Visconde e barão da Paraíba - João Gomes Ribeiro de Avelar
Paraíba do Sul, No Tempo e na História
28/03/2025
Historiador Sebastião Deister
Edição 520
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Foi agraciado com o
título de barão com Honras de Grandeza pelo decreto de 11 de outubro de 1848 e
elevado a visconde em 4 de março de 1876. Era um título de origem toponímica,
tomado do município de Paraíba do Sul, onde a família possuía ricas propriedades,
entre elas a fazenda Boa Vista, surgida da união das sesmarias Cachoeira da Boa
Vista e Surubiquara.
Para registro histórico, torna-se interessante
registrar que o Capitão Manuel Joaquim de Azevedo, grande latifundiário na área
de Paraíba, comprou a sesmaria da Cachoeira da Boa Vista pelo preço de Rs.
800$000 (oitocentos mil réis) ao então proprietário Manoel José da Silva Macedo
(que a recebera por doação régia em 7 de junho de 1811), incluindo-se ali todas
as estruturas implementadas pelo ex-dono, inclusive os equipamentos de um
grande engenho de açúcar, cujo produto enviava para o porto da Estrela (o porto
da estrela foi construído em terras da antiga Vila de Iguassu, hoje Nova
Iguaçu, alcançando trechos de Pilar, agora Duque de Caxias), dali exportando-o
para a Europa. Já em 26 de setembro de 1819, o capitão adquiriu do mesmo Manoel
José da Silva Macedo, por Rs. 450$000 (quatrocentos e cinquenta mil réis), a
sesmaria de Surubiquara, nela permanecendo a casa grande, os monjolos, os pés
de café e diversas outras benfeitorias.
O capitão - que acabaria sendo sogro do visconde da
Paraíba - transformou as duas fazendas em uma única propriedade, nela ampliando
o grande engenho de açúcar (produto que antecedeu a famosa e extensa plantação
de café no vale) e cultivando grandes extensões de cana. Após sua morte e da
esposa Rosa Luísa, a Boa Vista foi herdada por sua única filha Carolina Rosa de
Azevedo e pelo marido João Gomes Ribeiro de Avelar, que a transformaram então
em uma notável produtora de café. A sede da
Boavista foi construída
em 1834 e recebeu sucessivos melhoramentos. A esposa não alcançou a titulação
de viscondessa pelo fato de ter falecido antes de tal outorga ao marido.
Filho de Luís Gomes Ribeiro de Avelar e de D.
Joaquina Mathilde de Assunção (ambos da fazenda Pau Grande), João casou-se em
15 de novembro de 1831 com Carolina Rosa, filha do já mencionado comendador e
capitão Manuel Joaquim de Azevedo. O casal trouxe ao mundo cinco filhos,
batizados como Rosa (casada com Francisco Quirino da Rocha Werneck, da famosa
fazenda Glória do Mundo, em Werneck); Joaquim (que herdou a sede da fazenda Boa
Vista e a vendeu ao Governo Imperial. Morreu solteiro); João (homônimo do pai, casado
com Emerenciana Calvet e dono da fazenda Guaribu, em Avelar); Carolina (casada
com o primo-irmão tenente-coronel do Exército Luís Carlos Maximiano e Silva) e
Luís (formado em medicina e casado com Rosa de Castilho, filha do barão de São
Roque).
O visconde era irmão da baronesa de Paty do Alferes
(Maria Isabel Assunção de Avelar Peixoto de Lacerda Werneck), do barão de São
Luiz (Paulo Gomes Ribeiro de Avelar), do barão do Guaribu (Cláudio Gomes
Ribeiro de Avelar) e sobrinho do 1º barão de Capivary (Joaquim Ribeiro de
Avelar), todos ligados à fazenda Pau Grande, em Avelar.
Em 1860, o visconde construiu um palacete na vila de
Paraíba de Sul, cujos salões acabaram servindo como palco para várias reuniões
políticas ao longo do Segundo Império, envolvendo, em especial, personagens
importantes ligados ao Partido Liberal, segmento político preferido da família
Ribeiro de Avelar em oposição ao partido Conservador chefiado por Hilário
Joaquim de Andrade, o barão de Piabanha.
Político experiente e homem de bom trato, João
exerceu a presidência da Câmara Municipal de Paraíba do Sul, cargo equivalente
ao de prefeito da época, tornando-se ainda Coronel-Chefe da 8ª Legião da Guarda
Nacional de Paraíba do Sul e Petrópolis através de nomeação expedida em 30 de
outubro de 1841. Por duas vezes foi Vice-Presidente da Província¹ do Rio
Janeiro, designado em 10 de agosto de 1848 e em 01 de junho de 1864, ocupando
também o cargo de Deputado Provincial na primeira legislatura no ano de 1835.
Fundador do Clube da Lavoura do Rio de Janeiro, detinha as Ordens de Grande do
Império, Dignatário da Imperial Ordem da Rosa e Comendador da Ordem de Cristo.
Segundo o historiador paraibano Pedro Gomes da
Silva, o visconde tinha em sua fazenda centenas de escravos que eram tratados
com benevolência e higiene. Também prestigiou bastante a construção da Estrada
de Ferro D. Pedro II, razão pela qual a estação construída defronte de sua
fazenda recebeu o nome de Estação Avelar, denominação hoje indevidamente
substituída por Vieira Cortês. O visconde morreu em Paraíba do Sul em 12 de
janeiro de 1879.
1 O
cargo de vice-presidente de província é o mesmo que hoje vice-governador.
BRASÃO
DE ARMAS: Escudo esquartelado, no primeiro e quarto, de verde, um leopardo de
ouro passante e um chefe de ouro com três estrelas de goles; no segundo e
terceiro, de ouro, três faixas de azul carregadas de três besantesde prata cada
uma; e no centro um escudete tendo em campo de prata um ramo de cafeeiro e uma
cana de açúcar ao natural, postos em aspa. Brasão passado em 30 de dezembro de
1858, registrado no Cartório da Nobreza, Livro VI, fls. 39.