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Para ajudar a entender a China
Ela tem o maior sistema bancário do mundo e o segundo maior movimento de bolsa de valores do mundo (Shangai, Shenzhen e Hong Kong), só perde para os EUA. Os 5 maiores bancos do mundo são chineses e todos eles são públicos
Edição: 359
Data da Publicação: 20/08/2021
A China cresce cerca de 10% há 40
anos. Ela tem o maior sistema bancário do mundo e o segundo maior movimento de
bolsa de valores do mundo (Shangai, Shenzhen e Hong Kong), só perde para os
EUA. Os 5 maiores bancos do mundo são chineses e todos eles são públicos, além
de serem bancos de desenvolvimento que estão por trás dessa arrancada
espetacular do ponto de vista do desenvolvimento chinês.
A China sai de uma situação
complicada, há 40 anos, para a segunda maior economia do mundo ou até a
primeira se for medida pelo sistema de paridade e poder de compra, que é a
comparação do que se compra com 100 dólares em um país e no outro. A China é a maior
exportadora e a segunda maior importadora mundial, além de ter a maior produção
industrial e PIB do mundo também. Enfim, segundo a escritora Mariana Mazzucato,
autora do livro "O Estado empreendedor", a China é o verdadeiro Estado
empreendedor.
Hoje, o sistema financeiro da
China conta com mais de 30 bancos de desenvolvimento do tipo BNDES brasileiro,
bancos que financiam o desenvolvimento do país. Um exemplo que o economista
Elias Jabbour gosta de dar é o metrô de Shangai, que passou por uma expansão e
se transformou no maior metrô do mundo e 56% do financiamento desse metrô saiu
de uma moeda criada pelo Banco Municipal de Shangai, que é um banco voltado
para o desenvolvimento, ou seja, a China se utiliza da sua soberania monetária
para a criação de bens e serviços, e essa é uma das características latentes da
economia chinesa.
Na China, o socialismo vem se
reinventando com o financiamento de grandes empreendimentos no país, e um
exemplo disso é a usina hidrelétrica de Três Gargantas, a maior usina do mundo em termos de capacidade
instalada (22.500 MW - 98,8
terawatt-hora TWh). Essa foi uma obra de 26
bilhões de dólares em que a China criou uma corporação para o desenvolvimento da
bacia do rio Yangtze, que nada
mais é do que uma concessão do Estado chinês para que essa empresa possa ir ao
mercado de capitais e levantar dinheiro para a construção de todo
empreendimento, financiando grandes empreendimentos ao longo do vale do rio Yangtze. Com essa política, a China faz
existir um setor privado quantitativamente maior do que o Estado. A China se
transformou em um grande desafio para as ciências sociais.
A China não é um sistema
orientado pelo mercado, muito pelo contrário, é o mercado que é orientado pelo Estado.
Para o economista Joseph Schumpeter, "os problemas de interesse econômicos
fundamentais são entendidos como problemas de interesse públicos, e, portanto,
devem estar protegidos, controlados por uma autoridade pública, ou seja, pelo Estado".
Trata-se de um redesenho entre o
público e o privado, é isso que Deng Xiaoping e os dirigentes seguintes
fizeram. E fazendo isso, o Estado está constantemente criando e formatando
mercados. É muito diferente do que se faz aqui no Brasil, onde se tira o Estado
de cena alegando que nascem os mercados.
Essa é a característica do
socialismo schumpeteriano, que caracteriza a China, pois ocorre esse redesenho
contínuo, como por exemplo a propriedade privada que existe, deve existir e
deve ser estimulada, além de ser incrementada pela concorrência. Resumindo em
duas palavras: concorrência e regulação, que são duas faces da mesma moeda.
O Estado não vem asfixiar as
empresas, ele vem para abrir espaço para forjar o desenvolvimento e facilitar a
ação coletiva empresarial pública e privada.