Nossa Senhora de Mont'Serrat
Levy Gasparian
27/06/2025
Historiador Sebastião Deister
Edição 522
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O Registro de Paraibuna ganhou grande destaque no
Brasil colonial, tornando-se uma peça-chave no desenvolvimento da região
banhada pelos rios Paraíba, Paraibuna e Preto, especialmente junto à divisa das
províncias fluminense e mineira. Em 1818, viu-se transferido da sede da fazenda
de Paraibuna, fundada no início do século XVIII por Garcia Rodrigues Paes no
atual quilômetro 86 da Estrada União e Indústria para a sede do distrito de
Mont'Serrat, que então também se formou com a titulação de Paraibuna, mas
adotando tempos depois o nome da padroeira que lembra a velha devoção espanhola
de Nossa Senhora do Mont'Serrat, da qual era devoto declarado o pioneiro
sertanista Garcia, embora tivesse ele origem portuguesa.
101
anos da presença de Dom Pedro I
O primeiro templo erguido por Garcia entre
1702 e 1703 foi sucedido por outro, erguido na segunda metade do século XVIII a
mando do Guarda-Mor das Minas Pedro Dias Paes Leme que, por sua vez, substituiu
o anterior erguido pelo pai nos primeiros anos daquele século. O povoado
ganhou visibilidade e importância em função da necessidade dos pioneiros locais
que pesquisavam um local apropriado à construção de uma ponte sobre o rio
Paraibuna que conectasse as margens mineira e fluminense do grande rio. O lugar
foi escolhido pelo administrador da passagem do rio, José Antônio Barbosa
Teixeira, o famoso Capitão Tiramorros, com inauguração ocorrida em 2 de maio de
1824 na presença de D. Pedro I.
Tiradentes
Construída então a célebre Imperial Ponte do
Madureira, lá pelos anos 1780 instalou-se no chamado morro da Formiga, pelo
lado mineiro, a Recebedoria ou Registro do Paraibuna (certamente um dos
primeiros postos de pedágio do Brasil), um belíssimo prédio dotado de dois
pavimentos abrigando salas de controle de produtos, quartos próprios para os destacamentos
de soldados, cofre de férreo de parede, balança, áreas de pernoite etc., e no
qual por vezes dormia o famoso Tiradentes quando de suas andanças de
fiscalização pelo Caminho Novo de Minas.
Entre 1857 e 1861, o povoado, pelo lado fluminense,
estava em franco desenvolvimento, pois além das instalações da Recebedoria ou
Registro na outra margem ali havia quartel para as tropas, grande empório de
gêneros variados, armazéns da Estrada União e Indústria, a espaçosa estação de
mudas de cavalos para diligências, grande balança no largo do arraial,
cocheiras, átrio da igreja, cercado e limpo, com destaque, na paisagem, da
colossal pedra de Paraibuna, um paredão imenso de granito cujo lado norte
vertical eleva-se de um só lance a mais de 400 metros de altura. Por outro
lado, é importante ressaltar que o nome da localidade foi substituído para
Mont'Serrat por conveniência dos correios, pois no Brasil já existiam muitas
localidades denominadas Paraibuna, o que causava muitos equívocos entre os
mensageiros. Por sua vez, o Distrito de Paz foi criado em 7 de outubro de 1885.
Com a chegada da Estrada União e Indústria em 1861,
o lugar desenvolveu-se ainda mais rapidamente. Contudo, estando já em ruínas a
capela da antiga fazenda de Paraibuna erguida em terras mineiras, o barão de
Santa Justa (Jacinto Alves Barbosa) e pessoas da região transportaram as
imagens para o novo povoado, do outro lado do rio, ali ampliando a atual igreja
e confirmando sua consagração a Nossa Senhora de Mont'Serrat. Portanto, o atual templo
configura uma construção dos primeiros anos da segunda metade do século XIX,
com linhas arquitetônicas de inspiração neogótica.
Dom Pedro II
Sua solene inauguração aconteceu em meados de
1857 na presença do Imperador D. Pedro II e de seu genro, o duque de Saxe
(Ludwig August Maria Eudes von Sachsen-Coburg und Gotha, casado com a princesa
Leopoldina). Lembre-se que a imagem de Nossa Senhora de Mont'Serrat, em puro
estilo barroco, chegou a Paraibuna entre os anos 1680 e 1689. Quase em tamanho
natural e coberta de veios e filigranas de ouro, fazia parte do patrimônio
particular da família Leme, a grande estirpe paulista herdeira de Fernão Dias
Paes, o Caçador de Esmeraldas. Como curiosidade, podemos registar que em sua
capela foi batizada a mãe do Duque de Caxias (Luís Alves de Lima e Silva), a
senhora Mariana Cândida de Oliveira Belo. A igreja hoje está remodelada, porém
descaracterizada em alguns de seus centenários detalhes, apresentando,
inclusive, um altar-mor dito "modernizado". De qualquer maneira, o templo oferece
um espaço razoável para qualquer liturgia, sendo que o altar principal
apresenta grande simplicidade, destacando-se na abside em arco decorado uma
imensa cruz em madeira sustentando a imagem de Cristo Crucificado. Este
altar-mor é ladeado por dois acessos que conduzem ao consistório e a demais
dependências particulares da igreja. Em uma de suas paredes encontra-se uma
capela radiante (altar lateral) que abriga as imagens de Santo Antônio, São
José, São Sebastião e Nossa Senhora Aparecida. A igreja foi elevada a paróquia
em 24 de setembro de 1884 pela Lei Provincial 2.698.
Mont'Serrat tornou-se distrito de Paraíba do Sul em 1890, dele se desmembrando em 1938 para ser realocado territorialmente no
município de Entre-Rios (hoje
Três Rios). Com a mudança desta titulação para o novo território em 1943, Mont'Serrat
passou a fazer parte do recém-criado distrito de Afonso Arinos, finalmente passando a ser parte
integrante de Levy Gasparian quando da criação deste município em 1991.Parte superior do formulário
Museu
Rodoviário de Paraibuna
Em
Mont'Serrat localizam-se o Museu
Rodoviário de Paraibuna (único no Brasil), com os antigos equipamentos e máquinas usados na construção da Estrada
União e Indústria em total abandono e completo estado de deterioração, e a Usina Hidrelétrica Bonfante
(construída sobre as águas do rio Paraibuna), com capacidade para gerar 19.000 KW
de potência. Registre-se que esta obra determinou o desaparecimento das famosas
corredeiras do rio Paraibuna, anteriormente usadas para a prática de esportes
náuticos, principalmente o rafting.
Atualmente, Mont'Serrat abriga uma população muito reduzida,
não possuindo mais as lavouras e plantações de mamona que tanto a caracterizaram
nos séculos XVIII e XIX. Conta com dois logradouros: Afonso Arinos e Serraria.
Esta última foi muito importante ao tempo do entroncamento ali da Estrada de
Ferro Leopoldina com a Central do Brasil.
Festa
Cultural de Mont'Serrat
Todos os anos, em setembro (geralmente na última
semana do mês), realiza-se a Festa Cultural de Mont'Serrat com atrações
musicais populares e oferta de barraquinhas comercializando petiscos, comidas
típicas e artesanato..
Imagem de Mont'Serrat -
Levy Gasparian