Olaria São João Marcos - Rio Claro

A sede da Fazenda Olaria repousa nas antigas terras da Sesmaria de Hilário Ramos Nogueira, a cerca de 500 metros da desaparecida e histórica Vila de São João Marcos.

 19/07/2019     Homenagem      Edição 251
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A sede da Fazenda Olaria repousa nas antigas terras da Sesmaria de Hilário Ramos Nogueira, a cerca de 500 metros da desaparecida e histórica Vila de São João Marcos. Ali, o velho Hilário estabeleceu seus engenhos de açúcar e café, hospedando em sua casa D. Pedro I no ano de 1822, meses antes da Proclamação de Independência. Na época, o prédio apresentava tão-somente um andar térreo - na verdade, uma casa baixa colonial - no centro de imenso terreiro. Nada mais existe hoje desse edifício, exceto pelos poucos vestígios de seus fortes alicerces.

Por sobre a antiga área nasceu então, em 1865, um verdadeiro palácio construído pelo comendador Joaquim de Souza Breves, conhecido à época como Rei do Café, obedecendo à arquitetura desenhada pelo italiano conde Alexandre de Fé Ostiani, casado com Rita Maria de Souza Breves, filha do comendador.

Torna-se relevante lembrar que Joaquim José de Sousa Breves nasceu em 1804 em uma fazenda chamada Manga Larga localizada na Vila de São João Marcos, vindo a falecer em 1889 no interior de sua fazenda da Grama, no distrito rio-clarense de Passa Três, sendo filho do açoriano e Capitão-mor José de Souza Breves e de Maria Pimenta de Almeida Breves. Dono de dezenas de fazendas e de uma fortuna colossal, Joaquim foi, além de abastado fazendeiro, coronel da Guarda Nacional Brasileira e o primeiro cafeicultor a receber a alcunha de Rei do Café.

Foi feito Comendador da Imperial Ordem de Cristo e Oficial da Imperial Ordem da Rosa, comendas outorgadas pelo próprio Imperador D. Pedro II. Joaquim possuía terras que se estendiam desde São João Marcos até o sul do estado de Minas Gerais, áreas que dariam origem a diversas cidades nessa região fluminense, entre elas MangaratibaRio ClaroPiraíBarra do  Piraí, PinheiralMendesVassourasValença e Rio das Flores.

O casamento naquele tempo era mais um negócio de família do que uma questão de sentimento. Casou-se com sua sobrinha Maria Isabel de Moraes Breves, filha dos barões de Piraí, José Gonçalves de Moraes e Cecília Pimenta de Almeida Frazão de Souza Breves, irmã de Joaquim. O casal gerou oito filhos: Cecília, Saturnina, Leôncia, Maria Isabel, José Frasão, Joaquim José, Rita e Mariquinhas.

Por nascimento e posição foi admitido no Paço como moço fidalgo da Casa Imperial. Em 15 de agosto de 1822, em São João Marcos, incorporou-se à comitiva regencial como Guarda de Honra de D. Pedro I, indo a São Paulo e Santos, supostamente tendo assistido, na viagem de retorno, ao Grito da Independência junto ao riacho Ipiranga. Dos presentes que presenciaram esse fato histórico, Sousa Breves foi o último a falecer.

Segundo o memorialista Luiz Ascendino Dantas, estudioso da História de São João Marcos,


     "(...) O palácio Olaria compunha-se de dois andares, construídos de pedra e cal, com madeiras escolhidas e tiradas das matas da própria fazenda. O andar térreo apresentava 10 janelas de frente, 2 portas e 1 portão, este dando entrada para o pátio de pedra lavrada; 6 quartos e sala de jantar; 3 salas menores para recepções, corredores, 1 sala para serviço de copa e despensa, 6 janelas, 4 portas e portão pelo lado dos fundos.

O andar superior continha 7 portas de sacada e 8 janelas de frente, com 10 janelas para os fundos; 6 janelas de lado; 10 quartos; 4 grandes salas, 2 corredores, 1 sala para capela, com 16 portas internas que davam entrada para os salões; 2 escadarias envernizadas, uma saindo do pátio de pedra, e outra da entrada para o saguão interno, e ainda um portão para entrada geral.

Havia uma grande cozinha com 2 quartos de 2 portas e 5 janelas, e uma dependência que servia de enfermaria e farmácia, e escada para outros misteres.

Das casarias existentes até 1910 - como senzalas, armazéns, depósitos, paióis, casa de tropa, ferraria, carpintaria e engenhos, nada mais existe (...) A Companhia Light and Power demoliu aquilo tudo para aproveitar os materiais em seus serviços de inundação de São João Marcos e construção da grande represa de Ribeirão das Lajes (...)"


Apenas como registro, a Represa de Ribeirão das Lajes, com área de 204 km2, é formada pelos Ribeirões Pires, da Prata e Machado e pelos Rio Piraí e Paraíba do Sul, abrangendo terras dos municípios de Rio Claro e Piraí. Infelizmente, a histórica Vila de São João Marcos (uma das mais ricas na área de Rio Claro em finais dos anos oitocentos) acabou desaparecendo do mapa para a formação da grande represa.

De acordo com as estatísticas de 1906, a Fazenda da Olaria possuía 1.303 alqueires, abrangendo bosques, capoeiras e lavouras em geral, sendo irrigada por vários riachos de denominações diversas. No gramado da frente do prédio, havia um enorme repuxo de pedra e cimento, circundado por bancos de pedras e paus toscos, mas toda essa beleza desapareceu em razão do descuido de seus administradores.

Já no lado interno, existia uma praça calçada com macadame, que servia como terreiro de secagem de café e de outros cereais. Por sua vez, o engenho de açúcar deixou de funcionar para ceder seu espaço aos aparelhos de destilação de aguardente. Por seu turno, a cafeicultura da fazenda permaneceu em produção até 1898.

 

Fonte Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba

Na próxima edição: São Paulo (Conservatória-Valença)