O Grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes
Capítulo 33 - A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira
18/03/2022
Historiador Sebastião Deister
Edição 389
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Sempre conduzido com habilidade e competência por D.
Jandira, o Grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes funcionou em seu decrépito
casarão até meados de 1956, quando suas estruturas carcomidas pelo tempo vieram
abaixo num lamentável estrépito de tijolos podres e madeira esfarelada pelos
cupins. Quis o destino que essa fatalidade acontecesse em um período de recesso
da escola, não se verificando assim nenhuma vítima em meio aos escombros.
Contudo, os destroços encobriram carteiras e mesas, prateleiras e armários,
livros e cadernos e, principalmente, anos e anos de trabalho árduo e dedicado e
muito dos sonhos de tantos professores e pais de alunos.
Somente em face dessa infausta ocorrência, a Estrada
de Ferro atendeu aos pedidos da Prefeitura - reivindicação ainda mais
complicada pelo fato de Miguel Pereira encontrar-se em campanha política para
eleger o seu primeiro prefeito - e cedeu o grande solar antes ocupado pelo
engenheiro residente para que nele se instalasse provisoriamente o Grupo
Escolar, uma vez que o Governo do Estado, comandado por Miguel Couto Filho, já
ultimava os preparativos para a construção de prédios próprios em Miguel
Pereira e Portela, cujas inaugurações seriam efetivadas em 15 de novembro de 1957.
Professora Maria da Conceição Machado
Também em 1957, outra admirável professora veio
agregar-se ao Corpo Docente do Grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes. Oriunda de
Teresópolis, Maria da Conceição Machado aportou em nossa cidade dotada de
vastos conhecimentos de Língua Portuguesa e tomada de muita disposição e
energia para o trabalho, sendo prontamente requisitada para lecionar no
recém-criado Curso de Admissão ao Ginasial dirigido pelo eclético professor
Mário Vasconcelos Lopes Rêgo, personagem notável cujo trabalho iria desembocar
na criação do Colégio Cenecista da cidade. Enérgica, extremamente bem
articulada no falar, segura em suas explanações, sisuda por vezes, mas
plenamente consciente da importância do serviço que devia executar, Conceição
Machado logo se impôs como uma das mais qualificadas professoras de Miguel
Pereira. Mostrou-se de imediato uma disciplinadora por excelência e uma
educadora nata, munida de um inesgotável repertório pedagógico e didático para
ensinar sua matéria e, a exemplo do que ocorrera com D. Jandira décadas antes, Conceição
também vinha manter um caso de amor recíproco com Miguel Pereira, aqui se
estabelecendo e formando sua família. Ao longo de suas aulas notáveis
desfilaram várias gerações de estudantes que até os dias atuais reverenciam sua
forte personalidade e sua admirável capacidade como profissional, visto que
mesmo após quase quarenta anos de profícuo magistério no município, ela continuou
soberana nos sagrados meandros de seu mister, colaborando ainda na formação de centenas
estudantes e repassando para suas colegas mais novas sua larga experiência e os
claros benefícios de sua afetuosidade ímpar e desinteressada. Infelizmente,
Conceição nos deixou em 27 de janeiro de 2017.
Em 1958, quando dos preparativos de abertura do ano
letivo no grupo Escolar Dr. Antônio Fernandes - o primeiro em seu prédio
próprio, inaugurado com grande pompa pelo prefeito Frederico Wängler (Fritz) e
pelo governador Miguel Couto Filho - Fritz presidiria uma importante reunião na
secretaria da escola ao lado do Dr. José Nunes de Paula Leite, então chefe de Inspetoria
da 3ª Região Escolar, a fim de homologar a indicação de professoras pela
Prefeitura, as quais deveriam formar o Corpo Docente e o Quadro Dirigente
daquela unidade de ensino, agora confortavelmente instalada em sua sede. É
preciso mencionar que, à época, muitas das indicações de professores eram
prerrogativa do Prefeito Municipal, o que dá uma ideia das ingerências
políticas e dos problemas de apadrinhamento e protecionismo que surgiam nas
escolas em períodos de indicação de funcionários e diretores de unidades
escolares no Estado do Rio. Naquela reunião, Frederico Wängler apontou os nomes
das professoras Anita Alves, Ady Vizeu, Hilda Deister, Dely Andreiolo Corrêa e
Maria da Conceição de Ávila Pinto para os cargos que detinha em suas mãos e,
para satisfação geral e até mesmo surpresa de muita gente, tais nomes em
absoluto foram contestados ou causaram desagrado entre os presentes, sendo logo
unanimemente aceitos por todos.
