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O CBD no retardamento de crises de epilepsia: efeitos e custos

No continente, cinco milhões de pessoas têm epilepsia e metade não recebe tratamento, segundo dados da Organização Mundial de Saúde

Edição: 314
Data da Publicação: 16/10/2020

Dez países da América Latina possuem algum tipo de regulamentação para viabilizar o uso da Cannabis medicinal, embora seu acesso seja muito restrito devido aos altos custos econômicos e à burocracia.

O Reino Unido é o maior exportador internacional de cannabis, seguido pelos Estados Unidos. Mas importar esses óleos de maconha é quase um luxo para qualquer família latino-americana pertencente à classe média. Como os países com regulamentações não garantiram mecanismos de acesso eficazes, as famílias que precisam dos produtos plantam maconha em seu jardim ou fazem parceria com outras pessoas ou com plantadores de apoio para produzir o óleo regularmente.

 

Uma extração dificilmente acessível

 

No continente, cinco milhões de pessoas têm epilepsia e metade não recebe tratamento, segundo dados da Organização Mundial de Saúde. Dois terços deles nem mesmo acessam programas de saúde, especialmente na América Latina e no Caribe. Talvez seja por isso que o extrato de cannabis caseiro tenha tanto impacto.

 

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A epilepsia refratária não responde à medicação tradicional, mas a cannabis de grau farmacêutico "melhora significativamente menos de um terço das pessoas, melhora a qualidade de vida de outro terço e não faz nada para outro grupo", explica a neuropediatra Andrea Rey. Há quatro anos, Rey prescreve o único medicamento padronizado pelos cânones da indústria farmacêutica, e que o Uruguai, o primeiro país a regulamentar a cannabis, importa da Suíça. Uma embalagem de 30 mililitros de canabidiol (CBD) a 5% custa 180 dólares, quase a metade de um salário mínimo uruguaio. O produto só é comprado em farmácias e com receita médica especial.

O CBD, um dos 100 ingredientes ativos da cannabis, retarda alguns sintomas epilépticos e outras síndromes. Por não ser um psicoativo, é usado também em crianças. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime pediu para não confundir o THC, um componente psicoativo da cannabis, com CBD. "Seria útil se as políticas, a legislação e o debate público abordassem essas questões de forma mais clara", sugere o Relatório Mundial sobre Drogas 2019.

 

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Uma revisão recente mostra que o CBD reduz a frequência das crises, junto com os medicamentos antiepilépticos. Embora por três anos o achado tenha sido considerado evidência do tipo I (o nível mais alto permitido pelos padrões farmacêuticos), aqueles que sofrem de epilepsia e suas famílias já sabem disso há mais tempo.

Em toda a América Latina, existem associações de mães e pacientes que desenvolvem o complexo botânico para lidar com dores e síndromes. Esses óleos caseiros são criticados por médicos e especialistas, mas eles demonstraram eliminar os sintomas em 27 dos 272 pacientes epilépticos nos Estados Unidos. Além disso, um em cada três ataques foram reduzidos entre 76% e 99%.

 

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A ação combinada de todos os seus princípios ativos (canabinóides, terpenos e flavonóides) é conhecida como efeito entourage. Embora os compostos isolados da cannabis tenham resultados em várias patologias, como o CBD para epilepsia, a ação conjunta de todos os seus princípios ativos pode ser mais eficaz. Existem fortes indícios disso na dor crônica, na inflamação e no combate às células tumorais.

Dos quatro medicamentos derivados da cannabis cientificamente reconhecidos que são comercializados em vários países, três são compostos isolados ou sintéticos com CBD, THC ou alguma combinação dos dois, e apenas um é um extrato vegetal completo.

 

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Pedro Wong, químico farmacêutico do Peru, acompanha usuários de extratos caseiros e alerta que "a sinergia de cada metabólito atinge maior biodisponibilidade". Ou seja, os metabólitos estariam presentes em maior grau e em maior velocidade quando atuam juntos do que se atuassem separadamente. Com maior biodisponibilidade, a cannabis como medicamento "estará mais presente e será melhor assimilada pelo organismo", afirma o farmacêutico.

O potencial máximo da cannabis como medicamento "está em sua extração completa, ela funciona melhor do que os monocompostos", diz. "Quem precisa vai preferir um extrato completo", acrescenta Wong com base em sua experiência terapêutica.

 

Fonte: Sechat/La Diaria