Voltar
As consequências de uma guerra insana
O ocidente arrisca tudo na guerra contra a Rússia. A Rússia vai ficar mais saudável sem McDonald's, Facebook, Netflix etc., mas o ocidente não tem como substituir o trigo, o paládio, o alumínio, o petróleo, os fertilizantes e o gás, diz George Barbosa.
Edição: 388
Data da Publicação: 11/03/2022
O ocidente arrisca tudo na guerra
contra a Rússia. A Rússia vai ficar mais saudável sem McDonald's, Facebook, Netflix etc., mas o ocidente não tem como
substituir o trigo, o paládio, o alumínio, o petróleo, os fertilizantes e o gás,
diz George Barbosa.
Minérios e
metais
A Rússia e a Ucrânia são grandes produtoras de minérios e
metais, especialmente a Rússia. Ela produz o paládio, que é um elemento químico
que transforma gases
tóxicos em atóxicos (conversor catalítico) e fundamental para se alcançar as
metas ambientais. O gás neon C4F6, que é fundamental para a produção de chips, tem
na Rússia e na Ucrânia os seus maiores exportadores.
Não se fabrica trem de pouso de aviões
sem o titânio. Quem tem o titânio? A Rússia. Isso vai impactar a Boeing, a
Airbus e a Rolls-Royce.
Só nesses três elementos, já impactamos a indústria automotiva
e a indústria aeronáutica em toda sua cadeia produtiva. É uma imensa gama de
produtos e existe uma interconexão nessas cadeias de suprimentos. Recompô-las não
é algo que se consegue fazer a curto prazo.
3º maior produtor
de petróleo e o 2º maior produtor de gás no mundo
A Rússia é o terceiro maior produtor de petróleo e o
segundo maior produtor de gás no mundo. Quem pode substituir todo esse petróleo
russo? O gás liquefeito de petróleo americano, é claro. Para transportar,
porém, esse gás, é necessário ter duas estações de conversão: uma quando sai do
porto para entrar nos navios-tanques e outra quando ele chega para ser
convertido novamente do estágio líquido para o gasoso, a fim de ser utilizado
na produção de energia elétrica, de calefação ou na indústria. Haverá, no
entanto, uma explosão de preços, como já está ocorrendo. Enquanto o gás russo é
vendido a 20 centavos de dólar, o gás americano chega a custar cinco vezes mais,
1 dólar o m³. Entretanto, nos últimos 3 dias, ele teve um aumento de 150%,
chegando a ser vendido a 2,50 dólares o m³.
Quando o preço do petróleo passa dos 100 dólares,
desencadeia um efeito inflacionário em todas as cadeias produtivas. Hoje o
barril do petróleo está cotado acima dos 130 dólares, podendo chegar a 180
dólares em poucas semanas. Os russos acreditam que, em dezembro, o valor chegará
a 300 dólares o barril. Não nos esqueçamos de que, em março de 2020, o barril de petróleo do tipo Brent custava 21,85 dólares.
No colo da
China
Quando o ocidente descola da Rússia, ele a coloca no colo
da China. A suspensão da compra do gás russo faz com que a China seja a grande
compradora, significando que a competitividade chinesa vai aumentar, uma vez
que ele custa na casa dos 20 centavos de dólar o m³, enquanto o gás americano
liquefeito de petróleo era 1 dólar o m³. Este valor já chegou a 2,50 dólares,
em função do preço do barril do petróleo ter passado dos 130 dólares.
Os
europeus vão querer pagar a conta?
Qual a consequência dos preços dos produtos europeus? A que
preço sairá o carro alemão? É a geopolítica influenciando e inflacionando toda
cadeia produtiva.
A vanguarda do limite do conhecimento na indústria
aeroespacial é dividida pela Rússia com os EUA. A Rússia tem grandes químicos e
grande físicos, o que atende às necessidades da China para liderar a 4ª
revolução industrial, sendo declarada como uma amizade sem limites, que,
em fevereiro, foi trazida aos olhos do mundo.
O caminho
natural era a Europa
O caminho natural da Rússia pós 1991 sempre foi a Europa,
mas as sanções econômicas desde a invasão da Crimeia, em 2004, vêm levando-a a
um só caminho - o da China. Se, até 2004, existia a hipótese de dois caminhos,
hoje ela não existe mais.
Richard Nixon e Henry Kissinger
George F. Kennan, que teve uma influência decisiva na política externa dos
Estados Unidos após o fim da Segunda Guerra Mundial, publicou um artigo na
imprensa americana, na década de 90, afirmando que, após a queda da União
Soviética, transformar a Rússia em um alvo era um equívoco e um erro fatídico,
um erro nefasto, por conta desse processo em curso. O presidente
norte-americano Richard Nixon, que governou os EUA até 1961, e seu secretário de
Estado, Henry Kissinger,
passaram seu governo tentando separar a Rússia da China - e conseguiram.
É o fim de uma era
Dentro
dessa linha, o secretário do governo russo propôs que a Rússia nacionalizasse
todas as fábricas estrangeiras que fecharam suas operações no país por causa do
conflito na Ucrânia. As empresas americanas estão se retirando da Rússia, mas
as empresas chinesas não veem a hora de receber o sinal verde para entrar em um
mercado de milhões e milhões de habitantes só para elas. Se a Apple vai embora,
a Xiaomi está chegando.
Para o jornalista
Fyodor Lukyanov, Editor-chefe de Rússia em Global Affairs, é o fim de uma era,
a página de cooperação com o ocidente foi virada. A situação anterior não vai
mais voltar. Moscou se posicionou para "se tornar um agente de mudanças
basilares para o mundo inteiro", disse o jornalista.
Se, por um lado, Biden
blefa, por outro, Putin joga
duro. Nixon deve estar se revirando no túmulo.