Santa Cruz de Mendes - 68 anos de liberdade

Mendes surgiu por conta da instalação de um pequeno rancho para pouso de tropas erguido às margens do Caminho do Tinguá que conectava a aldeia de Valença com o Rio de Janeiro

 17/07/2020     História      Edição 301
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Mendes surgiu por conta da instalação de um pequeno rancho para pouso de tropas erguido às margens do Caminho do Tinguá que conectava a aldeia de Valença com o Rio de Janeiro. Suas primeiras construções foram erguidas por volta de 1820, quando o café começava a despontar pelo Vale do Paraíba. A cidade teve, originalmente, características de núcleo de apoio às atividades rurais, mas, segundo consta, a ocupação de suas terras teve início com os trabalhos da Fazenda Santa Cruz, posteriormente administrada pela família Mendes nos albores de 1847. A partir de então, a modesta vila cresceu e, pelos idos de 1850, passou a ser conhecida por Santa Cruz dos Mendes.

O grande crescimento da lavoura cafeeira possibilitou a vinda da ferrovia para a região. Em 1864, completou-se por ali a Estrada de Ferro D. Pedro II, e às margens dessa ferrovia levantaram-se as estações de Mendes, Humberto Antunes, Martins Costa, Nery Ferreira e Morsing, além da construção dos túneis Grande 12 Bis inaugurados pelo Imperador em 1865.

Em 1889, foi implantada na cidade a Companhia de Papel Itacolomy, início da fase de sua industrialização, e logo seguida a abertura da fábrica da Cervejaria Teutônia e da fábrica de fósforos Serra do Mar, além do funcionamento do conhecido Frigorífico Anglo. Desta forma, a vila viveu 2 fases bem típicas de crescimento: a primeira ligada ao cultivo do café, no século XIX, e a segunda com o crescimento de suas indústrias no século XX. Registre-se que Mendes foi território de Piraí, de Vassouras e de Barra do Piraí. Todavia, graças ao seu grande crescimento econômico e demográfico, conseguiu emancipar-se em 11 de julho de 1952 graças à Lei n.º 1.559, referendada em definitivo em 11 de janeiro de 1953.

 

A Capela de São José das Paineiras do Colégio Marista

 

Além de várias atrações culturais e turísticas, há que se destacar, em Mendes, a Capela de São José das Paineiras agregada ao Colégio Marista, um belíssimo prédio de arte neoclássica ainda em pleno funcionamento. Destaque-se que a Ordem Marista foi criada por Marcellin Joseph Benoît Champagnat, conhecido na língua portuguesa como Marcelino José Bento Champagnat, nascido em 20 de maio de 1789 em Marlhes, uma aldeia nas montanhas do centro-leste da França, nas proximidades de Lyon. Filho de um agricultor, veio ao mundo exatamente quando da explosão da Revolução Francesa. Durante aquele período, sofreu grande choque ao ver sua mãe e uma tia serem expulsas de um convento na França. Dotado de grande vocação religiosa, iniciou seus trabalhos católicos quando contava somente 14 anos. Após conhecer Jean Claude (o fundador dos Padres Maristas) no Seminário Maior de Lyon, juntou-se a um grupo de seminaristas objetivando fundar uma Congregação que abrangesse padres, religiosas e uma Ordem Terceira levando o nome de Maria, logo batizada como Sociedade de Maria. Aos 27 anos, lodo depois de se ver ordenado Presbítero dessa Sociedade, fundou o Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria e das Escolas Irmãos Maristas em 2 de janeiro de 1817, coadjuvado por apenas dois de seus primeiros discípulos.

Marcelino tinha apenas 51 anos ao falecer em 6 de junho de 1840 na localidade de Notre Dame de l'Hermitage. Foi canonizado pelo Papa João Paulo II em 1999.

A Instituição Marista atua em 77 países dos cinco continentes, trabalhando nas áreas de educação, evangelização, assistência social, saúde, comunicação e cultura, atendendo tanto o público masculino quanto o feminino, tendo presença marcante no Brasil. De fato, Em função de sua notável qualificação no processo ensino-aprendizagem, o Colégio Marista do Brasil estendeu muitos tentáculos pelo país, inclusive para região Sul Fluminense.

Com efeito, ao tempo em que Frei Marcelino crescia em França, várias propriedades rurais prosperavam em terras brasileiras, entre elas uma grande sesmaria que em finais do século XIX abrigaria um centro religioso ligado aos Irmãos de Caridade de São Vicente de Paulo e parte da Mitra Diocesana. Ali, em 1903, surgiria o Centro Marista São José das Paineiras inserido no território do município de Mendes.

O complexo de São José das Paineiras é uma das marcas sociais, turísticas e culturais mais significativas de Mendes, cujas dimensões realmente impressionam o visitante. Dispõe de ótima hotelaria estruturada em 62 apartamentos e 79 quartos que oferecem 400 leitos. Possui ainda salões e salas multifuncionais, 3 restaurantes, com vitrais que contam a história de frei Marcelino, 1 Ginásio Poliesportivo, 2 piscinas e recinto especial para confraternização dotado de equipamentos de som e multimídia. Todo o belo conjunto arquitetônico oferece, também, vasta e bem conservada área verde com pátios gramados ideais para exercícios físicos, no coração da qual desponta, solene, uma serena imagem da Virgem Maria.

Todavia, o espaço mais extraordinário de São José das Paineiras é a capela consagrada ao Sagrado Coração Eucarístico de Jesus, concluída em 1949, cujos vitrais de grandes dimensões e cores vivas retratam parte da vida de São Marcelino. Percebe-se em todo conjunto pictórico da capela o objetivo de seus autores de reviver as admiráveis proporções e pinturas da Antiguidade Clássica. No estilo de tais obras sente-se, também, um pouco de derivação influenciada pelas artes medievais das iluminuras e vitrais, com uso quase abusivo da tinta a óleo. De fato, os arquitetos e pintores da época buscaram elaborar suas obras a partir de um esquema de perspectiva circular e amplificada e de proporções perfeitas, mantendo uma hierarquia neoclássica com efeitos decorativos medievais ajustados a um forte simbolismo religioso.

A vasta abside semicircular, em tom pastel amarelado, abriga um grande painel onde a cruz salvadora é reverenciada por dois anjos. Florões dourados contornam a abside que, por sua vez, resguarda um belo o sacrário alocado em um espaço recuado da mesa do altar. Nas paredes, surgem absides radiantes contendo diversas imagens em tamanho quase natural, todas delimitadas por oito colunas de capitéis coríntios interligadas por prolongamentos que seguem pela abóboda, decorando-a e ao mesmo tempo sustentando-a, permitindo assim o aproveitamento dos espaços criados pelas arquitraves para a ornamentação pictórica onde prevalecem flores renascentistas estilizadas que representam o elemento sagrado existente naquela ambiência de fé. Ao mesmo tempo, as colunas separam os belos vitrais e as capelas radiantes, determinando assim uma composição estrutural que lembra bastante a arte românica europeia. Do botão central de cada rosácea do teto pendem quatro belíssimos lustres trabalhados em metal, que complementam, com sua luminosidade harmoniosa, o grande vão da aconchegante e colorida nave que abriga dezenas de bancos de madeira.