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O Brasil é o 9º país com a maior malha ferroviária do mundo. Isso parece muito bom, estamos no top 10 do mundo...
Mas há 100 anos temos a mesma malha ferroviária
Edição: 350
Data da Publicação: 18/06/2021
O Brasil é o 9º país com a maior
malha ferroviária do mundo. Isso parece muito bom, estamos no top 10 do
mundo... mas, será mesmo? E se olharmos quem ocupa a 10ª colocação? É a França.
Estranho, não? Afinal, o Brasil é o 5º país em extensão territorial do mundo e
a França é o 48º. O Brasil possui 1 km de ferrovia para cada 285 m² de
território, a França tem 1 km de ferrovia para cada 21 km².
O Brasil inicia sua história com
as ferrovias em 1828, por Dom Pedro II, quando leis foram criadas na tentativa
de incentivar o setor. Entretanto, os investidores não se arriscaram. Somente
deslancha em 1854, com investimentos do Barão do Mauá, então o Rio de Janeiro
teve sua linha inaugurada com 14 km de extensão. A partir daí, o crescimento da
malha ferroviária só aumentou, chegando a ter 29.000 km de extensão nos anos
1920. 100 anos depois, é exatamente assim que estamos até hoje.
Com a chegada de Juscelino
Kubitschek, o Brasil se voltou à construção de rodovias e as ferrovias foram
deixadas de lado. No final do governo Juscelino, ele ainda tenta dar um fôlego,
mas as ferrovias nunca mais foram prioridade nos governos seguintes. Ramais
foram fechados, desestruturando toda a malha ferroviária do país.
Ipea
De acordo com Fabiano
Pompermayer, diretor do Ipea, desde 2005 o governo brasileiro tenta reverter
esse cenário, mas vários fatores afetam essa decisão. O custo de implantação de
uma ferrovia pode chegar a ser 4 vezes mais caro, além da construção de uma
ferrovia ser demorada. Entretanto, segundo a consultoria da Ilos, empresa de
Consultoria e Logística, transportar 1.000 toneladas via trem custa R$ 43,00
por km, já nas rodovias esse valor sobe para R$ 259,00, ou seja, 6 vezes mais
caro. Outra queixa dos investidores é o curto prazo de concessão, que
atualmente é de 30 anos, sendo que o mínimo para ser atrativo é 60 anos.
Por que não temos um setor ferroviário
Para o transporte de passageiros,
Pompermayer garante que a densidade populacional do Brasil é muito baixa para
esse tipo de serviço. Quando comparamos com a China, que tem a extensão
territorial parecida com a do Brasil - mas o cenário é diferente, visto que a
China tem uma população 6 vezes maior do que a brasileira -, vemos que gera-se
uma demanda de transporte de pessoas e carga muito maior. Segundo Pompermayer,
as únicas regiões com demanda suficientes para tornar o serviço ferroviário viável
seriam o ABC paulista e o trajeto Rio - São Paulo.
Ferrovias x rodovias
Nesse aspecto, as ferrovias não
dependem de tanta manutenção e, se compararmos a quantidade de carga
transportada e seus valores, torna-se ridículo. Segundo a Abifer - Associação
Brasileira da Indústria Ferroviária, em uma distância de 1 km, um caminhão
consome 13 vezes mais energia que um trem para transportar uma tonelada de
frete. Uma ferrovia de apenas um par de trilhos equivale a uma estrada de 14
pistas paralelas.
Um comboio de 200 vagões
transporta tanto quanto 400 carretas rodoviárias com um único trem à frente. O
reservatório de diesel tem capacidade para 15.000 litros e pode percorrer mais
de 1.600 km sem precisar reabastecer. Em 2006, o Brasil transportava por
rodovia 65% de sua carga, enquanto pelas ferrovias eram 20%. Em 2012, as
rodovias transportavam 67% da carga e as ferrovias 18%. Hoje, as rodovias são
responsáveis por 75% do transporte de carga total brasileira.
O Brasil é o único país do mundo em
que se predomina o setor rodoviário, nenhum outro país do mundo escolheu ter
esse setor como principal. Se compararmos com os EUA, vemos que a malha
americana é 9 vezes maior do que a malha brasileira, com 293.000 km de
extensão. Países menores que o Brasil, como França, Alemanha e Índia, também
possuem redes mais desenvolvidas que as nossas. Em 2019, a Rússia possuía 81%
do transporte realizado por trens, o Canadá 46% e no Brasil míseros 15%.
Resumindo, não depende do fluxo
de pessoas, tamanho do país ou do seu grau de desenvolvimento, e sim de boas
gestões.