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O governo, finalmente, enfrenta os vilões do mercado de combustíveis

Em artigo, o empresário Ricardo Magro aponta os vilões do mercado de combustíveis e reconhece que o governo, finalmente, os está enfrentando

Edição: 488
Data da Publicação: 16/02/2024

Independentemente de posições políticas ou ideológicas, os acertos de uma gestão governamental devem ser reconhecidos. Pela primeira vez na história recente brasileira, um Governo teve a coragem de enfrentar uma situação fática encarada pelo Brasil desde o início do século vinte.

A data seria 1910, quando empresas multinacionais deram os primeiros passos na distribuição do combustível no Brasil. Desde então, os nomes variaram algumas vezes, mas sempre poucas empresas tiveram uma participação gigantesca na distribuição de combustíveis no país.

Diferentemente da maioria dos demais países do mundo, no Brasil, essas gigantes da distribuição participam apenas de uma etapa do processo da indústria do petróleo. Essa etapa, que consiste na mais simples, pois não necessita de grandes investimentos na indústria, na prospecção e praticamente não detém um elevado risco retorno, deveria ser aquela de menor rentabilidade da indústria do petróleo.

No Brasil, porém, a realidade sempre foi inversa. A Petrobrás investe em prospecção, investe em refino, e gigantes da distribuição, que pouco agregam no processo, realizam margens de lucros absurdas, as quais, percentualmente, não existem em nenhum outro lugar do mundo.

Infelizmente, nunca na história brasileira, alguma autoridade havia olhado para essa realidade. Esse vácuo possibilitava que as reduções de preço praticadas pela Petrobrás e ocorridas no mercado internacional de petróleo não chegassem diretamente ao consumidor brasileiro.

No período do governo Dilma, segundo dados do Tribunal de Contas da União, a área de refino da Petrobrás teria realizado um prejuízo que superava a casa dos 60 bilhões de reais, considerando o preço internacional do petróleo. Inacreditavelmente, no mesmo período, essas gigantes da distribuição aumentaram seus lucros e tiveram retornos nunca antes vistos na distribuição dos combustíveis. Enquanto a Petrobrás subsidiava os derivados de petróleo com o intuito de beneficiar o consumidor, o comércio e a indústria, as gigantes da distribuição, aumentavam suas já incríveis margens de lucro e não repassavam o subsídio para os consumidores brasileiros.

Mesmo diante dessa escandalosa prática, nada era realizado como política governamental. Paralelo a isso, as gigantes do segmento acusavam empresas de menor porte de sonegadoras quando as mesmas tentavam repassar essa redução de preço para o consumidor final.

O mesmo aconteceu em 2022 e 2023 com a entrada do óleo diesel russo, quando as grandes companhias acusavam a redução de preço praticada por empresas de menor porte devido à origem do produto, ou seja, hipocritamente, acusavam as empresas que vendiam mais barato de estarem vendendo produtos de origem Russa.

Essa realidade, porém, parece que está mudando. Pela primeira vez, o Conselho Nacional de Pesquisa Energética enfrentou essa questão que impacta diretamente o bolso do consumidor brasileiro e que reflete nos produtos comercializados no país. Em ato inédito, o CNPE discutiu e concluiu que a Petrobrás deveria reanalisar as cotas de combustíveis concedidas para as empresas de distribuição. A Petrobras, portanto, não deveria beneficiar as gigantes do mercado de distribuição de combustíveis, como havia feito desde sua criação, mas, na realidade, alimentar a concorrência do mercado, concedendo maiores volumes para distribuidoras que detenham participações menores de mercado. Isso tornaria possível, então, que reduções de preço realizadas pela Petrobrás ou pelo mercado internacional de petróleo chegassem diretamente ao consumidor final ao invés de utilizadas para aumentar ainda mais as desmedidas margens de lucro das gigantes da distribuição no Brasil.

Esse reajuste de mercado, culminado com o ingresso do óleo diesel russo, possibilitou que os preços ao consumidor sejam os menores possíveis. Parece que, pela primeira vez, o Governo começa a enxergar quem realmente são os grandes vilões do mercado de combustível brasileiro.

Conclusão

A decisão do CNPE é um importante passo na direção de reduzir os preços dos combustíveis para o consumidor brasileiro. É preciso continuar pressionando o Governo para que tome medidas efetivas para reduzir a concentração do mercado de distribuição de combustíveis e garantir que as reduções de preço cheguem realmente ao consumidor final.

 

Fonte Ricardo Magro