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Coreia do Sul

Nos anos 60, a Coreia do Sul tinha 1/3 da renda média do Brasil. Hoje, é o Brasil que tem 1/3 da renda média da Coreia do Sul.

Edição: 309
Data da Publicação: 11/09/2020

Alguns acham que a Coreia do Sul investiu em educação e abriu a economia e que o desenvolvimento veio naturalmente, como pela gravidade. Na verdade, o grande arquiteto do sucesso da Coreia do Sul foi o ex-presidente general Park Chung, que foi um ditador que usou o estado desenvolvimentista, com toda a força do estado coreano, para criar uma incrível iniciativa privada, robusta e aguerrida na Coreia do Sul. Como diz o economista Paulo Gala, "o desenvolvimento econômico vem da articulação, vem da soma do estado e do mercado, do estado e da iniciativa privada, nunca ou um ou outro".

O sucesso da Hyundai

A Hyundai é um caso icônico da Coreia. O Park Chung era amigo pessoal do Chung Ju-yung, fundador da empresa. Eles eram daqueles amigos que jantavam juntos todas as semanas, e essa relação ficou conhecida como capitalismo de compadres, que na Coreia criou grandes conglomerados tecnológicos que conquistaram o mundo.

O presidente Park deu à Hyundai reserva de mercado para carros e o monopólio de criação de plataformas. Só uma fábrica de carros da Hyundai, que fica em Ulsan, produz 3 milhões de carros por ano, que são exportados. A fábrica fica junto ao porto para facilitar a exportação.

A exigência em contrapartida

Se de um lado o presidente Park Chung ajudava as empresas com a criação de imensas reservas de mercado, proteção tarifária, subsídios para exportação e créditos subsidiados nos bancos públicos à indústria do país, por outro ele exigia que as empresas se comprometessem a uma forte eficiência tecnológica e um agressivo projeto de exportação de conquista de mercado mundial, aumento de exportação e sofisticação produtiva e tecnológica.

Quem não conseguia, ele cortava a proteção tarifária e os imensos subsídios, e assim por diante.

Indústria do aço

Park Chung era bastante pragmático, ele sabia que para se desenvolver precisava de uma poderosa indústria do aço, porque sem aço não dá para ter indústria naval e automobilística. Assim, ele fez das tripas coração para fazer uma indústria do aço e criou a estatal Posco, conseguindo negociar com o Japão a transferência tecnológica. O general Park conseguiu construir uma estatal super eficiente em tempo recorde, e hoje ela está entre as cinco maiores indústrias de aço do mundo.

Obsessão pela educação

O general tinha essa obsessão pela educação, ciência e tecnologia a serviço das empresas. Havia uma articulação entre educação, ciência e tecnologia e empresa, produto e mercado mundial. Hoje, a Coreia do Sul está na fronteira tecnológica de muitos produtos e opera de forma articulada com universidades e setor empresarial.

O resultado

O estado coreano soube conduzir e ajudar a iniciativa privada como ninguém, e soube criar gigantes mundiais como a Samsung, LG, Posco e Hyundai. A Coreia se juntou aos grandes modelos de sucesso na Ásia, como Taiwan, Japão e China, e no mundo, como EUA e Alemanha.

Educação sem a indústria

Na verdade, a educação sem indústria cria a fuga de cérebros - caso contrário, Cuba e Argentina seriam potências. É preciso que se tenha um setor produtivo que seja capaz de absorver essas pessoas e integrá-las ao mercado produtivo, que transforma esse capital humano em conhecimento produtivo no mercado mundial. Caso contrário, você terá um engenheiro motorista de Uber, como no Brasil.

Inocente

Quem abre a economia de maneira inocente, como o Brasil fez, leva os empresários a serem surrados pelas multinacionais que detêm know-how, domínio tecnológico, visto que elas estão na fronteira tecnológica do conhecimento e têm economia de escala. Por isso, elas mandam e desmandam em um estado fraco. Os empresários brasileiros foram surrados pelas multinacionais durante décadas. Por isso, o Brasil exporta 200 bilhões de dólares/ano e a Coreia do Sul cerca de 700 bilhões.