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Um banqueiro no MST
Essa operação financeira chamada como FINAPOP para o MST foi de R$ 17 milhões de reais e beneficiou 13.000 pessoas em 7 cooperativas no Brasil.
Edição: 384
Data da Publicação: 11/02/2022
O economista, engenheiro
e escritor Eduardo Moreira foi criado na Urca, bairro da elite carioca. Sempre
estudou em colégio particular, formou-se na PUC, especializou-se na
Universidade da Califórnia, EUA, trabalhou no mercado financeiro, foi banqueiro
e chegou a apoiar o impedimento da presente Dilma em 2016.
Eduardo teve o desejo
de conhecer mais os acampamentos do MST- Movimento dos Sem-terra. Com o auxílio
do escritor e sociólogo Jesse Souza, foi apresentado ao economista João Pedro Stédile,
e acabou morando em vários acampamentos do MST. Foi ali que o choque de
realidade acordou o economista, chegando à conclusão de que não conhecia "nada".
A partir daquele momento, tornou-se um dos raros homens da elite brasileira a
criticar ferozmente a ciranda financeira do Brasil.
O MST dentro do mercado financeiro
Depois de conhecer o
MST por dentro, Eduardo viu a necessidade de se criar uma operação financeira que
viria a ser considerada histórica - um marco no Brasil. Foi assim que, um ano e
meio depois, ele colocou o MST no mercado financeiro.
Alguns desavisados
acharam que o economista estava desvirtuando o MST, mas, na verdade, foi o
contrário. O economista usou os instrumentos que conhecia, e que são existentes
no mercado financeiro até hoje, os colocando para funcionar a favor daqueles
que precisam.
FINAPOP - Financiamento Popular
Em uma ponta está quem
planta e precisa de financiamento, mas quem pega o dinheiro em banco vai pagar
taxas de 50, 100 ou 300% ao ano, segundo o economista. Na outra, está quem tem dinheiro
na caderneta de poupança, cuja remuneração é 2,2% ao ano. Eduardo Moreira criou
um modelo de negócio que aproximou essas duas pontas, ou seja, quem tinha algum
dinheiro (poupança) e quem queria ganhar mais. Essa foi a mágica que financiou
o MST. Assim foi criado o FINAPOP, de acordo com o qual o investidor que
colocou dinheiro nesse projeto e tinha uma rentabilidade de 2,2% na caderneta
de poupança passou a ter 5,5% ao ano dentro do FINAPOP.
Outras vantagens
A vantagem não foi
apenas a financeira, foi conceitual e ideológica também. Eduardo explica que, quando
um cliente tem uma aplicação em qualquer banco, não sabe onde o seu dinheiro
está sendo aplicado. Pode-se estar financiando uma fábrica de armas, fábricas
de agrotóxicos, uma mineradora, um frigorífico etc. No FINAPOP não, você está
financiando agricultura familiar livre de agrotóxicos, como os produtores de
mel, cacau e arroz orgânicos, sendo sempre alimentos saudáveis.
FINAPOP de 17 milhões de reais
Essa operação para o
MST foi de R$ 17 milhões de reais e beneficiou 13.000 pessoas em 7 cooperativas
no Brasil. O economista pergunta: "Qual operação, no Brasil, de 17 milhões de
reais beneficia 13.000 pessoas a uma taxa de juros que é a metade do que o país
paga aos bancos (hoje é de 11% ao ano)?". Nenhuma, responde ele. O menor risco
de crédito existente no Brasil é de quem tem a "maquininha" de imprimir
dinheiro. O país paga hoje aos bancos algo em torno de 11% ao ano para pagar em
cinco anos e financiar sua dívida.
Para Eduardo, o
sistema financeiro no Brasil é do tipo "bate carteira" das pessoas, uma vez
que, em uma ponta, está quem produz a riqueza e coloca a mão na massa, e, na
outra, quem tem riqueza em excesso, conseguiu poupar alguma coisa e tem um
dinheiro guardado. O sistema financeiro é o atravessador entre essas duas
realidades, emprestando o dinheiro de quem poupou para aquele que quer produzir
riqueza.
Os bancos não
produzem nada, absolutamente nada, sendo o apenas o intermediário. Essa riqueza
que passa a ser produzida precisa remunerar os três. Segundo o ex-banqueiro, o
banco sempre vai ganhar dinheiro, batendo a carteira de um, do outro ou dos
dois.
1,5 trilhão de reais - os números do
Brasil
Para se ter uma
ideia, o Brasil tem hoje 70 milhões de pequenos investidores que têm dinheiro
no Bradesco, no Itaú, no Santander, enfim, nos bancos. Essas pessoas juntas têm
1,5 trilhão de reais, dinheiro esse que "dão" para os bancos com uma
"procuração" dizendo: "façam o que quiserem com meu dinheiro". Imagina se elas
pudessem financiar a sua atividade comercial, o seu bairro etc. Poderiam estar
financiando cooperativas de pescadores, de catadores, as pequenas propriedades
rurais. Hoje 0,1% das pessoas têm 40% da riqueza que está nos bancos.
Os bancos
Não é preciso dizer
como os bancos ficaram revoltados com essa história e tentaram de todas as
formas boicotar a operação, mas não conseguiram. Essa tentativa se deve ao fato
de se ter mostrado que é possível esse tipo de movimentação usando os meios e
mecanismos existentes na legislação brasileira.
Em resumo, o FINAPOP
é um movimento de financiamento popular que foi criado para estimular as
pessoas a buscarem propósito em seus investimentos, tendo sido devidamente aprovado
pela CVM - Comissão de Valores Mobiliários, que é uma autarquia vinculada ao
Ministério da Economia do Brasil.