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Episódio do Pirara e as ONGs estrangeiras

Uma prática de mais de 200 anos

Edição: 406
Data da Publicação: 15/07/2022

Por volta de 1830, o Brasil já independente, o Império brasileiro deparou-se com a presença de uma missão religiosa britânica onde hoje é o estado de Roraima. O império britânico se deu conta de que todos os rios que nasciam em sua Guiana só davam acesso ao Caribe e não à bacia amazônica, à qual queriam acesso, enquanto o Brasil o dava aos dois lados (Caribe e bacia amazônica).

A Inglaterra contratou dois agentes através da ONG britânica Sociedade Geográfica Britânica. Financiaram a expedição dos irmãos. Eles entraram no território brasileiro, fizeram um mapa detalhado, entregaram para a referida ONG, dizendo que, se a Inglaterra quisesse ter acesso à bacia dos rios da Amazônia, ela teria que estender seu território para dentro do território brasileiro, tendo acesso às nascentes do rio Branco, do rio Branco para o rio Negro e do rio Negro para o rio Amazonas.

Entregue o relatório, a Inglaterra mandou uma missão religiosa que foi à área indicada pelos dois agentes, doutrinou os índios, ensinou inglês, mas o governador do Pará obrigou essa missão a se retirar. Eles se retiraram, mas levaram os índios até Georgetown, onde estes pediram proteção do império Britânico contra o Brasil. Os britânicos mandaram tropas do exército ocuparem aquela área, que já estava demarcada como território brasileiro.

O império brasileiro não tinha forças para expulsar a missão militar inglesa e para não consolidar essa ocupação, o Brasil pediu que essa área fosse considerada em "litígio", para que a Inglaterra não a declarasse inglesa.

A área foi declarada em litígio. O império brasileiro lutou para que a demanda fosse julgada por um fórum internacional, por uma arbitragem internacional, como foi julgada na França, na Guiana, na Argentina com o Peru. No início do século XX, em 1903/4, a Inglaterra aceitou submeter a arbitragem ao rei da Itália. O Brasil designou o embaixador Joaquim Nabuco (era o que tínhamos de melhor) junto com o Rio Branco. Joaquim Nabuco era um jurista consagrado, respeitado, que terminou como embaixador do Brasil nos EUA. Joaquim Nabuco fez um grande laudo.

O rei da Itália tinha recebido, na partilha da África, uma região chamada Abissínia, (atual Etiópia), e o rei italiano dizia, publicamente, que não gostava do Brasil, e foi ele quem julgou e pegou a maior parte de nosso território, em litígio (2/3) e deu para a Inglaterra, dando acesso a esses rios que nasciam no Brasil e passaram a nascer na Inglaterra.

O que foi isso? Foi o trabalho de poderosíssimas ONGs apoiadas pelo governo inglês, que depois fizeram o contrabando de 70.000 mudas de seringueiras da Amazônia, subornando a alfândega de Belém do Pará, mas essa é outra história.

Esse episódio foi contado pelo ministro da Defesa do governo Lula e, depois, ministro de Dilma, Aldo Rebelo, mostrando que o trabalho de ONGs estrangeiras é muito antigo e muita gente ainda acha que faz parte de teoria conspiratória. Na verdade, é um tipo de intervenção usada há séculos.