas, vidraceiros, ferreiros e carpinteiros, novidade muito bem vinda naquela localidade onde a mão-de-obra especializada havia sido absorvida pela estrada de ferro.

Farmácia Portelense

Se o problema se remetesse à compra de medicamentos, Portela também se encontrava coberta nessa área, já que lá funcionava a pioneira Farmácia Portelense, no mesmo local onde atualmente existe uma casa com o mesmo tipo de negócio, a Farmácia Central Portelense. Sobre ela, consultemos novamente a revista Copacabana Ilustrada, de setembro de 1955, para obtermos melhores informações sobre aquele importante estabelecimento. Na ocasião, registrava o periódico:

"Todos conhecem a FARMÁCIA PORTELENSE, ali em Governador Portela, na rua Dr. Osório de Almeida, 120. É um estabelecimento tradicional que enche do mais justo orgulho os portelenses... e enche de orgulho porque firmou a sua tradição na honestidade rigorosa com que avia suas receitas. As drogas empregadas pela Farmácia Portelense são da melhor procedência e, o principal, qualquer sôro de urgência de laboratório reputado pode ser procurado naquele estabelecimento. É uma farmácia que o morador da Linha Auxiliar não procura em vão. E isto é um título de glória. Tem a Farmácia Portelense como manipulador o farmacêutico Hermínio Ventura e como auxiliar João Geraldo (..)"

Casa Valente

Quando relembramos as velhas atividades comerciais de Governador Portela, impossível não mencionar a Casa Valente Indústria e Comércio de Materiais de Construção e ainda o Hotel Rei da Montanha, propriedades de Antônio de Oliveira Valente, um dos personagens mais tradicionais, trabalhadores e inesquecíveis daquele distrito, tanto na área comercial quanto no campo político, já que ele foi honrado com o cargo de primeiro Vice-Prefeito do Município de Miguel Pereira em 1956, escudando seu fiel amigo, o Prefeito Frederico Wängler.

Hotel Rei da Montanha

Antônio Valente montara sua casa na rua Comandante Paulo Emílio - onde se mantém até hoje - pelos anos finais da década de quarenta, e logo depois, em um terreno fronteiriço à loja, abria ele o Hotel Rei da Montanha (atualmente remodelado e denominado Hotel Montanha, de propriedade de Leonel Vasconcelos), em cujo térreo funcionaria, por vários anos, o Posto de Atendimento do antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Importante relembrar que Antônio Valente veio a ser avô do ex-prefeito Cláudio Viana Valente (mandato 2013-2016).

Portela Atlético Clube

Na área de lazer, os portelenses dispunham, nas tarde de domingo, das movimentadas partidas de futebol realizadas no Estádio do Portela AC. Já à noite, organizavam-se alegres saraus dançantes na sede da Sociedade Musical XV de Novembro, ocasião de que se valiam os rapazes solteiros da vila para tentar uma aproximação mais ousada das senhoritas casadoiras do lugar. Certamente, os afamados bailes da XV de Novembro - tantos os corriqueiros quanto os movimentadíssimos e hoje saudosos gritos de carnaval - serviram de pano de fundo para encontros amorosos, namoros furtivos e declarações apaixonadas de amor entre muitos portelenses.

IMAGEM: Propriedades pioneiras de Antônio Valente, em Portela

Na próxima edição: Casas, Ruas e Loteamentos Pioneiros Portela - Parte II