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Energia solar é extremamente estratégica
Adalberto Maluf é brasileiro e foi diretor da mega empresa chinesa BYD - Build Your Dreams, que é a maior empresa de veículos elétricos do mundo
Edição: 415
Data da Publicação: 16/09/2022
A
energia solar é extremamente estratégica no Brasil, tão estratégica que a
Absolar - Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica - tinha feito uma
proposta para o Brasil, que era equipar 1.200.000 telhados até 2030, o que geraria
quase 300 bilhões de reais de investimentos, podendo criar 1,8 milhão de
empregos só na indústria de fonte solar fotovoltaica. Esse tipo de energia
custa 34 vezes mais barato do que as usinas térmicas.
Ainda
assim, o Congresso Nacional enfiou goela abaixo a contratação de 8 GW de
térmica a gás num lugar que não tem gás, e, só para a construção desses
gasodutos, o custo é acima de 100 bilhões de reais, inclusive com dinheiro do
orçamento secreto, o que é uma aberração mundial.
Mesmo sem
apoio, o Brasil vem instalando e gerando praticamente uma usina Itaipu em
equipamentos fotovoltaicos. A cada 4 meses, é instalado o equivalente a uma
usina hidrelétrica de Belo Monte. São milhões em investimentos feitos por
pessoas físicas e jurídicas espalhadas pelo Brasil, gerando empregos em todos
os lugares, como em Paty do Alferes e Miguel Pereira, onde eu instalei uma
dessas geradoras.
Só a
contratação das usinas térmicas a gás, por exemplo, vai custar 52 bilhões de
reais a mais para todos os brasileiros, que vamos pagar esse valor em poucos
anos só para satisfazer a ânsia de alguns parlamentares de alguns grupos
empresariais internacionais que querem desovar o gás de xisto norte-americano
em usinas térmicas onde não tem gás no Brasil - é uma coisa de louco. Cada vez
mais precisamos entender essas dinâmicas globais.
Voltando
à mobilidade elétrica, o Brasil é o único país, dentre os G20, que não tem uma
política da mobilidade elétrica. O mundo saiu de 4% para 9% e, agora, foi para
15% de venda de veículos elétricos e o Brasil não tem uma política nacional,
pelo contrário, fechou 5 fábricas nos últimos anos e o governo finge que não é
problemas deles. A China, que é o maior mercado do mundo, saiu de 13% para 30% no
primeiro semestre de 2022 (esse percentual era projetado para 2030 e não 2022),
nos EUA foram 5%, a Europa foram 22%. No Brasil, o carro elétrico paga mais
imposto que o veículo a combustão.
Segundo
Adalberto, o Brasil tem tudo para ser um grande líder dessa revolução
energética, dessa nova economia, ele já é líder em biocombustíveis, em
hidrelétricas, em eólicas e temos tudo para ser líder nessa fonte que mais
cresce no mundo (fotovoltaica).
A China
domina o setor solar, seja na produção das células, dos módulos ou nas
instalações. Adalberto participou da instalação da primeira fábrica aqui no
Brasil, a BYD, ainda no governo Dilma. Ele explica que, "na época,
articulamos com o governo brasileiro uma proposta interessantíssima de uma
nacionalização progressiva (já era para o Brasil estar produzindo célula). O país
tem uma das maiores reservas de todos os minérios estratégicos dessa revolução
para produzir motores com ímãs permanentes, para produzir baterias de lítio.
Nós (Brasil) não só temos o lítio de alta qualidade em Minas Gerais, Ceará,
Goiás (que tem reservas com alto valor agregado), como temos grafeno, mas, hoje,
o Brasil só exporta os minérios. O Mercosul tem 45% do lítio mundial. O silício,
por exemplo, o Brasil exporta a 2 dólares o quilo e, depois, compra uma célula
solar a 30 dólares e um semicondutor a 2.000 dólares o quilo, então por que não
industrializar?", indagou Adalberto.
A China
domina essa tecnologia, e o Brasil é muito complementar aos interesses da China,
e, quando ela vê a possibilidade de uma parceria de longo prazo, topa e a gente
pode dar a estabilidade que ela precisa para se desenvolver. Se nós, porém, não
sabemos o que queremos da China, ela não vai se mexer, ficará comprando nossos
ativos. A China, do ponto de vista geopolítico, quer fortalecer o Brasil,
inclusive para fazer um contraponto aos EUA. O país veio para o Brasil para
construir ônibus elétricos e logo fez uma parceria com a Marcopolo e a Caio, desenvolvendo,
transferindo e licenciando tecnologia do ônibus elétrico.
Adalberto
Maluf trabalhou sete anos na Fundação Bill Clinton e, na Inglaterra, trabalhou
no governo de Boris Jonhson, por isso ele sabe que os ingleses e
norte-americanos não dão essa abertura para transferência de tecnologia,
tornando a parceria com a China mais estratégica para desenvolver a indústria
no país.