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Natural, com leite fresco e frutas orgânicas: conheça o sorvete saudável do MST
'Gelado do Campo' tem produção artesanal com matérias-primas que chegam direto dos assentamentos da Reforma Agrária
Edição: 461
Data da Publicação: 04/08/2023
Em um grande freezer, em
meio à cozinha profissional da "Escola Sorvete", é possível ver dezenas de
sacos de bananas congeladas. A fruta é apenas uma dentre as tantas
cultivadas de forma orgânica e utilizada no sorvete Gelado
do Campo. Cerca de 70% da
polpa de fruta e creme de leite fresco compõem o doce livre de conservantes e
flavorizantes, produzido com matérias-primas orgânicas dos assentamentos do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Por trás das receitas está o chef Francisco Sant'Ana, também criador da
Escola Sorvete. Ele conta que a ideia surgiu quando um colega precisava
descartar mangas produzidas pela agricultura familiar.
"Eu faço parte do 'banquetaço' que é um coletivo. Aí, um
dia, o pessoal disse: o povo tá com problema, tem uma tonelada de manga para apodrecer
- no meio da pandemia - aí eu falei: manda para mim, eu tenho a câmara
fria. E aí eu começo criando essa relação e falando com as pessoas, mas por que
vai apodrecer? Isso aqui é para chamar atenção das pessoas sobre economia
circular, sustentabilidade e cadeia produtiva. Por exemplo, a gente usa até
os copinhos de mandioca".
A iniciativa também é mais uma possibilidade de geração de renda e de
capacitação para cerca de 1.000 famílias, distribuídas em 15 assentamentos, em
diversas cidades do estado de São Paulo. Algumas regiões ainda têm um
processamento mínimo de preparar a polpa e outras regionais já mandam a
fruta in natura para
a Escola Sorvete.
"De
maior volume nós temos manga, temos abacate, abacaxi, acerola, uva e amora, mas
a gente tem projeção para vários outros sabores. Por exemplo, o morango
orgânico, a laranja orgânica. A gente processa a fruta aqui na escola
mesmo; todo o processo de higienização e depois essa polpa vai
diretamente para esse processamento", explica Simone Tomaz dos
Santos, que integra a direção do MST-SP.
"A gente
fornece outros produtos, por exemplo a COAPAR de Andradina (SP), que é a
nossa cooperativa de leite, então fornece o creme de leite, fornece o leite em
pó e fornece o leite em processamento de esterilização. Então a parceria é
muito mais ampla do que só as frutas mesmo",
complementa.
O
diálogo com a 'Escola Sorvete' já passa de quatro anos, pois Francisco já
adquiria produtos do MST. Além disso, a escola levava carrinhos de sorvete para
as atividades do Movimento. Com sabores variados, o lançamento da marca ocorreu
na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária ocorrida em maio deste ano na capital
paulista.
"O gelado do campo é um instrumento de luta, é uma bandeira para
você dizer para as pessoas sobre a alimentação. Sobre comida, não é só uma
sorveteria. É um discurso, é uma ferramenta de ação", ressalta
Francisco.
Na contramão da indústria de ultraprocessados, que domina boa parte do
mercado de sorvetes, a ideia também é promover um debate sobre a regularização
da produção no país. De acordo com Francisco, não há, hoje, a obrigatoriedade
do uso de frutas de verdade no processo de fabricação dos sorvetes no Brasil.
Que "sorvete" comemos hoje?
"O que as pessoas comem na rua hoje como o sorvete: água, gordura
vegetal e composto lácteo, que é o soro que se usa na alimentação animal muitas
vezes. É um produto de baixa qualidade dentro do contexto do lácteo, o soro,
amido, gordura vegetal de novo, corante e flavorizante em proporções que em nenhum
lugar do mundo se usa. Então o cara vende isso cancerígeno, produto de má
qualidade, com excesso de ar, com tudo que você quiser. Tem regra? Não",
afirma.
"Precisa existir no Brasil uma regulamentação para isso, né?
Para a gente ter minimamente um sorvete de qualidade que dialogue com várias
outras questões, que é o aumento da produção da demanda de frutas no mercado.
Isso vai incentivar a agricultura a produzir e a plantar, além da própria
questão de saúde mesmo, como problemas de obesidade", acrescenta
Simone.
O projeto prevê a formação na fabricação de sorvetes em todas as regiões
do estado de forma remota, fazendo, assim, com que as famílias assentadas e
organizadas nas associações e cooperativas fabriquem e distribuam os sorvetes
de forma descentralizada e com as frutas de cada região do país. Com isso a
produção deve crescer ainda mais.
Fonte Brasil de fato