Uso meus dedos bem devagar...
Por que será que nunca me ensinaram isso nas aulas de biologia na escola?
13/05/2022
Sexóloga Clarissa Huguet
Edição 397
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E você, finalmente, consegue separar
um tempinho na agenda atribulada para se tocar. O quarto está livre, não tem
mais ninguém em casa e você nem se lembra da última vez que conseguiu se
proporcionar prazer. Entra no quarto, fecha a porta (pois apesar de não ter
mais ninguém em casa, vai que chega alguém né?! Ah, e tem os gemidos, alguém
pode ouvir, então melhor, sim, fechar a porta. Aliás, que bobagem eu estou
dizendo, eu não consigo gemer, tenho vergonha do meu próprio som. Acho aqueles
ruídos abafados que saem de dentro de mim tão estranhos, assim, eu acabo
sufocando os (meus) sons de prazer.
Deito na cama, tiro a calcinha, abro
as pernas. Uso meus dedos bem devagar, exploro a minha vulva, os lábios, dou
batidinhas pra ver se ela acorda porque faz tanto tempo que eu não me toco...,
mas meus pensamentos não me deixam relaxar. Uma parte de mim sente que é errado
e sujo, a outra, mais racional, entende que é saudável e que toda mulher deve
conhecer seu corpo e ser a protagonista do seu próprio deleite. Inclusive,
neste aspecto, os homens estão anos-luz à nossa frente, afinal, são estimulados
desde cedo a passarem horas no banheiro descobrindo sobre a capacidade
prazerosa de seus corpos.
Queria afastar estas concepções
limitadoras do meu prazer, porém elas acabam me invadindo de forma despudorada.
Por que me fizeram acreditar, desde
pequena, que eu não deveria ter intimidade com meu próprio corpo? Lembro que,
quando conheci a minha vulva, achava que o nome dela era vagina. Minha mãe me
ensinou assim porque acho que ela também não sabia. Por que será que há tanta
desinformação sobre nosso próprio genital? Seria tão mais simples se pudéssemos
conversar livremente sobre masturbação e prazer, afinal isso é questão de saúde
e bem-estar.
E o clitóris?! Jurava por muitos anos
que ele era só aquela partezinha que fica para fora bem sensível e que eu
descobri quando fui lavar minha vulva com o chuveirinho. Que surpresa quando
entendi que ele tem uma estrutura muito maior que fica pra dentro do meu corpo!
Por que será que nunca me ensinaram isso nas aulas de biologia na escola?
Essa é uma história fictícia para
terminarmos a semana com esta reflexão: por que nosso prazer ainda é tão
interditado? Com quantas dessas situações você se identifica? Você consegue,
hoje, ter prazer sem sentir culpa?
Clarissa Huguet é
bacharel em Direito, mestre em Direito Internacional pela Universidade Utrecht,
pós-graduada em Educação Sexual pela Unisal e idealizadora do perfil no
Instagram @sexualize_se - Contato (21) 99701-7225
Imagem crédito @fridacastelli