As famílias Velho da Silva e Ribeiro de Avelar
Memórias de Paty do Alferes - 09
29/03/2024
Historiador Sebastião Deister
Edição 494
Compartilhe:
O braço da família Velho da Silva foi implantado
no Brasil pelos irmãos Manoel, Amaro, Francisco e Domingos, que migraram de
Portugal durante a segunda metade do século XVIII. Nesse caso específico,
pode-se presumir que eram pessoas com nobreza no passado lusitano, todavia com
dificuldade de manter a fortuna condizente com sua posição social, o que,
explicaria, inicialmente, sua transferência para o Brasil na segunda metade dos
anos setecentos.
Enquanto Francisco e Domingos desembarcaram
no Rio Grande do Sul, Manoel e Amaro optaram por se instalar no Rio de Janeiro,
onde, em 1788, fundaram uma sociedade universal destinada a importações de
especiarias e louças da China e exportações de produtos brasileiros,
principalmente pau-brasil.
Um aspecto que pode ter interferido
positivamente no processo de ascensão social de Manoel Velho da Silva foi seu
casamento com Leonarda Maria da Conceição, filha de Antônia Tereza de Jesus e
Domingos Vieira Pinto, negociante português e capitão de embarcações de
escravos na rota Luanda - Rio de Janeiro.
Dentre os seis filhos deixados por Manoel e
Leonarda, uma filha, batizada como Leonarda Maria Velho da Mota (Dama de Honra
da Imperatriz), casou-se com o primo José Maria Velho da Silva (Conselheiro do
Império), com ele gerando Mariana Velho da Silva e um filho chamado José Maria
Velho da Silva. Foi exatamente essa Mariana quem esposou Joaquim Ribeiro de
Avellar Filho, (posteriormente agraciado com o título de visconde Ubá), o filho
do barão de Capivary (também chamado Joaquim Ribeiro de Avellar e uma das mais
expressivas figuras na condução das terras da famosa Fazenda Pau Grande).
Mariana e Joaquim trouxeram ao mundo 12 filhos, entre eles Antônio Ribeiro
Velho de Avellar, o oitavo na linha sucessória da família.
No que
se refere ao visconde de Ubá, registremos que, sendo tenente-coronel da Guarda
Nacional, Joaquim Ribeiro de Avellar Filho viu-se agraciado com o título de primeiro
e único visconde com grandeza de
Ubá por decreto de 14 de março de 1887. Nasceu em Paty do Alferes em 12
de maio de 1821, falecendo em Pau Grande no dia 7 de novembro de 1888. Convém ressaltar novamente que era filho
de Joaquim Ribeiro de Avellar, o barão de Capivary, com uma senhora casada e
moradora de Paty do Alferes, porém foi reconhecido como filho natural por escritura
pública assinada pelo pai, legitimando assim seu sobrenome e seus
direitos à herança de família.
Foi
criado sob a orientação do pai e das tias paternas na fazenda Pau Grande. Ao
atingir a maioridade, encetou uma viagem de instrução à Europa, e ao regressar aceitou
o casamento arranjado pelo pai, esposando assim Mariana Velho da Silva (1827-1898)
no ano de 1849. Mariana tinha um costado nobre, uma vez que era sobrinha
do visconde
de Macaé (Amaro Velho da Silva, seu contraparente) e da baronesa
de Jacutinga (Matilde Carolina Velho da Veiga) e também prima do conde
Mota Maia (Cláudio Velho da Mota Maia), outro parente consanguíneo.
O
visconde de Ubá foi abastado capitalista e grande fazendeiro, proprietário da fazenda
Pau Grande e de várias outras propriedades na região de Paty do Alferes e nas
cidades do Rio
de Janeiro e Petrópolis. Desprendido e
admirador do Império, emprestou sua bela casa de veraneio em Petrópolis para
que as princesas Isabel e Leopoldina passassem a lua de mel. Por seu turno, a esposa
Mariana foi uma das principais incentivadora das religiosas francesas da Ordem de Nossa Senhora de Sion para
que se estabelecessem no Brasil e fundassem, em Petrópolis, o famoso Colégio
Sion. Já em um ato de grande generosidade, o visconde de Ubá libertou, antes
de 13 de maio de 1888, todos os escravizados de suas fazendas. Por
ato de vontade expresso em vida, o casal foi sepultado na capela da fazenda Pau
Grande.
Entre os finais do século XIX e início do XX,
Antônio, o oitavo filho de Joaquim e Mariana, tornou-se um dos mais requintados
proprietários da fazenda Pau Grande, chegada às suas mãos pela linha
hereditária do barão de Capívary. Formou-se em advocacia no Rio de Janeiro,
vindo depois trabalhar como Promotor Público em Paraíba do Sul. Alguns anos
depois, exerceu os cargos de Juiz de Direito da Comarca de Vassouras e de
vereador naquela cidade no período de 24 de dezembro de 1889 a 9 de fevereiro de
1892. No interregno de 1890 a
1892 ocupou a Presidência da Câmara vassourense, voltando a presidi-la entre
1901 e 1903, ocasião em que o município recebeu a visita do jornalista e político
Quintino Bocaiúva. Foi novamente conduzido ao cargo de Presidente da Câmara na
legislatura 1904-1906, sendo posteriormente conduzido às funções de Deputado
Estadual e Vice-Presidente da Província do Rio de Janeiro.
Supostamente misógino (demonstrava verdadeira
aversão às mulheres), era culto e muito sofisticado, tendo mantido em Pau Grande um casal de
franceses de sobrenome Doyen exclusivamente para seu atendimento pessoal, levados
para lá por Mariquinha, irmã de Antônio, casada com o barão de Muritiba.
O marido desempenhava o papel de mordomo e a
esposa cuidava da casa como governanta. Na fazenda, ele determinou que duas
cozinhas operassem separadamente: uma exclusiva para pratos franceses (sempre
servidos aos seus ilustres visitantes) e outra apenas para comidas nacionais. Seu
grande sonho era ver Pau Grande transformada no "Orfanato Antônio Ribeiro Velho
de Avelar", e por essa razão deixou a fazenda para um sobrinho também chamado
Joaquim Ribeiro, pois não queria que ela ficasse em mãos do irmão Joaquim
Ribeiro Velho de Avellar, que considerava gastador, negligente e irresponsável.
A idéia não foi concretizada, porque o sobrinho morreu muito jovem. Após a
morte de Velho de Avellar, a cunhada Zizinha (que assumira Pau Grande) legou a
propriedade, por testamento, a um advogado inescrupuloso por quem se deixara
dominar.
Antônio Ribeiro Velho de Avellar morreu
solteiro em data desconhecida, e seu nome ficou perpetuado em Paty do Alferes
graças a uma resolução emitida pela Câmara de Vereadores de Vassouras que,
durante as comemorações dos 100 anos da criação da Vila de Paty em 4 de
setembro de 1920, determinou que a Praça do Centenário passasse a se chamar
Velho de Avellar, espaço hoje fronteiriço ao Centro Cultural daquela cidade e
contíguo à Praça Manoel Congo.