A nata do professorado miguelense e portelense ali
se encontrava reunida com o Prefeito e o Inspetor Paula Leite: Aristolina
Queiroz de Almeida, Lina Montemor, Lucila de Oliveira Mariotti, Jandira Telles
Leme Pragana, Maria José Souto Soares, Zinah Macedo de Almeida, Enir Leal Luiz,
Léa de Almeida Queiroz, Edy Moura de Vasconcelos, Nádia Brügger da Fraga,
Corina Dantas Moreira, Solange Teixeira, Ana Teixeira Alves, Maria Silvia
Lettieri, Lêda Theresinha da Costa Lima Gimenez, Cléa Ferreira de Silva, Nely
Maria Jorge, Rosa Maria Flores, Ida Barreiros Soares, Maria José Montemor, Maria
Olympia Braune Collet, Wany d´Ávila Babo, Maria de Lourdes Gomes Leite, Mauriza
Monteiro Queiroz, Hilda Deister, Maria da Conceição Machado, Nilda Leal
Machado, Yedda Brügger da Fraga, Maria da Conceição de Ávila Pinto, Tereza
Signorelli, Lia Figueiras e Ady Fernandes Vizeu. Algumas dessas professoras,
aliás, seriam indicadas para trabalhar no Grupo Escolar Dr. Álvaro Alvim, em
Portela, que ganhara também seu prédio no ano anterior.
A construção do prédio do Grupo Escolar Dr. Antônio
Fernandes causara algumas polêmicas acerbas em Miguel Pereira, pois para tanto
fora necessário desativar o antigo e estimado campo de futebol do MPAC, um
verdadeiro patrimônio das antigas famílias do lugar. Entretanto, após a
inauguração da escola, o povo acabou por se convencer do acerto daquela
escolha. Bem localizado, amplo, arejado, moderno e confortável, contando com
dez espaçosas salas de aula, quatro banheiros, sala de direção e de
professores, salão de reuniões e demais dependências destinadas à implantação
de um consultório médico e de um gabinete dentário, a escola ainda oferecia
cantina e cozinha de ótimas proporções e um grande pátio coberto para a prática
de educação física. Como se não bastassem todas essas qualidade estruturais, o
prédio também vinha abrigar, à noite, o recém-fundado Ginásio Professor Miguel
Couto e o Colégio Comercial Professor Miguel Pereira, os quais, aglutinados,
dariam origem ao Colégio Cenecista Professor Miguel Pereira, ligado à Campanha
Nacional de Escolas da Comunidade (CNEC).
Hoje, o Colégio Antônio Fernandes já dispõe de
outras ampliações, como um maior número de salas de aula, biblioteca e quadra
esportiva polivalente, além de alguns cursos especializados, entre os quais se
destacou, há pouco tempo, o Curso Técnico de Turismo. Até política e
administrativamente essa construção foi fundamental para o município, pois entre
1958 e 1977 um dos seus salões abrigou a Câmara Municipal de Vereadores,
enquanto a sede dos poderes executivo e legislativo entrava em processo de
construção. Ao longo de décadas de funcionamento, o Grupo Escolar passou por
várias reformas e diversos melhoramentos, vindo posteriormente ser designado
como Colégio Estadual Dr. Antônio Fernandes, uma vez que passou a abrigar
também cursos de 2º Grau.
Na próxima edição: O
Ginásio Dr. Miguel Couto